Capítulos

Pedaços de Vida - A Minha Máquina de Escrever


Fiel companheira de uma vida...




 

Até ao advento dos computadores…



































 










Acompanha-me desde os meus vinte anos quando uma tarde em Lourenço Marques saí da Minerva Central, (uma loja tão eficiente como os Staples em Nova Iorque, verdade!) com ela debaixo do braço.




O estágio de oito meses de Topografia que fiz, deu-me a ganhar o suficiente para comprar alguns luxos e muitos livros.

Entre outras pequenas coisas comprei, não sei o que é que me deu, um polo Lacoste daqueles mesmo a sério. Sem intervenção de chineses ou ciganos. Durou-me, por isso mesmo, uma vida.

Também nunca, nunca, juro, tinha andado de mota e resolvi comprar uma Lambreta, num stand na Baixa de Lourenço Marques.

Para chegar a casa nesse primeiro dia a conduzir tal coisa, morava eu na parte alta da cidade, no Bairro da Polana, a maquineta caiu-me em todos os cruzamentos em que o polícia sinaleiro não me deixava avançar por causa do tráfego.

A Lambreta ia a baixo e o movimento com o pé para a pôr a trabalhar de novo, acabava com nós os dois no asfalto.

Poucos dias depois fui passar um fim-de-semana à praia do Bilene já tão capaz de andar nela como o Valentino Rossi em Moto GP..

200km de cabelos ao vento, para cada lado.

Duas noites a dormir na areia, encostado a um barco naquela praia de sonho.

O regresso a Lourenço Marques, a um Domingo já pela noitinha.

O iogurte e a torrada no café da Associação dos Criadores de Gado.

O Polícia que me levou logo a seguir para a prisão porque eu não tinha carta...

O julgamento no dia seguinte. E a condenação óbvia...


Enfim, a história previsível de quem vivia entregue só a si desde os 17 anos.

A Lambreta teve um fim feliz. Vendi-a ao polícia que me prendeu.

Tudo isto a propósito da Minha Máquina de Escrever Olympia modelo Splendid 99 cuja garantia expirou há mais de 50 anos.



Com ela compilei muitas notas de matéria dada nos vários cursos da Força Aérea e mais tarde da TAP.

Acompanhou-me na Guerra do Ultramar.

Mas não era só um instrumento “militar” ou de Linha Aérea.

Também soube imiscuir-se, de mansinho, em devaneios literários.

Alguns muito sofridos, coitada.

Outros de qualidade inenarrável, sem nenhuma responsabilidade sua. Mas sem queixumes.

Foi uma boa companheira...

Repousa hoje num armário protegida de todos e quaisquer contratempos, como merece qualquer reformado que trabalhou toda a vida.

Como exemplo dos seus préstimos no campo dos meus escapes de ânimo, arroubos contra o cinzentismo, delírios frementes, aqui vos deixo extractos de folhas digitalizadas dos originais que escrevi na Minha Máquina de Escrever

Numa noite de alguma chuva em Nova Freixo, escrevi isto:




 E a filosofar, com vontade de Chegar:






Agora, a Minha Máquina de Escrever, depois de apanhar ar puro e seco, depois de limpa das humidades que a podem danificar, reconfortada, pode voltar ao seu descanço merecido.

Até ao dia em que as saudades, o seu chamamento, me farão ter que voltar a olhar para ela, olhos nos olhos, com uma flanela amarela a limpar aquela bela chapa laranja.






(Actualizada em 17 de Novembro de 2021)









Pedaços de Vida - O Arquitecto que se perdeu a grande altitude


Ópera de Sidnei, Arquitecto: Jørn Utzon                              



Não preciso de fazer nenhum balanço especial à minha vida

para saber que a Arquitectura faz parte de mim.




Esta é uma história de vida.

 


Entre dois amores. Uma bigamia de paixões.


Mas amei, sempre com paixão e profissionalismo, o que fui fazendo.


- Voar...


Consola-me saber que fui um piloto mais bem-sucedido do que muitos.

Querem só um exemplo?


- Ícaro.



Voei muito mais alto e muito melhor do que ele, tenho a certeza, modéstia à parte.

Voei sozinho pela primeira vez com 16 anos.

Em Quelimane, Moçambique, no Aero Clube da Zambézia.

O mais novo piloto Moçambicano até aí…




Foto do meu filho João Pedro      












Na Força Aérea, uma Grande Escola à qual estarei Sempre ligado, fiz o meu curso de Harvard T6 em Salamanca. Oito gloriosos meses que me deram as melhores bases técnicas para o todo da minha carreira aeronáutica nessa cidade tão carregada de história.

Oito meses que me deixaram a amar Espanha.

E sou, afinal, piloto do Exército del Aire!











Como Piloto Militar na Força Aérea Portuguesa voei depois durante
dois anos um dos mais carismáticos aviões da História da Aviação.

O F-86F. O mítico avião da Guerra da Coreia.







Nele bati a Barreira do Som na Base Aérea Nº5, em Monte Real, Leiria.

Sou, pois, um Mach Buster, desde 1965. (Ou seja: aqueles que ultrapassaram Mach 1.0, que é o valor da velocidade do som).

A Base Aérea Nº5 continua a ser a nossa base mais importante, hoje casa dos F-16 cujos pilotos invejo muito a sério, mesmo. Confesso sem vergonha nenhuma...



Como voluntário voei durante dois anos em zona de guerra, no Norte de Moçambique, na Guerra do Ultramar.









Como Piloto de linha Aérea voei, na TAP, uma das mais Seguras companhias de Aviação do Mundo, um dos mais fantásticos aviões civis de sempre, o Boeing 747.

Nele dei o meu contributo na Ponte Aérea de 1975 que salvou a vida a tantos Portugueses desprezados pelos seus.





Muitos destes que os desprezaram tomaram as rédeas deste país
...e haveremos de o pagar até à Eternidade!




Como Comandante voei o Boeing 737, o Boeing 727 e também o Airbus A310.




No Boeing 727 fui Instrutor de Simulador e Verificador em Linha.

Voei como Co-Piloto na PIA (no Paquistão) e como Comandante na inesquecível portuguesa Air Atlantis, na Sobelair (Belga), para a British Midlands (Inglesa) nas Aerolíneas Argentinas onde dei o meu modesto contributo para a introdução do Airbus A310 na Companhia.

Percebem agora porque é que eu acho que Ícaro não teve melhor vida…

No entanto a Arquitectura sempre fez parte de mim.

Mas a vida é o que é. Um pequeno desvio no meio de muitas circunstâncias adversas e tudo se embrulha.


Os meus netos que se cuidem…



Eu explico.

O facto de ter 20 anos, viver a 1600km da família, sozinho numa grande e bela cidade, Lourenço Marques e…

1961. O terrorismo começou!

Mas, como comecei por dizer, a Arquitectura faz parte de mim.

Faço “bonecos” desde os meus 16, 17 anos.

E não só.



    Liceu Salazar - Cortesia do Blogue Delagoabay







No Liceu Salazar em Lourenço Marques no meu 6º ano (6º ano C Nº 17 - repetente) entusiasmado com o projecto e construção de Brasília, cidade inaugurada em 21 de abril de 1960 pelo então presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, escrevi para o jornal do Liceu um artigo sobre o assunto, que foi publicado.





Aqui podem ler o manuscrito que ainda conservo.


(Recordo, aos mais novos, que nessa altura não havia Televisão nem computadores nem Internet e muito menos o Google ou a Wikipédia…)


Era um excelente aluno a Desenho e o preferido do Professor de Matemática que fazia umas perguntas estranhas e gostava das respostas que eu normalmente dava.

Nessa altura era aluno externo dos Maristas, Colégio Marista Pio XII.



Traseiras do Colégio em Lourenço Marques - Cortesia do Facebook do Colégio




Tinha o melhor de três mundos:
  •  Um bom colégio para dormir, comer e fazer desporto mas em regime de externato.
  • Podia assim frequentar o Liceu Salazar.
  • E podia também fazer gazeta às aulas, á vontade…

Cortesia do Blogue Delagoabay   













Foi por essa altura que uns ilustres desconhecidos ornamentaram a estátua de Salazar que embelezava o grande pátio de entrada do liceu com o seu nome.

A cabeça da estátua de Salazar
foi ornamentada com um pneu velho.

Nas lonas, mas em muito bom estado de funcionamento.

Estranho funcionamento...

Em vez da câmara-de-ar tinha uns quantos explosivos!





  Cortesia do Blogue Malomil


















E o senhor ficou decapitado….










 Até teve direito a dedicatória...








Premonitório, não?

Quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga, diz o povo.

E assim, pouco mais de uma década depois, o senhor caiu da cadeira e foi-se.

Mas o corpo, agora, somos nós e pagamos a falta de tento de tantos a quem, com tanta falta de juízo temos dado o nosso aval…



Mas voltemos, pela terceira vez, à Arquitectura...

 


Sempre gostei de fazer “bonecos”, sem grande habilidade para desenho artístico ou capacidade de reproduzir qualquer coisa em papel.

E desde muito cedo comecei a expressar a vontade de inovar na forma como se poderia viver melhor habitando “coisas” menos básicas, que não fossem meras quatro paredes e um telhado.



 

     




Esta casa, por exemplo, concebida há 54 anos em LM (Lourenço Marques) em 1959, tinha eu 18 anos e frequentava ainda o 6º ano do Liceu.

Imaginem-na virada para uma praia com coqueiros à volta e umas caipirinhas… não se estaria mal.





E este Palácio Chinês, provável influência da grande comunidade chinesa já importante na altura na cidade?






Mas também me meti no ramo automóvel, com este desportivo que teria feito as delícias de Detroit, nunca se sabe…









Para os aviões que já não voava porque não quis sobrecarregar o magro ordenado do meu Pai (embora a Mocidade Portuguesa ajudasse) arranjei um belo abrigo. Vejam só.









Ainda não havia o “Colombo” nem o “Vasco da Gama”, mas havia este meu projecto...






Grande admirador de bom cinema que sempre fui (até tive amigos dirigentes do Cine Clube de LM presos pela Pide tendo um deles fugido num avião militar com um piloto nosso, desertor, para a Tanzânia) também quis proporcionar um excelente local para passar fitas.

Naqueles tempos os cinemas eram enormes edifícios e o meu reproduzia a tendência, também em 1959.






Mas não me cingi só ao exterior. O “lá dentro” também existia.







Para ir à matinée chegava-se lá e via-se isto.






E á noite? Era assim…






Hoje, Comandante reformado e consolado com o passado profissional e toda a sua envolvência, acho que se tivesse sido Arquitecto poderia estar ainda o fazer o que mais gosto.


- A fazer “bonecos”


Mas a vida é o que é…



Divirtam-se e buon pranzo como diz o Papa Francisco no fim do Angelus.



(Ultima actualização em 13 de Novembro de 2014)










Publicações - A inauguração de Brasília

Reprodução do manuscrito de 1960 que elaborei sobre a concepção da nova capital do Brasil num artigo que foi publicado no Jornal do Liceu Salazar, Lourenço Marques (hoje Maputo) ou da Mocidade Portuguesa local, não estou seguro onde.












Publicações - Parabéns Quelimane



20 de Setembro...


Hoje é o dia da Cidade de Quelimane.
Há mais de 70 anos foi elevada a Cidade.
No dia 20 de Setembro de 1942.

Tinha eu 1 ano e pouco de vida.




Foto recente de Quelimane




Quelimane foi decisiva para a descoberta do Caminho Marítimo para a Índia. Foi aqui que Vasco da Gama, em 1498, teve notícias do muito Comércio que já naquela altura por ali se fazia com a Índia.

Foi aqui que iniciou as diligências para contratar um Piloto que o guiasse até á Índia aproveitando as Monções.




A cidade no início do Sec XX


Foi aqui que me apaixonei pela primeira vez.

Exactamente no dia 5 de Julho de 1953.

No dia em que fiz 12 anos. No dia em que desembarquei naquele cais do Rio a que Vasco da Gama chamou "dos Bons Sinais", que dá o nome a este Blogue.

Vinha de um colégio interno (Instituto Portugal) onde estava há dois anos. Fiz a viagem de barco desde Lourenço Marques num navio costeiro, sozinho, numa viagem de sete dias.



Lurio



Dois anos antes o meu Pai metera-me neste mesmo barco ou noutro semelhante não me lembro para iniciar a 5ª classe naquele Colégio por não haver mais que a 4ª classe em Pebane onde morávamos na altura e onde o meu irmão mais novo nasceu.

Tinha eu portanto 10 anos…


A cidade e o Rio dos Bons Sinais



Depois do almoço após o barco zarpar de Quelimane para Lourenço Marques, os seis passageiros que eu nunca tinha visto, já que não conhecia ninguém a bordo, reuniram-se no bar para o café e o bagaço da ordem.

Conversa puxa conversa eu a um canto muito calado ouvi um dos meus companheiros de viagem dizer bem alto:

- Logo vamos ao pacote ao puto.

Nos meus primeiros 10 anos de vida sempre a viver no mato sem miúdos brancos com quem brincar (os meninos pretos eram os meus únicos e melhores amigos) nunca tinha tido medo de nada a não ser de uma viagem de almadia (piroga feita de tronco de árvore escavado) com os meus pais numa travessia em dia de temporal e de uma cobra, na Maganja da Costa, que às tantas apareceu do nada entre as cadeiras em que eu e a minha irmã mais velha, a Lourdes, nos sentávamos ela a ler-me o Cavaleiro Andante.



Foto do porto de Quelimane muito antiga


Aquela frase dita num bar de um pequeno barco costeiro no meio do Oceano Índico entre gente desconhecida eu com 10 anos sozinho sem família nem ninguém a quem pedir ajuda, levou-me a lutar contra o que me pareceu, vagamente, ser uma ameaça.

Nem eu sabia o que em gíria “pacote” queria dizer.

Nem eu sabia que havia sexo e muito menos pedofilia.

Mas o instinto de sobrevivência levou-me a sair calmamente do bar e a desaparecer naquele pequeno barco, ilha minúscula no grande Oceano Índico.

Resultou.

Era noite cerrada quando finalmente o Comandante do naviozinho me encontrou escondido debaixo de um oleado dentro de uma baleeira.

Acalmaram-me e disseram-me que estavam a brincar comigo, brincadeiras parvas já se vê.

O resto da viagem decorreu sem mais incidentes.

Comecei por dizer que Quelimane foi onde me apaixonei pela primeira vez. Paixão que durou uns bons 8 anos. Pudera a Bela era a miúda mais gira de Quelimane por quem todos se apaixonavam quando lá chegavam e era minha vizinha e irmã de um dos meus3 ou 5 grandes amigos, até hoje.

Apaixonei-me depois variadíssimas vezes mas a última... é que foi fatal! Vivemos há 26 anos juntos.

Mas Quelimane foi muito mais que uma paixão.

Foi onde aprendi a conviver com gentes muito diferentes de mim sem isso causar conflito algum.

Perfeita analogia com o que aconteceu ao Vasco da Gama o que me enche o ego mas com pouca validade como se perceberá…

No Colégio de Freiras onde estudei, o Colégio do Sagrado Coração de Maria porque não havia Liceu, contrariamente ao que se passava em Portugal Continental, na Colónia de Moçambique (na altura ainda não era uma Província) todas as salas de aula tinham rapazes e raparigas, cristãos e nessa altura eu Comungava todos os dias, protestantes, muçulmanos com o seu Ramadão que respeitávamos muito por o cumprirem à risca e simultaneamente todas as obrigações académicas incluindo desporto, hindus, mestiços, goeses, pretos e brancos tudo à molhada e com fé em vários deuses..



O Colégio novo que eu já não conheci mas vi em obras





A Igreja de Nª Srª do Livramento, hoje em ruinas


O Mundo para mim ainda é assim. Uma grande panela onde cabe tudo e todos têm direito ao mesmo lume aos mesmos temperos e acabam cozinhados todos ao mesmo tempo.

Uns têm melhor sabor que outros.

Nem sempre se gosta de tudo.

Mas há sempre quem goste. É normal assim.

Em Quelimane aprendi a andar a sério de bicicleta

Pratiquei muito também o fascinante desporto de “roubar” almadias “perdidas” e então remar ao longo da marginal e pelos mocurros acima que são pequenos riachos, na maré enchente e depois descê-los a toda a velocidade na vazante. Mas depois deixava-as onde as tinha tirado.

Aprendi a desobedecer e a ser penalizado da maneira que mais dói.

Um fim-de-semana em que estava proibido de ir ao cinema se calhar por más notas pisguei-me a meio da tarde como se fosse dar uma voltinha de bicicleta.

Mas o meu Pai, Administrador de Quelimane e portanto Comandante da Polícia é que desconfiava onde é que eu me tinha metido entretido a desobedecer-lhe.



Era neste edifício, a Camara Municipal, que o meu Pai trabalhava


A meio do filme tudo às escuras e em silêncio profundo as pipocas eram ali desconhecidas ouve-se na coxia uma frase em voz bem alta e muito afirmativa:

- Minino! Sr Administrador está chamar!

Era mesmo um Cipaio impecavelmente fardado de cofió e tudo. (Polícia negro com o característico barrete castanho) de dedo em riste a apontar para o meio da fila exactamente onde eu estava sentado, já todo encolhido.

Felizmente o cinema só levava 200 pessoas e TODOS sabiam quem eu era…

Em Quelimane aprendi a nadar bem na Piscina Municipal construída em 1937 com o treinador do Campeão Nacional de bruços João Godinho meu colega no Colégio. O Treinador chamava-se Passeti.



A legenda desta foto diz: Clarinha Soares de Albergaria Ferreira Martins, tia da Clarinha Múrias, duas amigas e a sua mãe Petitinha Soares de Albergaria Brandão de Mello. Na piscina de Quelimane, 1949.



Em Quelimane comecei a tirar a carta de condução teria 16 anos com um Instrutor que às tantas adormecia e eu andava por ali fora sozinho no meio da cidade a embalá-lo docemente não fosse ele acordar e lá se ia o gozo.

Foi em Quelimane que a minha vida sem eu o saber tomou o rumo que me havia de levar até à Reforma:

- Aprendi a voar num Piper Cub do Aero Clube da Zambézia com o Instrutor Câmara e fui largado (voei sozinho) com 16 anos e 8 horas de voo. Com subsídio da Mocidade Portuguesa pois claro.



Era mais ou menos assim...


Foi em Quelimane que fiz outro dos 2 ou 3 ou 4 ou 5 grandes amigos para a vida. O Pedro era filho do Governador Civil, Dr Gouveia e Melo, chefe do meu Pai.

Para que se saiba este senhor é tio de um português Ilustre, bem conhecido na Pandemia de 2020. O Vice-Almirante Gouveia e Melo, Coordenador da Task Force da Vacinação contra o Covid 19, é filho do irmão mais novo deste senhor que era Avogado em Quelimane.

O Vice-Almirante Gouveia e Melo nasceu em Quelimane.

Nós os dois, o Pedro e eu, aprendemos a hipnotizar com o curso do Sr C. H Ciernan que encontrámos na Biblioteca Municipal da cidade.

Comprei, anos depois, os livrinhos e ainda os tenho.

Era o Joel a nossa “vítima”. Um colega do Colégio. Com ele conseguimos ler o pensamento das pessoas e o meu amigo Pedro sabia sempre quando devia ir para casa porque o Joel o avisava dos passos do Pai não fosse o “velho” chegar primeiro e ele não estar lá como devia. Nunca falhou. Mas a Madre Albert soube das nossas actividades "paranormais" e fez-nos jurar que nunca mais o fazíamos e por ali nos ficámos.



O Palácio do Governador, a casa do Pai do Pedro






Reunião de Administradores em Quelimane. O Governador Dr. Gouveia e Melo está na frente de casaco branco e o meu Pai logo atrás dele por sobre o ombro esquerdo.



Também foi em Quelimane que aprendi que as diferenças entre as pessoas são para serem respeitadas até ao último grau. Não me refiro a uns seres mais que os outros mas a sermos todos diferentes.

Um fim de tarde apareceu um Cipaio aflito em nossa casa e pediu ajuda pessoal ao meu Pai, na qualidade de Comandante da Polícia:

- Sr. Administrador! Tem um branco bêbado na Mesquita sentado na cadeira do Profeta a dizer:

- Agora aaaadorem-me!

O meu Pai quis ir prendê-lo, pessoalmente, para dar o exemplo.

Foi em Quelimane que comecei a ver o que era política.

Nas eleições em que o Gen Humberto Delgado participou os comícios eleitorais eram em recintos fechados com a devida autorização obrigatória.

Ora a União Nacional do Estado Novo do Salazar resolveu fazer um comício em Quelimane e nem se preocupou com autorizações nenhumas.

Foi o Pai do Pedro, o Governador Civil, que convenceu o meu Pai a não "mandar prender aqueles gajos todos". Era o que lhe apetecia fazer…

Já agora digo-vos que embora 2/3 dos zambezianos tenham votado em Umberto Delgado, foi Américo Tomás quem, oficialmente, ganhou. Coisas do Estado Novo...

Quando saí de Quelimane após o 5º ano porque não havia 6º no Colégio não sabia que nunca mais viveria naquela terra tão amada.

Mas não faz mal.

Eu nunca saí mesmo de Quelimane…

Parabéns Quelimane!!!
Parabéns Quelimanenses!
Parabéns Chuabos!

Mas não fui só eu quem se apaixonou por aquela terra.



Vejam o que um  Vice - Almirante disse de Quelimane em 2021


«Quelimane - a minha Terra, uma inspiração. 

Quando olho para o caminho que percorri, agradeço a Deus ter nascido nesta pequena e pacata cidade, na foz do rio dos Bons Sinais, em Moçambique, onde as circunstâncias me proporcionaram uma infância verdadeiramente feliz e equilibrada, entre a natureza, muito presente no dia a dia, seres humanos de diferentes raças e credos, numa comunidade vibrante e cheia de energia, num mundo pequeno inserido num oásis num espaço muito mais amplo, africano.  Foi aí também que senti o sopro dos ventos de mudança que afetaram todas as nossas vidas futuras, a Revolução, o princípio da descolonização, o fim do último império ocidental.  

Vivia na marginal, a 50 metros da Piscina Municipal, com o rio dos Bons Sinais pela frente e a Igreja de Nossa Senhora do Livramento ao lado. 

Os meus pais educaram-me com princípios e valores cristãos, respeitador, autoconfiante, mas sem orgulhos  deslocados ou sentimento de qualquer forma de superioridade, com carinho quanto bastasse, mas sem proteção especial. Conferiram com isso “asas” à minha resiliência e adaptabilidade, essenciais no meu futuro percurso. 

Lembro-me de viver entre a Piscina, o Clube Náutico, a Escola Vasco da Gama, o Colégio Paulo VI e, depois, o Liceu João Azevedo Coutinho, já nos arredores da cidade. 

Guardo memórias de cheiros e sons do rio dos Bons Sinais, onde nadei, brinquei e velejei, dos amigos da marginal, dos Sedeval Martins, meus amigos de infância e adolescência, da Capitania do Porto e da sua rampa,  onde se picava a ferrugem dos cascos metálicos das embarcações, dos passeios e das caçadas nas savanas africanas, das praias, em especial da fabulosa praia de Zalala. 

Guardo também memórias do meu irmão, já falecido, o Manuel, maior do que a vida, um verdadeiro enfant terrible, que deixava o meu pai com “os nervos em franja,” mas que tinha “ um coração do tamanho do mundo ” e que se tornou uma personagem na cidade. 

Lembro-me que Quelimane na sua pequenez era estranhamente cosmopolita, uma junção de europeus, africanos, indianos e alguns chineses, com duas igrejas e uma mesquita, parte natural da comunidade. 

Regressado de África em 1975, fui para o Brasil, onde passei da pacata Quelimane, com uma pequena paragem em Viseu, para a gigantesca metrópole de São Paulo. Curiosamente, não me senti amedrontado, algo de selvagem em mim, nutrido em África, me preparou para  esse choque e para muitos outros seguintes. 

De volta a Portugal, entrei na Escola Naval em 1979. Curiosamente, e por feliz coincidência, aportámos no mesmo curso três quelimanenses: eu, o João Azevedo e o José Costa e Castro, este último meu companheiro nos submarinos durante muitos anos. 

Quiseram as circunstâncias da vida que o mar, na sua dimensão, a solidão e  a torça dos elementos me fizessem sentir tantas vezes a minha terra natal, na imensidão das suas planícies e savanas, nas tempestades tropicais e na força indomada da natureza que nos  fazia sentir pequeninos, indefesos e com um verdadeiro sabor da fragilidade humana. Nestas ocasiões, os cheiros, os sons e os esplendor do pôr e do nascer do sol prendiam-me num limbo transcendente de quase felicidade. 

Após uma longa carreira na Marinha de Guerra Portuguesa, grande parte realizada em submarinos, as circunstâncias vieram tornar-me o coordenador do processo de vacinação contra a covid-19. 

O processo de vacinação contra a Covid-19 veio colocar Portugal numa posição cimeira e singular, tendo sido o primeiro país do Mundo a ultrapassar a marca de 85% de vacinação completa.

Este sucesso não é meu, mas de toda uma comunidade que se soube unir em torno de uma ideia simples: combater um vírus mortal e resgatar o controlo das nossas vidas. Isto implicou um esforço coletivo gigantesco, em que reagimos, de forma excecional, enquanto comunidade unida por um desígnio. Estou em crer que vencemos a primeira batalha, mas que a “guerra” continua e que nada está ainda garantido a longo prazo. E é sobre isto que gostaria de escrever algumas poucas palavras e através delas lembrar Quelimane. 

Enquanto privilegiado que fui,  pela posição e pela sorte, não posso esquecer de que tínhamos uma relação muito desigual para com uma grande comunidade de africanos à nossa volta. Durante a crise e a entrada da Troika para Portugal, voltei a pensar em Quelimane, interiorizando melhor o que se sente quando nos acusam de indolentes, quando rebaixam a nossa estima e nos roubam a esperança. Por isso, Quelimane não é para mim uma saudade, mas uma permanente inspiração. 

O mundo ocidental tem de fazer a sua “guerra” de vacinar as partes menos desenvolvidas do planeta Terra; vivemos todas na mesma nave que circula o Sol, uma nave limitada e interconectada pela globalização. Na mesma Quelimane onde nascemos, estão seres desprotegidos, sem acesso a tantas coisas que consideramos banais. A essa e outras cidades, devemos fazer chegar as vacinas contra a covid-19, devemos lutar por isso enquanto privilegiados que  somos. 

Assim termino a minha história sobre Quelimane, dizendo que Quelimane me gravou no coração a certeza de que não há seres humanos menos importantes ou descartáveis nem lugares que possam ser esquecidos e que não mais deixarei que a minha consciência descanse e que seja “envenenada” por uma ética e moral relativa, focada só num pequeno mundo próximo. 


Henrique Eduardo Passaláqua de Gouveia e Melo,»


Vice - Almirante, Coordenador da Task Force contra a Covid 19 em 2021.

 







(Ultima actualização em 26 de Fevereiro de 2022)










 

Na Guerra do Ultramar - Francisco Daniel Roxo


























Uma história sobre um dos
meus Heróis de sempre.


O lendário "Comandante Roxo"







Com a ajuda de inúmeros documentos
que se podem encontrar na Internet,
vão encontrar aqui os seguintes assuntos:

-Cronologia
-Genealogia
-Em Moçambique
-Na África do Sul, Namíbia e Angola

-In Memoriam
-Links consultados






Cronologia




 



Nascimento:
1 de Fevereiro de 1933 em Trás-os-Montes, Mogadouro, Bragança.
Morte aos 43 anos:
23 de Agosto de 1976 nas margens do rio Okavango, Angola








Genealogia

 

 

              Foto de família tirada entre 1938/1940 em Mogadouro



Na fila de trás:
da esq p a dta: Daniel, Alípio (irmão), Guarda Fiscal Francisco Roxo (o Pai de Daniel) Silvano (irmão).

Na fila da frente:
de esq p a dta: Laura (uma prima) Tia Elvira (mãe de Laura) Ana Clemente ( madrasta) Desconhecida e Alfredo.

Pai: Francisco da Ressureição Roxo
Mãe: Justina de Jesus Vilares
Madrasta: Ana Clemente
Irmãos: Silvano do Nascimento Roxo / Alípio José

Casado com uma Moçambicana.
Tinha seis filhos.


_________________________________________________________________


Francisco Daniel Roxo


O “Diabo Branco do Niassa”, o “Diabo Branco de Moçambique”, o “Terror dos Turras”, o “Fantasma da Floresta”, o “Barba Encarnada”



Assim era conhecido logo no início do terrorismo em Moçambique e durante os dez anos seguidos em que o combateu.

Um homem simples, que nunca integrou as Forças Armadas Portuguesas, com um enorme carisma, de convívio fácil, falando baixo e pausadamente.

A 1ª vez que o vi, sem saber quem ele era, pareceu-me um missionário franciscano. Pequena estatura, franzino, falas mansas, uma barbicha desgrenhada, vestido a condizer…

Como combatente civil nem sempre foi muito bem visto pelas nossas chefias militares. Era, no entanto, inultrapassável em combate.

Usando toda a sua muita experiência e a empatia que tinha com as gentes de Moçambique, não guerrilheiros, todos lhe reconheciam, mesmo as altas patentes militares, a extraordinária eficiência das sua tácticas furtivas no mato deslocando-se normalmente sem viatura alguma de apoio , sem nenhuma ajuda a não ser a dos seus fieis combatentes, a quem defendia até com risco da própria vida.


Francisco Daniel Roxo foi um homem que tive o privilégio de conhecer e que me cativou desde o 1º momento em que, surpreendentemente, ele me procurou.


Tive a honra de, posso dizê-lo conscientemente, ter colaborado e a seu pedido, numa breve missão na minha qualidade de piloto militar.




Quem foi, afinal, este extraordinário homem?


Vou tentar mostrar-vos.






















 “Há em todas as guerras, em todas as lutas e campanhas, daquelas figuras que, irrompendo da vulgaridade, de repente se agigantam e transformam naquele misto de realidade e fantasia com que depois se haverão de perpetuar, de geração em geração, entre as páginas da História e as brumas da Lenda...

























...Francisco Roxo é um desses homens, uma dessas figuras que, sem sombra de dúvida, ficará para os vindouros nesta nossa terra, dentro da linha que dos grandes capitães de outrora se continuou até Mouzinho, se alongou a Neutel, herói da Macuana, e neste mesmo momento se está prolongando aqui, em pleno Niassa, na figura estranha e na saga espantosa deste dez-reis de gente que me olha de profundos olhos de um azul metálico, de pupilas apertadas como duas cabeças de alfinete.”

(Guilherme José de Melo, Jornalista Moçambicano e do DN)






Em Moçambique



Foi para Moçambique em 1952 com 19 anos.
Conseguiu emprego em Nampula, província do Niassa, nos Caminhos de Ferro de Moçambique, com a ajuda do seu irmão Alípio.
O seu trabalho era de recursos humanos. Recrutar trabalhadores para a construção da grande via férrea entre Nampula e Vila Cabral (hoje Lichinga).


(É provável que durante o resto desta história chame Lichinga pelo antigo nome, "Vila Cabral". Hábitos...)


Nesta função deu certamente início à sua aprendizagem sobre o que são as afáveis gentes daquele país.
Aprendeu a falar vários dialectos e os modos de vida dos moçambicanos “do mato”, com quem lidava facilmente, respeitando-os.
Pouco depois foi promovido a um mais alto cargo no departamento de transporte, passando a supervisionar os condutores e mecânicos.
Mas como bom caçador que era logo foi transferido para uma nova função, caçador “oficial” da empresa pública dos Caminhos de Ferro de Moçambique para alimentar os trabalhadores que construíam a linha férrea.


Caçando os grandes antílopes (exclusivamente para alimentação dos empregados da empresa) continuou a sua aprendizagem sobre o “mato” intensificando o seu convívio não só com os seus colaboradores directos na caça mas também com as gentes, seus costumes e dialectos.
Para esta função Francisco Daniel Roxo organizou uma equipa de gente experiente, locais moçambicanos, que o ajudaram a localizar e perseguir com melhor eficiência a caça que necessitava.
Foi assim que construiu as suas imbatíveis capacidades de progressão furtiva no mato, rodeado de uma equipa fiel e leal que o acompanharia quando, mais tarde, lhe pediram que organizasse uma outra equipa. 

Uma milícia para combater o terrorismo.

Aquela função não fez dele, na altura, um “caçador profissional”, um negociante de carne de caça. Actuava exclusivamente tendo em conta o que lhe era pedido, sendo-lhe fornecidas armas e munições.
Em 1954 abandona os Caminhos de Ferro e fez-se caçador de caça grossa no distrito do Niassa (fronteira com Malawi, Lago Niassa, e Tanzânia) e durante 8 anos, com o dinheiro que fez e mandou aos pais, estes conseguiram comprar uma quinta em Mogadouro.
Esta actividade de caçador permitiu-lhe conhecer ainda mais as leis da natureza e a índole dos que a habitavam. Com todo o rigor.
Aos poucos e poucos criou à sua volta um grupo altamente eficaz em operações no mato. 


Um dia numa das suas incursões foi atacado por um leopardo.

 Acidentalmente desarmado, enfrentou o terrível felino com as suas próprias mãos.
Mas apesar dos muitos e grandes ferimentos que sofreu, conseguiu eliminar o animal,
tornando-se imediatamente uma lenda viva para todos os moçambicanos. 



















Em 1962, o novo Governador Civil da Província do Niassa, Major Carlos Augusto da Costa, que tinha sido chefe dos Serviços de Informações Militares de Moçambique, instala-se em Vila Cabral. 





 
Foi sensivelmente por esta altura que o meu Pai foi colocado em Marrupa (240 km a Este de Vila Cabral/Lichinga) dependendo directamente deste Governador Civil.


O meu Pai foi quem construiu a pista do Aeródromo de Marrupa. Ainda em terra batida.


Na sua função anterior, o Major (que tinha estado na Argélia a observar as técnicas da contra-guerrilha francesa) tinha organizado 3 unidades com 20 a 30 soldados cada, à paisana, com documentos falsos que sob a capa da actividade de caça profissional, forneciam informações preciosas ao Estado português. 
Eram civis, caçadores profissionais e estavam distribuídos por todo o Norte de Moçambique.
Era-lhes fornecido todo o equipamento necessário no desempenho das suas furtivas competências, como armas, munições e viaturas de transporte todo-o-terreno, com matrículas também falsas.
Caçavam realmente no mato mas para angariarem dinheiro, não só com a caça mas também com o turismo, para se pagarem a si mesmos um salário.






















Chefiava uma dessas unidades de informação o Tenente Orlando Cristina (aqui à esquerda) mais tarde braço direito do Eng Jorge Jardim, pai da Cinha Jardim.






















Tive o privilégio de jantar com o Eng Jorge Jardim na Beira, final dos anos 50, em casa dos meus primos Saul e Aida Brandão, naturais de Arganil, terra da minha Mãe. Saul Brandão foi um grande empresário na cidade da Beira onde, entre outras actividades, construiu e explorou o emblemático Hotel Embaixador.






 (Ver na história "Portugueses mais ou menos esquecidos" uma breve resenha sobre o Eng Jardim e outros dois notáveis esquecidos da nossa História recente, Tenente Coronel Marcelino da Mata e D. Francisco de Bragança Van Uden).





 Tenente Coronel Marcelino da Mata
com as várias condecorações,
incluindo a Torre e Espada



As outras duas unidades eram chefiadas por Gonçalves dos Santos e pelo Alferes Petaquinni.

Francisco Daniel Roxo tinha entretanto interrompido a sua actividade de caçador e dispensado a maior parte dos seus f­­iéis homens.  


























Terá sido por essa altura que se casou com Cecília, uma senhora moçambicana, do Niassa.


























...de quem viria a ter seis filhos
Nesta foto com dois dos seus filhos  




Pouco depois de o Governador Civil tomar posse, pediu a Francisco Daniel Roxo que o ajudasse numa campanha de alerta às populações para o perigo do terrorismo que se aproximava supõe-se que com o óbvio fim adicional de recolher informações sobretudo quanto ao movimento das gentes para a Tanzânia, o país vizinho a Norte, base da Frelimo em Dar es Salaam.



Daniel Roxo com o Governador Civil da Província do Niassa, Major Carlos Augusto da Costa



No final de 1963 Francisco Daniel Roxo recrutou, a pedido do Governador Civil, alguns polícias moçambicanos (os cipaios).




Brasão do Governo do Niassa




Exactamente na altura em que o terrorismo começa a sério em Moçambique, vindos da ilha de Likoma, no Lago Niassa, transportados em canoas, os terroristas atacam duas povoações junto às margens do grande Lago, Metangula e Cóbué.








Metangula era uma Base Naval da Marinha em Moçambique, a partir da qual os fuzileiros viriam a actuar. A pista vê-se à direita.



Ver aqui uma história neste blogue sobre o transporte
das lanchas da Marinha para o Lago Niassa.










Roxo foi logo mandado para se inteirar da situação.

Em 8 dias fez mais de 100 km a pé no meio do capim das matas, arrostando dificuldades inimagináveis. 


A partir daí a actividade terrorista começou a fazer-se sentir com mais intensidade.


     Numa operação no Lago Niassa, Daniel Roxo numa LDM













Foi nessa altura que grandes contingentes de militares portugueses, totalmente inexperientes, acabados da fazer a recruta, começaram a actuar em força em Moçambique.
Roxo foi encarregue de industriar os que chegavam ao Niassa, transmitindo-lhes todo o seu conhecimento, durante dois meses de formação. 























 



















Apercebendo-se da fragilidade da situação e tendo a ideia exacta da forma como combater os terroristas, Roxo pede ao Governador Civil autorização para organizar uma formação paramilitar de voluntários exclusivamente autóctones, naturais de Moçambique



Ver no final desta história a carta enviada em 2012 a Stephen
Dunkley, pelo Major Carlos Costa Matos,  sobre Daniel Roxo.

















Este grupo era totalmente independente
da orgânica militar.







A partir daí, com a eficácia incrível da sua unidade em combate o nome de Roxo começou a aterrorizar os terroristas.


Como mera curiosidade...

«Em 31 de Maio de 1965, a famosa Companhia 7 de Espadas – C. Cavª. 754 de que fazia parte o ainda mais famoso ciclista Joaquim Agostinho, foi alvo de um forte ataque.
Nesse dia tiveram 6 baixas e mais uma da Companhia de Nova Coimbra que foi em seu auxílio. A Companhia de Joaquim Agostinho foi uma das que mais baixas sofreu naquela zona, a tal ponto que teve de ser evacuada para a Beira pois foi considerada inoperacional. Quando uma companhia sofria muitas baixas era considerada psicologicamente incapaz de continuar no teatro de guerra. Nesta altura ainda não existia o quartel do Lunho e as tropas ali estacionadas encontravam-se alojadas num bivaque (“aquartelamento” feito de tendas de campanha).»

Copiado do Blogue Metangula




 Aos poucos com os seus agora 18 homens, sem nenhuma experiência militar, tornaram-se numa unidade paramilitar especial para tentar dissuadir a população do Niassa a juntar-se à Frelimo, colhendo abundante e fidedigna informação.



     Numa normal colaboração da Força Aérea Portuguesa




Uma tarefa suplementar, comum a toda a actividade militar no Norte de Moçambique, consistiu numa acção psico-social (a “Psico”, como nós a conhecíamos) contra a Frelimo e os seus princípios comunistas, tentando dissuadir a população de colaborar com a guerrilha.


 
Este era um dos milhares de panfletos que a Força Aérea distribuía em voos baixos:


De um lado tinha estes "bonecos"






E no outro, estes dizeres:











   Roxo e os seus combatentes com o fotografo Patrick Chauvel














Entretanto o grupo de Francisco Daniel Roxo atingia já 30 homens e o treino que lhes deu, fez deles autênticos Rangers, fazendo longas caminhadas muito carregados ou subindo montanhas, por vezes flagelados por tiros junto a eles para se habituarem a desprezar o medo em combate.





No treino de emboscadas, o menor ruído provocado acidentalmente era severamente punido.

Atacavam os guerrilheiros da Frelimo usando a informação da intercepcção das comunicações, fardados como eles, com completa surpresa, arrasando os seus acampamentos. 


Só nos dois primeiros anos este grupo contabiliza o milhar de inimigos abatidos, não tendo tido nenhum ferido sequer do seu grupo.

Estes homens, altamente qualificados, progrediam em silêncio total e quando precisavam de comunicar entre si faziam-no imitando na perfeição o piar dos pássaros, ou quaisquer outros sons da natureza. 














Roxo com o jornalista Sul-Africano  Chris Vermaak



Numa determinada acção, dos 36 elementos da guerrilha abatidos, 15 foram por sua conta.
Gozavam também da grande estima da população que era subjugada pelos terroristas com o propósito de eles lhes fornecerem condições operacionais, alimentação e tudo o mais.
São muitas as histórias que a partir daí se contam dele tornando-o uma espécie de lenda, um personagem mítico.





























Pela sua cabeça a Frelimo oferecia $100.000,
uma quantia astronómica na altura.
O "Fantasma da Floresta" ou o "Diabo branco"
(epíteto dado pela Frelimo) são alguns dos nomes
pelos quais ficou conhecido.
































 
A sua progressão no terreno, sem viaturas,
em missão, era simplesmente inacreditável!
Sendo a reacção dos comandos militares portugueses
muito lenta e burocrática, por vezes desprezando até o valor de Francisco Daniel Roxo,
o muito que poderia ser feito para combater o terrorismo
e não foi, acabou por facilitar a progressão
da Frelimo no terreno e entre as gentes. 












Durante todo o tempo que actuou com os seus homens no Niassa, Francisco Daniel Roxo sofreu apenas 3 baixas.
Todas elas devidamente vingadas exclusivamente por si…

Ao Jornalista Moçambicano Guilherme José de Melo numa entrevista, Francisco Daniel Roxo disse: 

- Ando sempre a pé com os meus rapazes. Sou contra as deslocações em viaturas: perde-se muito tempo, sabe?

 
Para explicar a capacidade do seu grupo em progredir no mato, conta que um dia avançavam para um acampamento terrorista levados por um prisioneiro.
À frente no trilho seguia um dos seus graduados. Ele ia logo atrás e depois o prisioneiro, todos exactamente no mesmo trilho estreito.
Uma muito bem dissimulada mina anti-pessoal tinha sido colocada neste acesso ao seu reduto.
O graduado e roxo passam sobre a mina sem se aperceberem dela.
Quando o prisioneiro a pisa, ela explode com todo o fragor matando-o.
A experiência de Roxo e dos seus homens tinha sido posta à prova uma vez mais.

Disse ele na entrevista:

“Quem quiser sobreviver tem, necessariamente, de pôr à prova uma agilidade felina, uma elasticidade de leopardo. Isto aconteceu há tempos, mas é bem o género de coisas que ocorre constantemente.”

Os residentes de Vila Cabral diziam:

“Se o Roxo ficar, ficamos. Se o Roxo partir, partimos”


  



Um dia estava o Roxo num bar de Vila Cabral a beber uma cerveja quando um oficial do Exército português ali entrou.



Encomendou uma bebida e com ar extremamente abatido disse para quem ali estava:
 

 “Tive um encontro com os terroristas. Perdi alguns homens…”
Ao ouvir isto o Roxo fez-lhe umas quantas perguntas, empurrou o copo da cerveja
meio cheio no balcão e virando-se para o barista disse-lhe:

“Guarda-me isto, volto já para acabar de a beber. Mas primeiro tenho que dar uma lição àqueles gajos”.

E saiu porta fora.

Horas depois voltou para acabar a cerveja, com a maior das naturalidades.
O grupo tinha sido interceptado pelos seus homens, comandados por ele e totalmente aniquilado.
























Roxo guiava um Ford Cônsul bastante antiquado, oferta do Governador Civil. Vivia também numa casa do Estado.

Era um condutor sui generis. Normalmente a 25 km/h e em 3ª… passando sobre todos os obstáculos, indiferente a quaisquer condicionantes da estrada.

Textos compilados da revista “Observador”, n.º 14, de 21 de Maio de 1971
“O Fantasma da Floresta” (Moçambique)




















Guilherme José de Melo, nasceu em Lourenço Marques, no dia 20 de Janeiro de 1931. Era um jornalista, escritor e poeta português, autor de numerosas obras de ficção e não-ficção. Depois do 25 de Abril abandona Moçambique para trabalhar no Diário de Notícias. Faleceu no mês de Junho de 2013.



















Guilherme José de de Melo, na altura jornalista moçambicano,
publicou em 1966 este livro em Lourenço Marques,
 editado pela Minerva Central, com fotografias de Carlos Alberto.
Para ver aqui:


 




Voltando à minha história sobre o Comandante Roxo...



Antes de eu o conhecer, em condições únicas, já admirava as suas capacidades excepcionais na contra guerrilha.

Toda a gente em Moçambique conhecia o Comandante Roxo!

Um dia, em 1968, estava eu na “Base Aérea” em Vila Cabral (Aeródromo de Manobra que pertencia ao AB 6 em Nova Freixo)...





...quando me aparece um sujeito, roupagem civil, não muito alto, com ar de missionário, que se me dirigiu e se apresentou. 


Para grande espanto meu… era o Comandante Roxo! 


E ao que vinha? Nem mais nem menos que pedir-me, particularmente (como se isso fosse possível…) para eu o levar num avião T6 – eu era Sargento Miliciano Piloto da Força Aérea em comissão de serviço como voluntário na Guerra do Ultramar – para ele ver algo que lhe interessava.


Mas tinha que ser uma coisa discreta e sem mais interferências...

Ou seja, eu teria que o levar furtivamente sem dar muito cavaco a ninguém...


O impossível tornou-se instantaneamente possível e foi combinado o dia e a hora.





Um T-6 na zona de Vila Cabral. Foto minha  















O voo foi feito naquelas condições que ele me pediu (com a óbvia anuência das minhas chefias militares) na máxima descrição e o Comandante Roxo, com muito poucas palavras, lá me levou aonde queria, viu o que quis e ficou satisfeito.





Acho que eu mais do que ele…

Era um homem simples, afável, com quem criei logo uma grande empatia o que o levou a contar-me alguns episódios recentes da sua actividade.

Fiquei assim a saber, por exemplo, que por represália por um dos seus combatentes ter sido ferido por um elemento da Frelimo num acto cobarde, traiçoeiro, resolveu ele mesmo capturar esse elemento, pessoalmente e sem ajuda.

Localizado o paradeiro aproximado do homem em questão foi ao seu encalço e descobriu-o no fundo de uma ravina, num frondoso bosque, à beira de um rio, a pescar na companhia de um miúdo.

Provavelmente o filho, não me lembro já de todos os pormenores.
Conversavam os dois calmamente... sem se darem conta da presença dele.

Com as artes de que era exímio e constante praticante, o Comandante Roxo conseguiu aproximar-se deles sem ser detectado e com dois toques no ombro daquele tranquilo homem, apresentou-se...



Nunca mais tive contacto directo com o Comandante Roxo.








   Desconheço o autor desta fotografia. As minhas desculpas.





Embora não sendo militar, pelo seu desempenho na contra guerrilha recebeu do Estado Português  duas Cruzes de Guerra, a primeira em 10 de Junho de 1968, em Lourenço Marques (Maputo) e uma Medalha de Serviços Distintos.
  

 




















A Cruz de Guerra que o Comandante Roxo recebeu foi a primeira jamais entregue a um civil.




A Medalha Militar da Cruz de Guerra foi criada pelo Decreto n.º 2870, de 30 de Novembro de 1916, para premiar actos e feitos de bravura praticados em campanha. Esta condecoração recebeu notoriedade durante a I Guerra Mundial e durante a Guerra Colonial Portuguesa.

A Cruz de Guerra é a terceira mais alta condecoração militar portuguesa, encontrando-se na hierarquia logo após a Ordem Militar da Torre e Espada e da Medalha de Valor Militar, e sendo superior às Ordens de Cristo, Avis e Sant'Iago da Espada e demais condecorações militares e civis. IN Wikipédia

















 Medalha de Serviços Distintos.


























A África do Sul considerava Moçambique a sua zona tampão contra a guerrilha comunista e prestava todo o auxílio possível.

Lembro-me que as ofertas que no Natal o nosso Movimento Nacional Feminino dava aos Combatentes no Ultramar (com a melhor das intenções, a mim também me calhou e soube-me bem) parecia fancaria comparada com o que se recebia das senhoras do Movimento de Solidariedade sul africana aos militares portugueses.


Tive meias que duraram anos…







Na África do Sul, Namíbia e Angola

















Com o aproximar da independência de Moçambique, o Comandante Roxo ruma à África do Sul com os seus homens, (conseguindo incorporá-los em unidades militares) e decide concorrer às Forças Especiais Sul Africanas, Reces.






A fuga de Lourenço Marques do Comandante Roxo foi uma operação "à Roxo". Um camião cisterna foi adaptado com um sistema improvisado de ventilação para ele não sufocar e viajou dentro da cuba até perto da fronteira, Aí saiu e atravessou-a a pé


Tinha na altura 41 anos e os seus companheiros na tentativa de admissão andavam pelos 25 anos.

Foi então colocado num grupo de operações especiais que actuava em Angola, através da Namíbia, no âmbito da Operação Savannah.
Conseguiu uma posição no Bravo Group, unidade especializada em reconhecimento e sabotagem.

O que foi a Operação Savannah?

As grandes potencias mundiais que contribuíram para a independência de Angola e inclusive para a guerra civil que se seguiu, já antes de 11 de Novembro de 1975 (data da independência) se envolviam no conflito generalizado entre as várias facções em luta pelo poder.
Reinava na altura o caos entre as facções que pretendiam o poder, cada uma delas auxiliada por outras tantas potências estrangeiras.
Em Moçambique a situação não era muito melhor, com combates frequentes entre a Frelimo e a Renamo. Situação aliás ainda hoje não completamente resolvida. 

Numa operação estratégica ousada, os cubanos, com a anuência da URSS, conseguem colocar em Angola um número considerável de militares e equipamento, praticamente sem que as potências Ocidentais dessem por isso, ou pelo menos dessem pela importância do acto, desenvolvendo uma estratégia de treino dos militares do MPLA, ao mesmo tempo que se equipavam fortemente, usando todos os meios marítimos de transporte para se equiparem. Para uma terra produtora de petróleo, levaram inclusivamente combustível...

Henry Kissinger, por essa altura numa viagem à Venezuela, disse ao Presidente Carlos Andrés Perez: 

"Parece que os nossos serviços de informação estão a funcionar mal porque só soubemos que os cubanos iam para Angola quando já lá estavam".


A logística para transportar tão grande arsenal militar foi de tal modo complexa que o futuro 1º Presidente de Angola, Agostinho Neto, ao ver da sua janela a baía de Luanda repleta de navios de bandeira cubana (até o Iate de Fulgêncio Baptista...) comentou, com pudor:


"Não é justo. A este passo Cuba vai arruinar-se!"


Estava lançada a Operação Carlota, em homenagem a uma escrava do engenho Triunvirato da região de Matanzas, chamada Carlota, que se revoltou de catana em riste, liderando um grupo de escravos, morrendo na rebelião. Isto em 5 de Outubro de 1843. 


Estariam em Angola mais de 14.000 militares cubanos, fortemente armados, com tanques e aviões Mig. 
Tudo isto se passava com o conhecimento de Portugal que tudo permitia e fechava os olhos. 

A Independência de Angola estava próxima e já não havia soberania.

Com o auxílio do eixo Moscovo/Havana, o MPLA ganhava terreno.
O que se passava em Angola tornou-se um cenário tão pouco agradável para a África do Sul que decide dar assistência ás facções que combatem o MPLA.


Invadem Angola numa operação maciça a que deram o nome de Operação Savannah.


Em Outubro de 1975 as SADF (Forças de Defesa sul.africanas) entraram em Angola com várias colunas e conquistaram o sul e centro do território chegando a Porto Aboím, próximo de Luanda, 


A maior e mais arriscada campanha militar que fizeram fora de portas.

A progressão inicial das forças sul-africanas foi um autêntica passeio, com os tanques equipados com música gravada para entretenimento dos militares.
Nessa primeira investida chegaram muito perto de Luanda.

 
O conflito interno em Angola transforma-se numa guerra convencional.
A operação realizou-se em conjunt0 com os militares da organização de Jonas Savimbi, a UNITA, as forças de Daniel Chipenda e da FNLA.

 
No início de 1976, quando os Estados Unidos se apercebem tardiamente do desequilíbrio de forças no terreno e não só, desistem de se oporem à facção comunista. 
Também ainda estavam a digerir a derrota no Vietname, com um Presidente não eleito...

As forças sul africanas são obrigadas a retirar, mesmo às portas de Luanda, sem se ter compreendido muito bem a razão, já que estavam a um passo de tomar a capital.

A África do Sul, um pais poderoso, fazia fronteira com Angola através da Namíbia.

Cuba ficava a milhares de quilómetros de Angola, com custos inimagináveis em transportes, com barcos e aviões de transporte que não tinha, a juntar à fraca economia cubana.

E mesmo assim...


A Operação Savannah termina em Março de 1976 com a enigmática retirada das forças da África do Sul do território angolano para a Namíbia.




Roxo participou nessa Operação com excepcional brilhantismo.



O pin amarelo indica o local da Ponte 14   
























Numa das operações dos militares sul-africanos, dois grupos de combate ficaram bloqueados em território angolano por cheias inesperadas do rio Nhiva, sendo a única escapatória uma estreita ponte, a Ponte 14.







O Comandante da unidade de Roxo, ordenou-lhe que averiguasse a situação da ponte.

Foi sozinho e viu que a ponte estava destruída.

Sem se dar conta que tinha sido avistado por um grupo de 11 soldados do MPLA cuja intenção
era dizimar as tropas sul-africanas quando tentassem a travessia do rio.




A Ponte 14 nos dias de hoje e a antiga mais abaixo



Quando aqueles militares angolanos viram que Roxo voltava para trás, decidem capturá-lo.
Um militar cubano atira-se-lhe pelas costas sendo por ele abatido de imediato.

O resto do grupo abre violento fogo contra Roxo.

Quando a unidade sul africana se aproxima do local da emboscada em socorro de Roxo, descobre que
os outros 10 elementos emboscados,  cubanos e angolanos,  tinham igualmente sido abatidos.

Todos por um só homem. Francisco Daniel Roxo...

Seguiu-se um fortíssimo ataque do MPLA durante a tentativa de reconstrução da Ponte 14 pela Engenharia sul-africana.

Neste memorável combate, que ficou conhecido como "o combate da Ponte 14", terão perecido
entre 400 a 800 soldados angolanos e cubanos.
Incluindo o Comandante da Força Expedicionária, um cubano:


Comandante Raul Diaz Arguelles, grande herói da Cuba de Fidel.




Há testemunhos, como a BBC mais tarde informou, de camiões carregados de cadáveres que estavam constantemente a sair da área em direcção ao norte.

Note-se que esta operação não teve a intervenção de meios aéreos, foi só feita com apoio da artilharia.

Foi cronologicamente o último grande combate em que soldados portugueses (no século XX) se bateram.

Trata-se de um combate que nas nossas Academias Militares não foi estudado (nem sequer conhecido), mas que pelas inovações tácticas e emprego de pequeníssimos grupos de comandos deu resultados bem inesperados (para os cubanos, é claro). No entanto era estudado nas academias russas, britânicas e americanas (algumas).


As forças sul-africanas sofreram 4 baixas.

 

















A Roxo e a outros, poucos, portugueses se deve a grande vitória da Ponte 14 no rio Nhia, em que centenas de cubanos e soldados do MPLA foram clamorosamente derrotados.
A sua acção neste combate foi de tal modo épica que as chefias propuseram que fosse condecorado.











Roxo recebeu a Cruz de Honra, Honoris Crux, cujo certificado aqui se reproduz:







Foi o primeiro estrangeiro a receber a mais alta Condecoração Militar sul-africana.








Depois deste tremendo combate, Jan Breytenbach convence os Altos Comandos militares
a reorganizar o Bravo Group, passando a constituir um batalhão de contra-guerrilha.




Roxo é nomeado Comandante de Pelotão deste novo Batalhão e promovido a S.Sgt.













Estava formado o célebre 32 Battalion, conhecido como Buffalo Battalion.
O S.Sgt Daniel Roxo foi colocado nesse grupo de operações especiais que actuava em Angola, através da Namíbia.
Os operacionais do  32 Battalion eram conhecidos por “Os Bufalos” ou “Os Terríveis

















Passou a ser a única unidade militar sul-africana a falar português.
A única também a admitir não-brancos. Eram 80% de origem negra e 20% brancos.
A experiência transmitida pelo S.Sgt Daniel Roxo provou ser extremamente eficiente,
eliminando mais inimigos e sofrendo menos baixas que qualquer outra unidade sul africana.






Apesar de, entretanto, se terem retirado de Angola, as forças armada sul-africanas continuaram a operar dissimuladamente no território. 

No dia 23 Agosto de 1976, com o objectivo de fazer explodir uma ponte no rio Okavango em Angola, o S.Sgt Daniel Roxo levou com ele os sargentos portugueses Ponciano Silva Soeiro e José Correia Pinto Ribeiro (alcunhado "Carnaval" em Moçambique e "Robbie" na África do Sul.

Já perto da ponte a viatura semi-blindada e descoberta em que seguiam despoleta uma mina anti-carro.

O veículo foi projectado pelos ares expelindo todos os ocupantes.
Ponciano Soeiro sofreu um grave traumatismo craniano.

Quando a viatura em queda volta ao solo, fá-lo sobre o corpo de Francisco Daniel Roxo, esmagando-lhe as pernas e a coluna vertebral.

A explosão destruiu o rádio e assim José Correia Pinto Ribeiro teve de correr para pedir socorro ao resto da equipa ainda mais atrás.
Tentaram levantar a viatura mas era demasiado pesada para ser levantada à mão, estando além disso debaixo de fogo inimigo.

Um helicóptero de evacuação médica sobrevoava a zona mas o piloto recusou aterrar no local porque avistou um avião cubano a patrulhar a zona.

Breytenbach, antigo comandante dos Búfalos, no seu livro "Eles vivem pela Espada" - "They Live by the Sword", pp. 105, escreveu:




<< Danny Roxo, mantendo-se com o seu carácter intrépido, decidiu tirar o melhor partido das coisas,

acendendo um cigarro e fumando-o calmamente até que este acabou e então morreu, esmagado debaixo do Wolf.

Ele não se tinha queixado uma única vez não tinha dado um único gemido ou grito,

apesar das dores de certeza serem enormes. >>
 



O S.Sgt Daniel Roxo foi condecorado com a PRO PATRIA MEDAL, (Cunene Clasp) bem como com a Southern Africa Medal, esta postumamente.


Deixou uma viúva e seis filhos.




















Ponciano Soeiro, serviu na ex-DGS na província do Uíge, em Angola,
antes de, em Setembro de 1975, se alistar nas Forças Especiais da África do Sul.
Acabou por morrer em combate no dia 25 de Agosto de 1976, 
num hospital de campanha para onde tinha sido evacuado.





















José Correia Pinto Ribeiro era natural da Guiné- Bissau 
e ficou conhecido em Moçambique pelo nome de guerra "Carnaval",
quando ali serviu nos Grupos Especiais Paraquedistas (GEP`s).





Uma Unidade criada pelo Coronel Costa Campos


Infiltrado na Frelimo servia Portugal.


Depois do 25 de Abril juntou-se também às Forças Especiais Sul Africanas onde ficou conhecido como "Robbie" Ribeiro.

Morreu na semana negra de 25 de Agosto de 1976, uma semana depois da morte do irmão Carlos Alberto Ribeiro (ver abaixo).









 




Fazia também parte do Batalhão 32 um outro Português,
Carlos Alberto Ribeiro (alcunha "Little Robbie"),
irmão deste José Correia Pinto Ribeiro.
Nasceu na Guiné portuguesa em 25 de Novembro de 1950.
Alistou-se na Força Aérea Portuguesa como Pára quedista



Depois do 25 de Abril seguiu o irmão e alistou-se nas Forças Especiais da África do Sul

Durante a Operação Savannah, no interior de Angola, Little Robbie faleceu presumivelmente morto em combate no dia 19 de Agosto de 1976 durante uma operação entre Luengue e Coutada do Mucusso em Angola. Na época, ele pertencia ao Grupo B do Batalhão 32. O pequeno Robbie era solteiro.

Foi José Correia Pinto Ribeiro quem telefonou à Mãe a dar a notícia.

Tragicamente... este irmão mais velho, o José Ribeiro morreu dois dias depois num acidente de viação, num transporte de feridos em combate. O condutor da viatura, um Tenente, foi condenado a 4 anos de cadeia.

Assim uma Mãe perdeu os dois filhos no espaço de uma semana. 

O seu corpo nunca foi recuperado.


As mortes do S.Sgt Daniel Roxo, Jose “Robbie” Ribeiro, Ponciano Silva Soeiro e Carlos “Little Robbie” Ribeiro foram um grande golpe não só para o Reconnaissance  Commando e o 32 Battalion mas também para a South African Defence Force em geral dado o alto grau de eficiência e experiência destes quatro Portugueses.

Este trágico período de tempo ficou conhecido como  “Black August”.

Francisco Daniel Roxo, José Correia Pinto Ribeiro e Ponciano G. Soeiro foram enterrados em Voortrekker Hoogte (Pretoria) em campa rasa, sem grandes cerimónias.

















Almerindo Mourão da Costa, nasceu a 19 de Agosto de 1944, numa pequena aldeia no norte de Portugal. Depois de terminar a escola, juntou-se à PIDE / DGS e foi enviado para Angola, onde serviu com os FLECHAS até ao 25 de Abril de 1974




Depois do 25 de Abril alistou-se também nas SADF (Forças Armadas Sul-Africanas) completando com sucesso o Curso das Forças Especiais.

Em Janeiro de 1980 foi agraciado com a PRO MERITO MEDAL por comportamento excepcional em combate.

Mourão da Costa foi morto em combate, segundo a versão oficial, no dia 24 de Fevereiro de 1980 no interior de Angola, mas a verdade é que a sua morte ocorreu numa Capital Africana onde desenvolvia uma missão secreta para destruir determinado objectivo.

Um dia a verdade será conhecida.

O corpo nunca foi recuperado.

Na cerimónia em Voortrekkerhoogte, para comemorar os 30 anos da morte do Sgt Daniel Roxo, Sgt Ponciano Soeiro e Sgt Jose Ribeiro, o General Swart prestou uma homenagem comovente aos nossos companheiros mortos, incluindo S Sgt Almerindo Mourão da Costa, tendo entregado o crachá que lhe era devido à Sra. Erna da Costa. (Ver texto que se segue)



Quase trinta anos depois das suas mortes dois acontecimentos importantes relevam o quão marcante foram no seu tempo e como a República da África do Sul, pós Apartheid, reconhece os "seus" mortos.



Assim, no dia 23 de Agosto de 2005, 60 amigos, representantes da Comunidade Portuguesa na África do Sul e ex-colegas do 1st Reconnaissance Commando e do Batalhão 32, juntaram-se em Voortrekker Hoogte, Pretória, no cemitério de Thaba Tshwane, para homenagear e prestar tributo aos portugueses ali enterrados.



Numa lápide negra descerrada pelo Major General Fritz Loots (na reserva), First Officer Commanding South African Special Forces, estavam inscritos os nomes daqueles portugueses caídos na luta contra as forças pro comunistas do MPLA e Cuba no Sul de Angola numa altura em que tantos portugueses foram forçados a abandonar o território e em véspera de uma sangrenta guerra civil que durou duas décadas.




 A lápide coberta com a bandeira das Forças Especiais da África do Sul



Simultaneamente foram trasladados os restos mortais daqueles portugueses que estavam enterrados em campa rasa.



Na cerimónia estiveram presentes militares, imprensa portuguesa, diplomatas e outros, sendo a patente mais alta o General Fritz Loots, ex-comandante em Chefe das Forças Especiais e, mais tarde  Chefe da Inteligência Militar sul-africana.




 Lt Col Sybie van der Spuy




Uma representante da Embaixada de Portugal, a chefe da chancelaria Margarida Rosas de Oliveira
fez a entrega de uma coroa de flores em nome de Portugal. Foto abaixo:







Toda esta situação foi envergonhadamente desenvolvida a nível não oficial, afirmando o Embaixador de Portugal em Pretória, João Barbosa que não foi "previamente consultado" para dar o aval oficial à cerimónia. De outro modo  "teria que ponderar a presença” oficial de uma representação portuguesa e "informar o Ministério dos Negócios Estrangeiros antes de tomar uma decisão".



Tudo isto isto porque aqueles portugueses combateram numa unidade militar Sul Africana durante o Apartheid e alguns deles tinham sido agente da Pide.



Mas antes tinham lutado ao lado ou integrando o Exercito Português na Guerra do Ultramar.



Lembro que o Comandante Roxo combateu em Moçambique chefiando uma milícia exclusivamente composta por Moçambicanos negros e era casado com uma senhora africana de Moçambique e tinha seis filhos “mulatos” 

E tinha uma Cruz de Guerra, dada por Portugal num 10 de Junho, dia de Portugal.





No dia 17 de Novembro de 2005, as condecorações e medalhas outorgadas pela República da Africa do Sul ao S.Sgt Daniel Roxo, a HONORIS CRUX, as medalhas PRO PATRIA (Cunene clasp) e a SOUTHERN AFRICA medal, bem como os diplomas respectivos, foram finalmente entregues à sua família, representada pelo irmão Alípio Roxo e mulher, Irene, nas Caldas da Rainha:






Carmo Ferreira, à esq, ex membro das Forças Armadas Sul Africanas,
uma das senhoras encarregue da entrega das medalhas ao irmão do Comandante Roxo





 O casal Alípio e Irene Roxo





<<Irene recorda então a última vez que falou com ele. O seu coração de mulher temia o pior, pediu ao cunhado que fosse para Portugal, mas a resposta dele foi simples, simples demais para ser rebatida e que a apavorou:


"Sou soldado ... e hei-de morrer numa mina..."


E foi assim que morreu!>>









A ex 1º Tenente da Força Aérea Sul Africana Maria José Ferreira,
outra das senhoras encarregue da cerimónia, com o casal Roxo
 
Fonte: Moçambique para Todos (macua.blogs.com)


O Alípio e a Irene já nos deixaram




Tenho a certeza de que muitos portugueses, civis e militares , soldados, sargentos e oficiais, devem a vida à acção furtiva deste homem que agora é desprezado na sua pátria. Mas somente por quem não sabe o que foi a sua vida. Este homem lutava só pela sua terra do coração.




Francisco Daniel Roxo nada tinha e vivia numa casa modesta do Estado Português em Vila Cabral com a sua família moçambicana. Nada esperava ganhar com a possível vitória dos militares em Moçambique.






 




Até um dia Comandante Roxo!





_______________________________________________________________




No dia 20 de Setembro de 2017, os antigos Camaradas de Francisco Daniel Roxo
e dos outros portugueses, os sul-africanos e alguns portugueses,

numa cerimónia organizada também pela comunidade portuguesa,

voltaram ao cemitério

para lhes dizer que não estavam esquecidos.



_______________________________________________________________




“To kill people has never been nice. And to get killed is the worst thing that can happen to anyone.

But the worst of all is to come back home and to be told that it was all for nothing.

That is definitely the biggest betrayal there can be.”

Herman Grobler


"No tears.
 No sorrow.
We are here to witness tomorrow."

B Cox 2013




E para os que não sabem que um Camarada de Armas nunca é esquecido, a foto abaixo
foi tirada em 2017  no local da existência da antiga Ponte 14







______________________________________







IN MEMORIAM



Carta enviada em 2012, a STEPHEN DUNKLEY pelo Major Carlos Costa Matos, que de 1962 a 1966 foi Governador da província do Niassa em Moçambique




Em 31 de Maio de 1962, tornei-me governador do promissor distrito de Niassa. Fui escolhido pelo Almirante Sarmento Rodrigues. Na época, o professor Adriano Moreira era ministro do Ultramar.

Tinha 39 anos e era o mais jovem governador do Império Português. Nasci em Lourenço Marques, fui também por isso, o primeiro Governador nascido em Moçambique, por isso, a minha nomeação foi vista como um sinal de esperança para a população local. Mais tarde, a maioria dos africanos via em mim um amigo, um deles, como descrito em "A Voz de Moçambique".

A 6 de Junho a minha família e eu chegámos a Vila Cabral / Niassa. Era uma região com um significado especial para mim, poderia agora ajudar a moldar os destinos de um distrito onde o meu pai e três tios tinham vivido quarenta anos antes.

                                                                                                      Foto dedicada a Carlos Dugos


A minha família tinha participado na Grande Guerra, na luta contra a Alemanha. Na verdade, recebi o nome de um dos meus tios - Carlos Augusto - que foi dado como "desaparecido em acção" quando as tropas portuguesas se retiraram de Nevala até o Rovuma. O líder dessa missão foi o tenente Craveiro Lopes que mais tarde se tornaria presidente da República Portuguesa.

Algumas semanas depois da minha chegada, decidi ir ver pessoalmente o território para em primeira mão avaliar quais eram as principais questões.

No século XIX, o Niassa era dirigido pela "Companhia do Niassa" e o governo português recebera milhões de libras em troca disso. A empresa recebeu grandes poderes para gerir este território - desde o Mar da Índia até ao Lago Niassa. No entanto, esta empresa, gerida pelos britânicos, negligenciou as suas funções e não tinha um posto avançado civil (Posto Administrativo Civil) na fronteira do Rovuma.

Assim, em 1929, o tratado foi revogado (após um período de 40 anos) pelo governo português e o dever de dirigir o território foi novamente colocado nas mãos do povo português.

Nessa altura, o primeiro governador do distrito de Niassa - Coronel Casqueiro - tomou medidas muito sábias e mudou a capital de Mandimba (terras baixas) para Vila Cabral (Lichinga terras altas / Planalto de Lichinga). A capital recebeu o nome do governador-geral Coronel José Cabral.

Depois de visitar o território, percebi que a rede administrativa era fraca e pobre e que todos os postos administrativos existentes não tinham luz nem rádio. Após de analisar a situação, decidi aumentar a rede - 8 administrações civis em vez de 4, 23 postos avançados civis em vez dos 16. Além disso, sobre o Rovuma, decidi e construí mais postos avançados civis, todos eletrificados e com campos aéreos.

Nesse momento,  depois de saber as habilitações de Daniel Roxo, como o seu conhecimento de várias línguas - Português, Ajua, Swahili (introduzido pelos muçulmanos) e seu conhecimento único do território (como ex-caçador profissional), decidi que ele seria a pessoa ideal para o novo Serviço de Ação Psicológica (SAP) que eu queria criar. Tendo aceite o convite, tornou-se um dos seus membros.

Como membro da SAP, Daniel Roxo acompanhou-me por todo o lado. Além de conhecer os chefes locais (Régulos) conheceu as tradições, a cultura, a língua e também o chefe da Mataca, cuja população era uma das maiores de Moçambique.

Quando, em Setembro de 1964, aconteceu o primeiro ataque da Frelimo ao avançado Civil de Cobué, nomeei Daniel Roxo Comandante de uma milícia que consistia num grupo de pessoas da sua confiança a participaram em combates contra tropas da Frelimo.

Daniel Roxo mostrou-nos sempre ser uma pessoa muito talentosa e corajosa, qualidades que manteve durante toda a sua vida. Em Portugal as pessoas costumam dizer que "Trás - os - Montes" é o berço de grandes homens. Assim parece.

Devido à sua dedicação ao Governo Português, à sua lealdade inquestionável em relação a mim e ao povo do Niassa, quando finalmente tive de partir, atribuí-lhe uma recomendação (louvor) onde lhe mostrei o meu apreço e o reconhecimento da sua contribuição para o Nação.

Mais tarde, o novo governador aumentou o poder das milícias e os feitos de Daniel Roxo levaram o governador a conceder-lhe outro elogio - "A Cruz de Guerra".

Após a revolução (25 de Abril de 1974), Daniel Roxo decidiu não voltar à sua terra natal, alistou-senum Batalhão, uma força-tarefa organizada pela África do Sul (creio que se chamava Batalhão Buffalo). Os seus membros eram todos portugueses (ex-comandos e paras). Esperava-se que impedissem os comunistas do MPLA de tomar o poder em Angola. Daniel e seus soldados invadiram o sul de Angola (através do Namibe) para deter as tropas do MPLA e seus aliados cubanos. Foi nesse altura que Daniel Roxo foi morto em Angola.

Tempos difíceis fazem as pessoas revelarem sua verdadeira personalidade. Daniel Roxo manteve os seus princípios, permaneceu fiel ao seu país num período muito difícil e sombrio da História Portuguesa.

Daniel Roxo não era apenas um marido e pai dedicado ou um amigo leal, era também uma pessoa corajosa que liderou sua vida como soldado e uma pessoa de confiança.

Quanto a mim, vou me lembrar sempre dele como um verdadeiro herói.


Carlos Augusto Pereira 
da Costa Matos
( Governador do Niassa de 1962 a 1966)
Lisboa, 2012









(Actualizada em 29 de Setembro de 2023)





Links consultados


http://sadfgroup.org/o-fracasso-da-operacao-savannah-by-miguel-junior-org/
http://www.verdade.co.mz/cultura/20683-como-os-eua-foram-derrotados-na-independencia-de-angola 
http://citizenalertzablogspotcom-tango.blogspot.pt/2013/04/koevoet-veterans-we-dont-give-damn-for.html 
http://aquellasarmasdeguerra.files.wordpress.com/2012/05/g3.jpg
http://com66_droxo.webs.com/oterrordosturras.htm
http://combustoes.blogspot.pt/2009_01_11_archive.html
http://delagoabayworld.wordpress.com/category/pessoas/daniel-roxo/
http://en.wikipedia.org/wiki/32_Battalion_%28South_Africa%29
http://en.wikipedia.org/wiki/Operation_Savannah_%28Angola%29
http://iacmc.forumotion.com/t6417-daniel-roxo-wearing-czech-clouds-pattern
http://lmcafe.blogspot.pt/2012/09/daniel-roxo-o-diabo-branco-reportagem.html
http://macua.blogspot.pt/2006_06_01_archive.html
http://oscarvalhosdoparaiso.blogspot.pt/2009/01/heris.html
http://pt.metapedia.org/wiki/Daniel_Roxo
http://pt.wikipedia.org/wiki/Marcelino_da_Mata
http://realfamiliaportuguesa.blogspot.pt/2012/03/entrevista-d-francisco-de-braganca-van.html
http://sadf.sentinelprojects.com/sasfl/booklet.html
http://sadf.sentinelprojects.com/sasfl/newsclip.html
http://sadf.sentinelprojects.com/sasfl/operator.html
http://sadf.sentinelprojects.com/sasfl/sybie.html
http://theywerebornwarriors.blogspot.pt/2013/01/daniel-francisco-roxo.html
http://uk.geocities.com/sadf_history2/operator.html
http://ultramar.terraweb.biz/06livro_GuilhermedeMelo_Mocambique_Norte_Guerra_e_Paz.htm
http://ultramar.terraweb.biz/RMM/RMM_CmdtFranciscoDanielRoxo.htm

http://www.32battalion.org/forum/showthread.php?t=349
http://www.geni.com/people/Francisco-Daniel-Roxo/6000000012106905510
http://www.mozambiquehistory.net/76.html
http://www.youtube.com/watch?v=HfzjNHB5uHE&NR=1
https://sites.google.com/site/pequenashistorietas/personalidades/jorge-jardim 





VER também:
http://retornadosdafrica.blogspot.pt/2012/08/depoimento-de-ex-combatente-da-operacao.html 
http://paginaglobal.blogspot.pt/search/label/CAVACO%20SILVA