Os dramáticos dias do início da descolonização portuguesa
Foi o maior êxodo da História de Portugal
Começou em 17 de Julho de 1975 e acabou a 3 de Novembro, desse mesmo ano
Um episódio.
Boeing B 747 |
Nota:
…Em 1974, uma revolução em Lisboa apanha de surpresa centenas de milhares de portugueses que vivem em Angola. A partir desse dia inicia-se a derrocada imparável de uma sociedade inteira que, tal como um navio a afundar-se, está condenada à destruição e à ruína. Em escassos meses, trezentos mil portugueses são obrigados a largar tudo e a fugir, embarcando numa ponte aérea e marítima que marca o maior êxodo da história deste povo. Para trás ficam as suas casas, os carros e até os animais de estimação. Empresas, fábricas, comércio e fazendas são abandonados enquanto Luanda, a capital da jóia da coroa do império português, é abalada por uma guerra civil que alastra ao resto do território angolano.
Excerto do livro de Tiago Rebelo: “O Último Ano em Luanda”
Nota:
Terão saído de Angola para Portugal cerca de 305 mil pessoas entre Maio de 74 e Novembro de 75.
“Durante a ponte aérea, não havia programação de voos os aviões chegavam, abasteciam-se e partiam, foram períodos de uma tensão a raiar os limites de ser suportada”.
Gonçalves Ribeiro, Alto-Comissário para os Refugiados.
Eduarda Ferreira in: Jornal de Notícias.
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28 de Agosto de 1975
Nessa noite apresentei-me, como Co-Piloto de Boeing 747, nas Operações da TAP em Lisboa para fazer mais um voo da Ponte Aérea.
Neste caso seria Lisboa / Luanda / Nova Lisboa / Luanda / Lisboa
Já à saída de Lisboa se notava um ambiente estranho entre a tripulação (reforçada). Havia um grupo que parecia saber de coisas que viriam a acontecer e mais ninguém sabia.
Os outros interrogavam-se, suspeitando de uma pretensa ligação ao Partido Comunista daquele grupo sabedor de coisas...
De coisas que não sabíamos. Nem sonhávamos...
A pouco e pouco, até Luanda, percebeu-se do que se tratava, sem que os 2 Comandantes tivessem sido avisados da alteração “programada“, à sua revelia, do propósito inicial do voo a Nova Lisboa : recolher civis Portugueses e trazê-los para Lisboa.
E o que se tramava era nem mais nem menos isto:
- Deixar em terra, em Nova Lisboa, os Portugueses, ao abandono.
- Levar dali para Luanda os militares do MPLA, em perigo dado o apertar do cerco à cidade pela UNITA.
- Regressar a Lisboa num voo comercial normal e não de Refugiados...
Cockpit do B747 |
Quando finalmente, ainda em voo para Luanda, toda a tripulação ficou a saber do que se tramava algures em Lisboa, Luanda e no próprio avião, fizeram-se mini-plenários (plenários a bordo, em pleno voo, dá para acreditar?...) ficando então decidido por maioria que o voo se faria integralmente como programado:
- Em Nova Lisboa só embarcariam Portugueses que viriam até Lisboa connosco!
Luanda anos 60 |
Já aterrados em Luanda, durante o reabastecimento a caminho de Nova Lisboa, o chefe de escala, conotado com o PC segundo se dizia, tentou alterar as coisas tendo no entanto sido avisado das intenções da maioria da tripulação.
À chegada a Nova Lisboa, ainda do ar, podia ver-se uma longa fila de cerca de 400 pessoas fora da Aerogare prontas a embarcar, já há 3 dias a viver ali, mais ou menos na rua.
Quando a porta do avião se abriu e uma brisa húmida e muito quente se sentiu, entrou uma delegação TAP, ad-hoc, local (manutenção e handling) a informar que se os MPLA’s embarcassem em vez dos Portugueses, (o próprio MPLA estaria avisado que o voo seria para os recolher…) todos os funcionários TAP embarcariam também, quanto mais não fosse pelo receio de represálias pela UNITA.
Embarcaram, evidentemente, os portugueses… em estado miserável, há três dias sem comida.
Crianças e bebés comiam latas de atum e pão seco.
Os adultos só pão seco molhado em água.
Todos exibiam um tom de pele doentio cor de folha de tabaco.
Nota:
…Em Nova Lisboa a situação era tremenda. Havia uma espécie de grande hangar e as pessoas chegavam das mais variadas formas, carregadas de malas. Como não as podiam levar — havia um limite de 30 kg por passageiro — havia uma montanha incrível de bagagem deixada para trás. Não havia condições nenhumas, a sanita era um antigo avião de campanha completamente recuperado que um oficial qualquer tinha resolvido pôr ali como monumento. Imagine-se, um avião que tinha andado na guerra!
…Em Nova Lisboa a situação era tremenda. Havia uma espécie de grande hangar e as pessoas chegavam das mais variadas formas, carregadas de malas. Como não as podiam levar — havia um limite de 30 kg por passageiro — havia uma montanha incrível de bagagem deixada para trás. Não havia condições nenhumas, a sanita era um antigo avião de campanha completamente recuperado que um oficial qualquer tinha resolvido pôr ali como monumento. Imagine-se, um avião que tinha andado na guerra!
"Quem controlava eram os guerrilheiros da Unita, que tinham um aspecto inacreditável. A tropa já se tinha vindo embora. Assim tínhamos de discutir horas com os UNITAS que queriam entrar nos nossos aviões para ir lá buscar pessoas, e assegurar que eles não inutilizassem o avião. Era essa a minha maior preocupação quando estava no solo.”
“Chegou a uma altura em que a tropa portuguesa já se tinha vindo quase toda embora e mesmo em Luanda as pessoas só se sentiam seguras no aeroporto. Chegámos a ter lá 5000, numa caserna para 500 homens.”
Gonçalves Ribeiro, mais tarde Alto-Comissário para os Refugiados, o nome que todos apontam como coordenador da ponte aérea que em três meses e meio transportou quase meio milhão de pessoas de Nova Lisboa e Luanda para o aeroporto da Portela.
por Fernanda Câncio
Já de volta a Luanda, agora em transito para Lisboa, pelo grande empenho do chefe de escala da TAP que reclamava a essência Comercial do próximo troço, ficou decidido que o voo para Lisboa seria com os passageiros normais, pagantes.
Os de Nova Lisboa seriam simplesmente adicionados à enorme desumanidade que era naqueles dias o caos naquele Aeroporto de Luanda!
Nota:
No aeroporto de Luanda, milhares de pessoas aguardavam, nas piores condições de salubridade, um lugar nos aviões Jumbo da TAP, que transportavam a um ritmo de mais de mil pessoas por dia as cerca de 250 mil que queriam regressar.
Rui Ochôa, Expresso, 26 de Julho de 2009
Foto da autoria de Alfredo Cunha
E enquanto o avião era reabastecido e limpo, os espoliados embarcados em Nova Lisboa foram desembarcados, com o falso pretexto de que o avião tinha de ser reabastecido sem passageiros.
Essas 400 pessoas foram despejadas na aerogare, ao abandono, após 3 dias atrozes de desespero em Nova Lisboa. Iam começar nova odisseia.Foto da autoria de Alfredo Cunha
E enquanto o avião era reabastecido e limpo, os espoliados embarcados em Nova Lisboa foram desembarcados, com o falso pretexto de que o avião tinha de ser reabastecido sem passageiros.
Desta vez a um passo da liberdade prometida mas agora integrados numa luta maior de acrescida competição por um lugar a bordo de um qualquer avião.
E, claro, na hora do embarque lá entraram outras gentes, com muito melhor ar, os passageiros pagantes do voo regular para Lisboa.
Uma meia hora depois e já com o avião praticamente cheio, os nossos amigos de Nova Lisboa, desembarcados à força naquele Inferno, eles que já vinham de outra muito amarga experiência, deram-se conta de que tinham sido enganados e agiram rapidamente num misto de medo e fúria.
Em pânico, invadiram espontâneamente a placa a correr por ali fora direitos ao avião, atabalhoadamente, acossados pelo medo de tendo já escapado ao terror de que se tinham livrado, estarem agora irremediavelmente condenados a no mínimo… apodrecer na Aerogare de Luanda sem comida, água, cuidados de saúde e completamente indefesos.
Os pára-quedistas Portugueses de serviço junto ao avião, de G3 apontadas a eles, limitaram-se a ficar extáticos, virados para a Aerogare, e a ser ultrapassados por todos os desgraçados que quisessem.
Num instante um mar de gente em fúria, filhos e bagagens nas mãos, subindo por todas as escadas possíveis, entrou pelo avião dentro, sem controlo. Em segurança, de novo!
E os que não iam conseguindo entrar porque todas as escadas estavam a abarrotar de gente desesperada, ficaram a toda a volta do avião, perdidos, em pânico, com muita raiva.
Vários firmemente agarrados ao trem de aterragem para não serem recambiados, alguns com filhos muito pequenos seguros pelo outro braço, muitos a tentar subir as escadas atafulhadas de gente, todos aos gritos, todos em lágrimas e a tripulação dentro do avião, junto às portas, a lutar com a impossibilidade de gerir aquele inesperado drama para o qual ninguém estava preparado, por muito que se julgasse capaz.
Entretanto, no upper-deck do Boeing 747 CS-TJB (aquele espaço normalmente reservado a passageiros da 1ª Classe mas agora a servir de camarata aos tripulantes em descanso em colchões de espuma atirados para o chão ao acaso) no dia 29 de Agosto de 1975, a meio da tarde, a situação era calma… “ foram vocês que arranjaram isto, agora desenrasquem-se “.
E a confusão a bordo era total. E desenrolava-se como um monstro que a pouco e pouco se apodera de todo um espaço e não há mais lugar para a dignidade. Era-mos todos, passageiros e tripulantes, vitimas indefesas de algo superior que nos dominava.
Para mim foi demais…
Fui lá para baixo tentar fazer qualquer coisa. A tripulação de cabine da frente, mais experiente, já tinha conseguido fechar a porta a seu cargo.
Agora a grande confusão era na porta do meio.
Com intenso dramatismo, todos aos gritos, todos fora de controlo (a tripulação já tinha uma noite de serviço e 12 a 14 horas de trabalho) íamos puxando para dentro os que estavam meio cá meio lá, tentando manter os outros de fora para se conseguir fechar também esta porta.
Um velho no topo da escada socorre-se de mim (eu era o que tinha ali, no momento, mais galões nos ombros) e grita-me repetidas vezes:
- Os meus filhos!!! Os meus filhos!!!
- Aonde é que eles estão?
Perguntei-lhe tentando gritar mais alto do que todos os outros 50 ou 60 que nos rodeavam dentro e fora...
- Aí dentro !!!
Eram 3. Entre pequenos e mais velhos. E estavam mesmo ao meu lado…
Consigo sair a custo do avião e já na escada, começo a puxá-lo para dentro por um braço enquanto todos os outros aproveitam a boleia e forçam a entrada, escada acima, contrariando a tripulação de cabina que, atrás de mim, tenta impedir aquele caos, empurrando toda a gente para fora.
E no meio do mais fantástico puxa-empurra, desesperado, tudo aos gritos, tudo em lágrimas, todos com os mais dramáticos e irrecusáveis argumentos a pedir para entrar, não sei quando, às tantas, consegui ouvir alguém do chão gritar:
- A escada vai cair!!!
O excesso de peso e as grandes oscilações faziam com que os apoios hidráulicos que elevavam a escada à grande altura da porta do Boeing 747 estivessem já curvos e bamboleantes.
O topo da escada, junto à porta do avião, já estava um bom palmo abaixo do nível da porta.
Deu-se então uma luta final realmente titânica para conseguir fechar aquela porta, ela que ainda por cima fecha de fora para dentro... tentando convencer as pessoas no topo da escada do perigo que todos nós corríamos.
Fechada a porta conseguimos reduzir o nosso drama só ao interior daquela autentica nave de loucos.
Isolado o avião, restava avaliar a situação e arranjar uma solução.
No chão, à volta do avião, haveria 100 a 200 homens mulheres e crianças e a bordo do nosso Boeing B 747 havia cerca de 600… entre os originários de Nova Lisboa e passageiros embarcados em Luanda.
O que se passava no exterior com tantas pessoas desesperadas, com tantas crianças violentamente expostas a este drama, deixou de nos preocupar.
O drama e a insegurança estabelecida dentro do avião eram-nos prioritários agora.
Todos se achavam no direito de seguir viagem para Lisboa.
Os argumentos eram os mais variados.
Havia quem, bem trajado e com ar saudável, acabado de sair de sua casa em Luanda, mostrasse um Rx para uma operação urgente. Havia famílias subitamente separadas, dentro e fora do avião, pais e filhos separados por uma simples porta, impenetrável.
Havia enfim um sem número de problemas reais ou fictícios e nenhum critério ou orientação para começar, sequer, a solucionar aquilo: o avião só podia transportar legalmente 400 passageiros e mais os cerca de 36 tripulantes, (tripulação reforçada) além dos dois ou três representantes do IARN, organismo Estatal de Apoio aos Refugiados Nacionais que seguiam em todos os voos da Ponte Aérea.
Não me lembro de nenhuma acção de apoio, nesta situação, destes mesmos elementos, supostamente de apoio. Estavam sentados no lugar certo e por ali ficaram… Se fizeram alguma coisa, não me lembro. As minhas desculpas.
Havia também um garrido grupo de 25 bem arranjadas prostitutas de Luanda.
Nesta tremenda confusão, uma passageira, muito bem vestida, obviamente originária de Luanda e também desesperada por se ver ameaçada de ser devolvida ao Inferno se fosse desembarcada, agarrou a mão de uma muito jovem assistente de bordo da TAP que passava, abriu a carteira, tirou de dentro dela uma pequena pistola de cano cromado, punho em madrepérola, apontou-a à sua própria cabeça e disse calmamente à apavorada assistente:
- Olhe menina, se eu não for para Lisboa, mato-me aqui mesmo!
Talvez a melhor imagem do desespero das pessoas, melhor ou pior vestidas, naqueles dias...
É claro que a jovem Assistente apareceu no upper-deck em perfeito estado de histerismo.
Convém lembrar que entretanto já se tinham passado mais de 14 horas desde a apresentação da tripulação em Lisboa, por volta da meia-noite anterior…
E perante a inoperância da escala de Luanda, propositada ou não e da falta de soluções dos mais altos responsáveis a bordo, dois elementos da tripulação resolveram, por sua alta recreação, meter mãos à obra e começaram intermináveis viagens entre o avião e a Aerogare dialogando passageiro a passageiro para avaliar das verdadeiras e inadiáveis razões que cada um teria para seguir mesmo naquele voo.
Foram um Técnico de Voo e um Comissário de Bordo:
Não me lembro do nome do Técnico de Voo, mas sei que era o pai de uma funcionária jovem e bonita da Operações de Voo da TAP. O Comissário era o C/B Duarte André.
Imagem meramente ilustrativa |
Umas 5 horas depois... com cerca de 8 horas totais nesta segunda escala no Aeroporto de Luanda, lá conseguimos descolar.
440 pessoas a bordo.
À saída de Luanda a tripulação já levava, talvez, 17 horas de trabalho. Naquelas condições.
Dezassete horas de trabalho.
O voo decorreu sem mais incidente algum.
Aterrámos em Lisboa ao fim de 26 longas, atribuladas e inacreditáveis horas de trabalho, seguido.
Alguns de nós com a consciência tranquila.
Muito tranquila...
"Retornados" no Aeroporto de Lisboa, 1975
Todas as fotos que se seguem são da autoria de Alfredo Cunha
E para os nossos passageiros de Nova Lisboa, de retorno à Pátria, como aconteceu a tantos outros, foram estas as melhores condições que se lhe ofereceram:
Alguns de nós com a consciência tranquila.
Muito tranquila...
"Retornados" no Aeroporto de Lisboa, 1975
Todas as fotos que se seguem são da autoria de Alfredo Cunha
E para os nossos passageiros de Nova Lisboa, de retorno à Pátria, como aconteceu a tantos outros, foram estas as melhores condições que se lhe ofereceram:
Quanto a mim, quando cheguei a casa, sentei-me na sala, exausto, contei a história e desatei a chorar. Descontrolado.
Muito provavelmente de cansaço. E outras coisas…
Depois de 26 horas de trabalho contínuo.
Um total de 15h40 de voo.
Sendo 9h30 de voo nocturno, durante duas noites consecutivas.
Duas escalas em Luanda com um total de cerca de 10 horas no chão
Sempre em serviço, embora com tripulação reforçada.
Fizémos 4 aterragens.
O voo foi efectuado no Boeing B 747 matriculado CS-TJB.
Diários de Navegação nºs 9/31 a 9/34.
A TVI passou nos dias 6 e 7 de Novembro de 2016 uma reportagem, «O lugar onde eu fiquei», da Jornalista Catarina Canelas onde se conta como foi o êxodo de centenas de milhares de portugueses.
Para que não esqueça.
Na 21ª Hora, programa transmitido logo a seguir ao segundo Documentário, foram entrevistados pela Pivot Judite de Sousa os Jornalistas Fernando Dacosta, Diamantino Pereira Monteiro e o autor deste Blogue.
No final do programa o Jornalista Fernando Dacosta teve a amabilidade de me oferecer, autografado, o seu livro "Os Retornados mudaram Portugal".
No dia 20 de Abril de 2017 a Jornalista Catarina Canelas
lançou o seu livro
"A Hora da Partida"
no Auditório da FNAC Colombo.
O livro reflecte a temática desta sua reportagem
"O lugar onde eu fiquei"
Apresentaram o livro Sérgio Figueiredo, José Alberto Carvalho, Judite de Sousa e a Editora Verso de Kapa
A Catarina autografando o exemplar que teve a amabilidade de nos oferecer
(Actualizada em 13 de Maio de 2018)
A tal descolonização "exemplar" que o déspota Mário Soares alude vezes sem conta!
ResponderEliminarApoiado!
EliminarBrevemente e já não era sem tempo... vai sair numa Revista um longo artigo sobre a Ponte Aérea, uma das mais fantásticas realizações dos Portugueses. Contribuí com esta história para o artigo.
ResponderEliminarCaro Comandante, mais uma bonita história de uma época trágica para os Portugueses. Bem-haja pela partilha, obrigado.
ResponderEliminarEm junhode 75, comecei a trabalhar na TAP, Luanda, logo após a minha passagem à disponibilidade, da 44ª companhia de Comandos, em Maio.
ResponderEliminarA partir da agudização dos combates entre os Movimentos de "Libertação"?, após a chegada do famigerado almirante vermelho, que se revelou atraves de uma carta que teria escrito na altura sobre a melhor forma de criar o pânico nos portugueses de Angola, em que dizia para matarem velhos e crianças, pois os mais fortes ficariam mais frageis, começaram a chegar de todas as partes de Angola, pessoas querendo salvar a unica coisa que ainda carregavam, fragilizada, enfraquecida, doente, mas ainda assim, VIDA. De milhares de dramas vividos, lembro-me especialmente de um. Uma criança nascida no aeoporto, e que foi sustentada por nós, quando tudo acabou em Luanda, com leite que iamos pedir aos aviões, e que nos era fornecido com todo o carinho. Alguns colegas começaram a trazer papas e bolachas de Lisboa, até que ao fim de 2 meses, conseguimos embarcar esta familia. Pessoas que traziam como haveres os bois, para a fila de espera que chegou a ter 5.000 pessoas no exterior do Aeroporto...
Dias em que sairam daquele aeroporto 28 aviões, das mais diversas companhias e nacionalidades. De Americanos a Russos, passando por Franceses, Ingleses e outros ainda mais esquisitos, naquele momento, com as politicas tão definidas. Capitalismo versus comunismo. Apareceram todos, e mais tarde soubemos o porquê..Já se estavam a dividir os despojos dos povos portugueses africanos e os dos portugueses continentais. Estamos agora a pagar a mediocridade dos politicos pós 25 de Abril...
que passaram a vida a esbanjar vaidades, dando cabo do sector produtivo portugês, transferindo-o primeiro para a Espanha, França e Alemanha, ficando com os serviços que nada acrescentam, e agora vemo-nos na necessidade de recriar toda a estrutura produtiva, para podermos pagar a factura que nos deixaram, Cavacos, Soares, Barrosos, e finalmente o papagaio Sócrates, que tem a lata de afirmar que as dividas não são para pagar...e ele tem rezão, pois nasceu em Portugal, pois se nascesse na Islandia, já estva atràs das grades.....VIVA PORTUGAL...Sempre
Um lider forte faz fortes as fracas gentes e um lider fraco, fas fracas as fortes gentes....
MAMA SUMÊ
Obrigado Gabriel Cavaleiro, um Português sem complexos e com memória e gratidão pelo seu rico percurso.Quando morrermos apenas fica o que alguns medíocres quiseram deixar desta triste história de Portugal.Obrigado tb pela partilha do resgate do piloto Malaquias, em que faz jus á generosidade e abnegação de pilotos e Policia Aérea.O que faz com que todos(ou quase) que a serviram bem como o País, se sintam orgulhosos e tranquilos por tal o que é o meu caso.Ex-Força Aérea Carlos Gaspar
EliminarObrigado Carlos Gaspar
EliminarEntendo e concordo com as suas palavras. Um dia se escreverá a verdadeira história da descolonização...
ResponderEliminarPeço desculpa de só hoje ver este seu comentário.
Obrigado.
Caro Gabriel,
ResponderEliminarObrigado por mais uma vez partilhar algumas das suas experiências em Africa, neste caso em Angola, a terra que me viu nascer.
Os meus pais e eu tivemos a felicidade de sair de Angola num avião fretado pela NCR, empresa em que o meu pai trabalhava. Embora tivesse 7 anos, lembro-me como se fosse hoje o que se passava naquele aeroporto, da gritaria, do choro de homens, mulheres e crianças, da quantidade de bagagem abandonada e das pessoas que dormiam no chão. Essa experiência marcou-me mais que os os combates pelos quais os meus pais e eu passamos em Benguela, onde vivíamos quando os combates do MPLA e UNITA chegarem à cidade. Felizmente saímos de Angola de uma forma menos dramática do que aquela que descreve. Contudo, foi a chegada a Portugal e os meses que se seguiram que me mais marcou. Em Portugal aprendi uma palavra que não conhecia, palavra essa que o Gabriel refer no seu texto, "retornado". Na prática, tal termo não se aplicava a mim, eu nasci em Angola, mas aos meus pais que tinham perdido tudo. Mais cruel que a experiência vivida em Angola, foi ver os meus pais serem descriminados por serem "retornados", por me chamarem Português de segunda. Esta foi a realidade que mais me marcou.
Na minha humilde opinião, a descolonização nunca aconteceu. Aqueles que viviam nas colónias, foram abandonados pelo seu país, pelo país que de uma forma ou outra, ajudavam a sustentar.
Por último, é de louvar o seu esforço e da tripulação do CS-TJB. Para aqueles que conseguiram embarcar, vocês fizeram a diferença.
Bem-haja pela sua partilha.
ACHO MUITO CURIOSO E INTENCIONAL QUE NOS ULTIMOS DIAS, APÓS A MORTE DESTE SENHOR DE QUEM O POVO GRITAVA "SOARES É FIXE" NAS TELEVISOES, NOS JORNAIS, NAS REVISTAS E NAS ENTREVISTAS, ESTE SENHOR TENHA PASSADO DE BESTA A BESTIAL! ESPERO QUE, DEPOIS DA POEIRA ASSENTAR VENHA A PUBLICO TODA ESTA TRAGEDIA DOS RETORNADOS QUE A REVISTA SOBRE O FALECIDO TENTA DESCULPÁ-LO DA DESCOLONIZAÇÃO, EMPURANDO A CULPA PARA O GRUPO DOS NOVE!A VERDADE HA-DE VIR AO DE CIMA
ResponderEliminarFiz a minha comissão militar em Nampula e Lourenço Marques. A 7 de Setembro de 1974, enquanto o Mário Soares estava em Lusaka a entregar Moçambique à Frelimo numa bandeja vi muitos africanos com a bandeira nacional na mão a pedir que não os entregássemos... Espero que a história seja feita um dia.
ResponderEliminarFui um dos muitos comissários de bordo voluntários, desde o primeiro, dia para ajudar a realizar esta ponte aérea.Quando chegava a casa, descansava umas 4 horas e ia para o aeroporto para seguir no 1º avião disponível. Senti que era meu dever ajudar toda aquela gente aflita. Tive os meus pais em Moçambique que regressaram a Portugal, por insistência minha, antes desta tragédia. Fiz a minha comissão militar em Moçambique, onde poderia ter ficado junto de meus pais, mas regressei a Portugal por nunca ter acreditado que aquela "província" continuaria por muito mais tempo a ser nossa. Como seria isso possível se todos os países colonizadores - Espanha,Inglaterra, França, Itália,Bélgica, etc. - já há muito tinham dado a independência às suas colónias? Na ONU já se votava contra nós, Brasil, Reino Unido, EUA, China, Rússia...
ResponderEliminarTarde demais para continuarmos a administrar as nossas colónias. A Guiné-Bissau decretou a sua independência unilateralmente. O fim aproximava-se e nós insistíamos em não querer ver. Qualquer descolonização a partir de agora nunca poderia ser pacífica. O velho Salazar, que nunca quis ir a África, em vez de perceber a situação insistia em chamar nossas às colónias que se desmoronavam...
Acredito que se tivéssemos tido governantes à altura poderíamos ter feito um brilharete em África: partilhávamos o poder com os quadros locais e ficaríamos todos, brancos e negros, por lá, com a vantagem de ser muito melhor para todos. Mas esquece-mo-nos que há muito o tratado de Tordesilhas não fazia mais sentido: já não éramos os donos de meio mundo... E assim saímos sem honra nem glória e foi a desgraça que se viu.Mesmo assim e dentro de todos os condicionalismos, poderemos dizer que poderia ter sido muito, mas muito pior.
Agora não vale a pena chorarmos sobre o leite derramado. Os erros pagam-se sempre muito caros.
Resta-me dizer que ainda hoje me sinto feliz pela ajuda que dei àquela gente aflita, que fugia desesperadamente e entrava nos nossos aviões a caminho de Portugal, muitos deles que nunca cá tinham vindo, nem faziam ideia do que isto poderia ser. E não adianta mais culpabilizar quem quer que seja: a história está escrita e não há como apagá-la. O caminho faz-se andando e será sempre mais fácil sem ódios nem ressentimentos. Lutemos por um futuro melhor.
Tu sabes o que foi o que todos na TAP fizemos...
EliminarUm grande abraço
Sr. Anónimo
EliminarA simples razão de não se identificar JÁ identifica a sua idiossincrasia. Essa de lutemos por um futuro melhor deve ser piada. Este País que teve a sorte de receber os ditos retornados já foi 3 vezes à Banca Rota devido ao espírito irresponsável e inconsequente dos patriotas progressista , como o senhor , que tomaram de assalto o Poder e condenaram mais de milhão e meio de portugueses à miséria e morte........ morte Sr. Anónimo...... Vi com os meus próprios olhos dezenas de famílias queimados dentro de carros. Como quer que se possa esquecer isso , quando os responsáveis continuam a ser conseiderados heróis da democracia corrupta portuguesa.
Não se trata de culpabilizar este ou aquele. Já não vamos a tempo de responsabilizar ninguém do mal que fez.Infelizmente o que deve nunca paga. Temos sim é o dever e a obrigação de contar o que se passou, como na verdade foram feitas as coisas para que a nossa história seja a realidade dos factos e nela muitos "pulhas" não passem a ser os nossos heróis. A injustiça é mãe dos ódios e ressentimentos ao contrário do reconhecimento dos erros cometidos. Só assim poderemos evoluir, saber como não os repetir e ter na verdade um futuro. Talvez melhor.
ResponderEliminarExcelente, dramático relato, de uma experiência em primeira mão. Quero mais. Obrigado.
ResponderEliminarComo sobrevivente e um dos milhares de passageiros dessa ponte aérea o meu eterno agradecimento...
ResponderEliminar..em tempos tambem agradeci aos integrantes do batalhão de infantaria, que nos escoltaram do QUARTEL DE INFANTARIA DE SÁ DA BANDEIRA, ate a fronteira do antigo SUDUESTE AFRICANO,.actual NAMÍBIA....
1974/1975 so esquece quem por la nao passou.......Aeroporto de Luanda/Adidos da força aérea....Aeroporto da Portela...quase 4,5 décadas
Anjos dos aviões/ponte aérea
Anjos dos Unimogues
ETERNO AGRADECIMENTO
Boa noite.
EliminarEram a CCS, a 1CCAÇ e a 3CCAÇ do BCAÇ 4810/74 (de Açoreanos) a que tive a honra e o previlégio de estar adido a partir de 23ABR75.
Lembro-me bem, é impossível esquecer, de quando começaram a chegar desalojados na noite de 01AGO75. O Quartel cheio de desalojados. Os dramas de quem tinha saído de casa com o que tinham no corpo, sem saber de familiares. Pouco podíamos fazer. Ainda conseguimos que algumas pessoas telefonassem para familiares. Consegui desenrascar um radioamador que tinha um fio do altofalante dessoldado.
Se bem me lembro essa coluna saiu de Sá da Bandeira por volta do dia 20AGO75, das 06h00 até às 13h00.
Uma descolonização "exemplar".
Orlando Sá
ex-Fur Mil Tm Inf
Eu infelizmente vim de barco. O meu pai ficava furante a noite nas bichas para comprar os bilhetes e a minha mãe ficava durante o dia. Foram 10 dias. Para virem 6 pessoas. O meu irmão tinha 2 anos e a minha avó tinha já 65 anos. Foi muito triste e marcante. Ainda hoje penso no que nós todos passamos. Alguns nunca conseguiram recuperar tanto em termos psíquicos como mentais.
ResponderEliminarOs chamados retornados mudaram Portugal e é verdade, para melhor.
ResponderEliminarPassei mais de uma semana com crianças sem comida, apenas migalhas