Capítulos

Na Guerra do Ultramar e não só - O Comando de uma LFG na Guiné (1)

 

O Comando de uma LFG na Guiné

(LFG - Lancha de Fiscalização grande)


1ª Parte

Os navios da classe ARGOS













LFG ORION


Esta história relata, muito resumidamente, o que foi a comissão no Ultramar de um digníssimo Oficial da Armada, Luiz Pereira Vale

 na altura 1º Tenente, na Guiné, exactamente no auge do conflito com o PAIGC, imediatamente antes do 25 de Abril.

Conhecemo-nos por essa altura por morarmos no mesmo prédio em Lisboa. A amizade ficou-nos agarrada desde aí...

O texto está publicado na Revista de Marinha, Nº 985, Maio/Junho 2015.

O texto, integral, está subdividido por mim em várias histórias, tendo-lhe acrescentado eu imagens que fui encontrando na Internet e um ou outro texto que ajuda a perceber o envolvimento de alguns episódios aqui narrados.


A história é todo o texto que se segue:

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Entre junho de 1963 e setembro de 1965 foram aumentados ao efectivo da armada 10 navios da classe ARGOS, então designados por lanchas de fiscalização grandes (LFG’s).

Os primeiros 4 foram construídos nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo e os restantes no Arsenal do Alfeite.


Na Wikipédia encontrei este texto que o blogue aqui reproduz (não está na história do autor):

“A classe Argos foi uma classe de lanchas de fiscalização grandes (LFG), ao serviço da Marinha Portuguesa, entre 1963 e 1975.

 As lanchas foram construídas entre 1963 e 1965 no Arsenal do Alfeite, e nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo.

 As unidades desta classe foram baptizadas com o nome de constelações.

 As Argos tiveram origem no Projeto de Lancha para Timor, resultante de um requisito da Capitania do Porto de Dili, para um tipo de lancha com capacidade para ser empregue na fiscalização das águas territoriais de Timor Português. Em virtude da Guerra do Ultramar, nenhuma das lanchas acabou por ir para Timor, sendo enviadas para África, onde foram empregues em operações militares.

 A maioria delas foi transferida em 1975 para a República Popular de Angola, e as restantes afundadas ao largo da Guiné-Bissau no mesmo ano.

 De notar que a Marinha Portuguesa voltou a utilizar o nome de Classe Argos para denominar uma nova classe de Lanchas de Fiscalização lançadas ao mar em 1991” 


No fim do conflito, 7 desses navios,

ARGOS, DRAGÃO, CASSIOPEIA, HIDRA, LIRA, ORION e SAGITÁRIO,

 encontravam-se na Guiné.



     LFG's no cais de Bissau


Os outros 3 ESCORPIÃO, PÉGASO e CENTAURO, em Angola.

Os da Guiné estavam reforçados com chapa balística para proteção da ponte e do costado na zona da casa das máquinas.

Estes navios tinham deslocamento máximo de 210 tons, cumprimento de 41,7 m e um calado de 2,1 m e eram proporcionadas por 2 motores que permitiam uma velocidade Máxima de cerca de 17 de nós e uma autonomia de 1660 milhas em velocidade de cruzeiro.

O comando dos motores era feito diretamente da ponte, o que facilitava muito a manobra, fator importante nas condições de navegação da Guiné, efectuada muitas vezes em águas restritas e sujeitas a fortes correntes e marés de grande amplitude e particularmente nas atracações, que aliás só podiam ser efectuadas nos cais de Bissau e de Bolama e em 2 pontões de madeira no rio Cacheu.

O armamento principal das LFG’S’s era constituído por 2 peças Boffors de 40 mm, complementado na Guiné com 2 metralhadoras ligeiras MG-42 instaladas nas asas da ponte e por vezes também com 2 espingardas G-com dispositivo lança-granadas ofensivas.


Em rios estreitos, designadamente no Rio Cacheu era também instalado o morteiro de 60 mm na ponte alta operada por fuzileiros.


As peças boa Boffors, dotadas de uma elevada cadência de tiro e projéteis explosivos, constituíam um armamento poderoso no tipo de operações efectuadas nos rios da Guiné, mas tinham uma forte vulnerabilidade por serem de comando exclusivamente elétrico.


Com a vantagem de necessitarem apenas de um apontador, em vez de 2 como nas peças de comando mecânico, um para apontar em direção e outro em elevação, podiam assim fazer um fogo mais rápido e certeiro, mas tinha um perigoso inconveniente de ficarem inoperativas em caso de falha de energia.


Daí que a principal limitação operacional das LFG’S’s se devesse aos seus geradores, já com muitos milhares de horas de funcionamento e com grandes dificuldades de sobressalentes que só podiam estar parados quando os navios recebiam energia de terra.


Sem energia elétrica os navios ficavam indefesos, sem comunicações e até sem poder de manobra, pelo que quando um dos 2 geradores se avariava os navios entravam em limitação operacional. Outra limitação das LFG’S’s tinha a ver com as comunicações.


Possuíam bons equipamentos de HF, mas que apenas podiam comunicar em grafia e um mau equipamento de fonia, que só foi substituído após o fim do conflito.






    A LFG ORION no Tejo. em Lisboa



Assim, quando os navios necessitavam de comunicar com Bissau, dadas as características dos seus equipamentos, tinham de enviar as mensagens em morse para a estação rádio naval de Cabo Verde, que depois as retransmitia para Bissau. 


Isso significava que num pedido de apoio aéreo urgente, os minutos necessários para que as os aviões nos apoiassem podiam transformar-se facilmente numa hora.


As LFG’S’s dispunham também de equipamentos portáteis para comunicações a curta distância com as forças terrestres ou aéreas mas que eram de fácil intercepção pelo inimigo pelo que a sua utilização era fortemente restringida.


Quanto a pessoal, as guarnições das LFG’s eram constituídas por 2 oficiais, 4 sargentos (Condutor de Máquinas, Artilheiro, Manobra e Enfermeiro), e 21 praças, complementadas com 3 civis africanos que desempenhavam as funções de impedidos dos oficiais e dos sargentos e a de padeiro e ajudante do cozinheiro.


Esta lotação permitia que os navios navegassem abordadas meia guarnição nos postos e a outra a descansar, mantendo praticamente a mesma capacidade da situação de “postos de combate”.




As outras Histórias sobre este assunto:



 



 

Luiz Pereira Vale

Oficial da Armada

ex-Comandante do N.R.P. Orion

Revista de Marinha, 985, Maio, Junho 2015









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