Páscoa de 1963.
Foi só há …mais de 55 anos!
Dez jovens alunos pilotos da Força Aérea Portuguesa (P1/62) foram colocados em finais 1962 na “academia do T-6” em Espanha, na Base Aérea de Matacán, Salamanca, ao abrigo de um acordo para a formação de pilotos portugueses pelos Espanhóis, devido à sobrecarga de alunos Pilotos em Sintra nos primeiros anos da Guerra do Ultramar.
Salamanca vista do Rio Tormes
A belíssima Plaza Mayor de Salamanca
Ao fundo, em frente, a esplanada do Café "Las Torres"
O rio Tormes e Salamanca
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Nas férias da Páscoa de 1963, eu e o Hugo Mendol, resolvemos fazer uma mini volta à Espanha já fartos de Base Aérea e a precisar de ver o Mar.
Um T-6 Espanhol no Museo do Ar
de Quatrovientos, Madrid
A placa da Base Aérea de Matacán,
Salamanca, em 1963
Partimos de Salamanca rumo a Barcelona via Valladolid e Zaragoça, com 7.700 pesetas nos bolsos (de ambas as nossas calças…) no carro do Hugo, um “ovo” – “uma espécie de automóvel” de três rodas e uma única porta, à frente – que nunca nos deixou ficar mal.
Desde o primeiro dia. O da chegada do “ovo” a Salamanca, vindos de Lisboa.
Um Heinkel Trojan:
O Hugo e o seu belo carro |
Seis anos antes de um americano chegar à Lua entrámos nós em Salamanca a bordo do ovo...
7 horas da tarde, já noite.
A cidade em peso estava na rua, como é hábito.
7 horas da tarde, já noite.
A cidade em peso estava na rua, como é hábito.
E o “ovo” a passar muito lentamente… encostado a centenas de jovens universitários que nos ovacionavam aos gritos, copos na mão, a animação que se imagina.
Enfim, uma enoooorme algazarra!
O Hugo ao volante e eu de pé com a capota aberta, braços esticados a gesticular freneticamente para agradecer a apoteótica e inesperada “recepção”, tal qual o Neil Armstrong quando voltou da Lua, na 5ª Avenida, em Manhattan. Não exagero rigorosamente nada! Garanto!
O Hugo ao volante e eu de pé com a capota aberta, braços esticados a gesticular freneticamente para agradecer a apoteótica e inesperada “recepção”, tal qual o Neil Armstrong quando voltou da Lua, na 5ª Avenida, em Manhattan. Não exagero rigorosamente nada! Garanto!
E lá íamos nós avançando, eufóricos, muito lentamente, a caminho da mais bonita Plaza Mayor de Espanha, a navegar no meio daquele mar de gente jovem, muito divertida!
Voltando à história das férias da Páscoa, chegamos a Barcelona e temos o primeiro contacto com Gaudi e a Sagrada Família. Um espanto para estes dois Moçambicanos!
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A primeira preocupação foi onde dormir.
E de passeio nas Ramblas, quase ao fundo, do lado esquerdo, por baixo de um anúncio “Habitaciones”, havia uma porta manhosa. Entrámos e subimos ao 1º andar.
Toc toc toc e uma porta abre-se lentamente...
Á nossa frente, um homem sorridente, todo vestido de branco.
À sua volta paredes forradas a veludo vermelho.
A admiração era mútua...
E o diálogo foi breve.
- Quê quierem ustedes?...
- Um quarto…
- Solo por un ratito, no? (É só para um bocadinho, não é?)
E sorria ainda mais...
Desfeito o engano lá nos indicou o sítio que nos fazia realmente falta…
Em Barcelona, Pásqua de 1963, assistimos (num cinema acabado de estrear) à estreia do filme "West Side Story".
Ainda falado em Inglês, felizmente...
Dois dias depois, e se fossemos a Palma de Maiorca?
500 Pesetas a menos, para os dois bilhetes, embarcámos num DC-3 da Aviaco, para as Baleares. Gente fina é outra coisa!
Aquele ambiente cosmopolita que nos fazia vagamente lembrar Lourenço Marques, convidava a longas horas de esplanadas cheias de nórdicas e bifas (Inglesas, para os Moçambicanos). Belas vistas… belas vistas…
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Mas os “camareros” é que nem sempre colaboravam…
Num dia de mais modorra, um dito cujo simplesmente ignorava-nos, depois de repetidos gestos a chamá-lo.
E vai daí:
- Psst! Psst!
Finalmente… aí vem o “camarero”, mas com ar muito sisudo e de dedo em riste, a abanar, virado a nós.
Podia ser nosso Pai...
Podia ser nosso Pai...
- Oiga! Con Psst! Psst! se llaman a los perros!...
E foi-se…
As Pesetas no fim, metemo-nos num barco de volta a Barcelona, agora sem direito a beliche… sentados numa cadeira, toda a noite.
Partida para Valência e depois Madrid no “ovo”, óbviamente…
A caminho de Madrid |
Domingo de Páscoa de 1963 em Madrid!
Um dia glorioso, cheio de Sol, que nunca mais esqueci e que celebro todos os anos desde então a pensar nesse dia.
Parecia que tínhamos uma família de um milhão de irmãos e primos.
Toda a gente falava com toda a gente na rua…
Os nossos 21 anos e o nosso deslumbramento ajudaram também muito...
Parecia que tínhamos uma família de um milhão de irmãos e primos.
Toda a gente falava com toda a gente na rua…
Os nossos 21 anos e o nosso deslumbramento ajudaram também muito...
Madrid |
No dia seguinte, 2ª Feira, tínhamos de estar na Base. E as pesetas reduzidas a 7… só para o caso de ser preciso telefonar.
Foi uma difícil retirada, muito apressada, para a nossa base aérea.
Chegámos a Salamanca uma semana depois da partida.
Com 7 Pesetas ainda nos bolsos, e uma grande lição:
- Psst!, Psst! nunca mais!…
Espanha! Sempre!
Barcelona
Gaudi e a Sagrada Família
Madrid
A Catedral de Palma de Maiorca
(Actualizada em 14 de Julho de 2018)
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