"Boulevard du Temple”, 3º Bairro, em Paris
Um Daguerreótipo tirado por ele mesmo, Daguerre, em 1838, inclui a mais antiga fotografia conhecida de uma pessoa.
A imagem mostra uma rua, mas por causa do tempo de exposição, mais de dez minutos, o tráfego em movimento não aparece.
No canto inferior esquerdo, no entanto, um homem aparentemente a engraxar as suas botas bem como o engraxador, estavam imóveis o suficiente para as suas imagens ficarem gravadas.
Só até ao advento da fotografia Digital
A fotossensibilidade do nitrato de prata é um fenómeno conhecido desde o séc XVII quando o reconhecimento fortuito das suas propriedades foi pela primeira vez observado pelo cientista italiano Angelo Sala ao deixar um frasco com pó de nitrato de prata acidentalmente ao Sol. A parte do frasco que ficou exposta à luz ficou “preta como tinta”. O lado que ficou à sombra manteve-se prateado.
A fotografia, a magia da reprodução perene de uma imagem numa superfície adequada, nasce da associação de várias circunstâncias.
Basicamente do encontro da camara obscura com placas heliográficas, fotossensíveis, colocadas no seu interior.
Mas o que são camaras obscuras e placas heliográficas?...
Começa aqui a história da fotografia…
A camara obscura, provável invenção do filósofo chinês Mozi, um dos grandes críticos do Confucionismo, que viveu nos séculos V – IV antes de Cristo, é um instrumento óptico que permite obter uma projecção plana de uma imagem no seu interior.
Começou a ser mais divulgada no século XI pelo físico e matemático árabe Alhacén, nascido em Basra em 965.
Imagem a observar A Imagem projectada na camara obscura
E só no século XV passou a ser usada como instrumento auxiliar do desenho ao permitir copiar num papel uma imagem projectada dentro dela.
Um espelho a 45º no fundo da caixa e um vidro no topo. Uma folha de papel sobre o vidro e a imagem podia ser copiada...
Foi Leonardo da Vinci que num tratado divulgou esta preciosa utilidade de reprodução de imagens.
Battista della Porta junta-lhe uma lente que aumenta a luminosidade da imagem projectada.
A camara obscura é basicamente uma caixa com um pequeno orifício, mais tarde uma lente, num dos lados por onde entra a luz, projectando a imagem na face oposta, ou num espelho.
Houve uma altura em que se achava que o orifício, para se conseguir tal magia, só deveria ser feito usando para o efeito um corno bem afiado de um Unicórnio.
Devido ao suposto uso intensivo deste apetrecho ficou-se na altura com a impressão que foi isto que levou á extinção deste mágico animal…
É verdade….
Ok… voltemos à história…
> Processo Heliográfico
Joseph Nicéphore Niépce (nasceu em Chalon-sur-Saône a 7 de Março de 1765 — Morreu em Saint-Loup-de-Varennes a 5 de Julho de 1833) um litógrafo conhecedor das propriedades fotossensíveis de um tipo de Betume da Judeia fez experiências com alguns químicos sobre uma placa de estanho e conseguiu reproduzir para uma folha de papel o desenho que fizera na placa, depois de esta ter sido exposta ao Sol.
A este novo processo que tanto o ajudou no seu trabalho de reprodução de imagens (ele que não era químico e que desenhava mal, um requisito essencial na litografia) chamou-lhe “Heliogravura”, do grego, Hellios – Sol.
O Heliógrafo de Niépce
“Niépce revestiu uma placa metálica com Betuma da Judeia dissolvida em essência de lavanda. A placa ficava sensível à luz. Uma vez seca era colocada numa camara obscura e depois exposta à luz durante cerca de 8 horas.
A imagem captada ficava latente na placa.
Para
a poder ver, para se revelar, era então mergulhada num banho que
dissolvia as partes do Betume pouco expostas à luz. A parte do Betume
que ficara fortemente exposto ao Sol endurecia e tornava-se insolúvel”.
(Tradução de um texto do site do Museu Niépce)
A mais antiga Heliografia recenseada data de 1826 e está hoje nas colecções da Universidade do Texas em Austin:
“Le point de vue du Gras”
É uma imagem captada não muito longe de Chalon-sur-Saône, onde Niépce nasceu.
A mesma vista numa foto bastante posterior:
Niépce antes de morrer partilhou este processo com o seu sócio de há alguns anos Luis-Jacques-Mandé Daguerre (1787-1851).
As exposições eram ainda longas, pelo que objectos móveis não eram captados.
A 1ª fotografia de um ser humano, de Daguerre, numa movimentada rua de Paris, não mostra nenhum dos muitos veículos que ali circulavam. Só o estático homem…
> Daguerreótipos
Daguerre, um físico, desenvolveu o seu próprio processo, em 1837. Uma imagem positiva registada numa placa de cobre revestida a iodeto de prata.
As imagens produzidas dentro de uma camara obscura eram depois reveladas por exposição ao vapor de mercúrio e finalmente fixadas por uma solução salina.
Cada Daguerreótipo era único. Não podia ser reproduzido.
As 1ªs exposições com este processo demoravam 1 hora.
Em 1839 Daguerre conhece Samuel Morse (co-inventor do telegrofo e do Código Morse) e juntos criaram a Morse Daguerreotype Camera para ser vendida nos Estados Unidos da América
1839 - William Henry Fox Talbot produz o primeiro negativo, pelo:
> Processo Calótipo
As imagens eram registadas em papel encerado, sensibilizado com cloreto de prata.
Múltiplas imagens podiam então produzidas por cópia directa.
Tanto Talbot como Daguerre desenvolveram a mesma técnica sem saberem um do outro.
Os Calótipos eram menos detalhados do que os Daguerreótipos mas tinham a vantagem de produzir um negativo reproduzível em imagens positivas, a fotografia tal como a conhecemos.
Este processo negativo-positivo foi a base da fotografia até ao advento do Digital, em finais do séc XX.
1840 – As exposições ficaram mais rápidas quando o químico Inglês John Frderick Goddard descobriu que juntar Bromo a uma placa Daguerreótipica a tornava mais fotossensível.
Uma composição de vários Daguerreótipos mostrando Cincinnati, em 1848
1850 – A impressão Albuminada começou a divulgar-se. Usava o Albume de claras de ovo para ligar as substâncias fotossensíveis ao papel.
Era o:
> Processo das Placas Húmidas
As placas tinham de ser revestidas com uma mistura de colódio (fluido viscoso e transparente, feito com piroxilina ou algodão pólvora e diluído em partes iguais com álcool e éter) e iodeto de potássio, mergulhadas em nitrato de prata e expostas ainda húmidas.
Após a exposição, o negativo de vidro tinha de ser revelado, fixado e lavado.
Fora do laboratório o fotógrafo tinha de usar uma camara escura portátil, com uma tenda de lona à prova de luz e trabalhar aí dentro.
1851 – Frederick Scott Archer, escultor e fotógrafo Inglês, apresentou o seu processo revolucionário de Placas Húmidas e colódio:
- Revestiu placas de vidro com substâncias fotossensíveis dissolvidas em colódio que aderia à superfície. Obtinham-se negativos nítidos e muito detalhados com uma exposição muito menor.
Em finais da década de 1850 havia substituído completamente tanto o processo Daguerreótipico como o Calótipico.
1851 – Richard Leach Maddox revolucionou a fotografia com o primeiro
> Processo de Placas Secas
Maddox revestiu placas de vidro com nitrato de prata e brometo de cádmio em gelatina. Isto permitiu que as placas fossem revestidas guardadas e usadas quando necessário.
Este processo foi melhorado por Charles Bennett que descobriu uma forma de endurecer o revestimento, tornando-o mais durável.
Bennett descobriu ainda que a “fervura” melhorava a emulsão e aumentava a sua fotossensibilidade.
1878 – As placas de brometo de prata coloidal começaram a ser vendidas. Este processo permitiu emulsões de mais qualidade e fotossensibilidade, bem como o uso de camaras de mão mais pequenas.
1880 – George Eastman, fundador da Eastman Dry Plate Company e da Eastman Kodak Company inventou as suas próprias placas secas e uma máquina para as produzir em massa.
1884 – George Eastman patenteou o primeiro rolo de filme negativo bem sucedido, o “American Fim” e a firma passou a chamar-se Eastman Dry Plate and Film Company.
1887 – Neste ano um Pastor de New Jersey, Hannibal Goodwin pediu para registar uma patente de um filme fotográfico em celulóide. Por falta de fundos a patente acabou por ser registada somente 11 anos depois, em Setembro de 1898
1888 – Eastman apresenta a camara Kodak já carregada com um filme para 100 fotografias. Quando todas as fotos estavam tiradas a máquina com o rolo lá dentro voltava para a Companhia em Rochester. Era então revelado na fábrica e as fotos impressas. A mesma máquina, carregada com novo filme, era devolvida com a fotografias impressas. Foi um sucesso Internacional instantâneo.
Desembarque de
pessoas na praia. Baía da cidade do Funchal, anterior a 1889. Fotógrafo Joaquim
Augusto de Sousa. Foto do Museu "Vicentes", Madeira.
1889 - George Eastman, em Abril, pede para registar uma patente para um filme semelhante.
A patente é concedida em Dezembro desse ano mas o Marketing começara já 4 meses antes.
Este imbróglio foi parar aos tribunais após a morte de Goodwin em 1891. O caso andou enrolado 12 anos. A Companhia de Goldwin foi revendida várias vezes e finalmente o último nesta sequência, a Ansco Film Company acabou por ser indemnizada em $5 milhões de dolares.
A Eastman Co. passa a fabricar cameras fotográficas portáteis e, em 1902, é responsável por 85% da produção mundial.
1903 – Os irmãos Lumiére, August e Louis (que já tinham patenteado o Cinematógrafo) patenteiam o:
> Processo Autochrome
Este processo foi lançado em 1907. Consistia em placas de vidro revestidas com um mosaico feito de grãos de amido de batata tingidos de vermelho, verde e azul (RGB…) misturados, que agiam como filtros de cor.
A adição de uma camada de emulsão de halogenato de prata a preto-e-branco criava então uma imagem a cores.
As exposições eram muito longas, devendo ser feitas só com um tripé.
Os Autochromos eram bastante escuros e viam-se melhor num projector retro iluminado por um “Diascópio”
1909 – Extraordinário Autochrome a cores de John Cimon Warburg (1867-1931):
“The japanese parasol”
The Royal Photographic Society
> O Processo Polaroid Land
1947 - Quando Edwin Land anunciou, a 21 de Fevereiro de 1947 a sua revolucionária máquina fotográfica equipada com o filme Polaroid poucos acreditaram no seu sucesso.
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Polaroid Land Camera 100 |
20 anos depois, 14 milhões de Americanos tinham uma máquina destas e a Polaroid Corporation era o 2º maior produtor da indústria fotográfica nos USA..
Como funciona?
O “filme” da Polaroid consiste num pacote com um conjunto de folhas de filme negativo e papéis positivos.
A fotografia quando é tirada sensibiliza uma folha de filme negativo. Logo a seguir, automaticamente, o negativo rola e a face exposta encontra uma folha de papel positivo.
A compressão de um contra o outro a que são sujeitos dentro da máquina liberta os químicos do filme negativo que constitui o “miolo” daquela sandwiche, revelando a imagem no papel positivo, que é depois ejectado para o exterior: a nossa fotografia.
As fotos ficam prontas com rapidez, aparecem em 10 a 20 segundos e são muito nítidas.
Tenho fotos destas em perfeitas condições desde há muitos anos…
Conclusão…
No final do Século XX a fotografia era um processo químico mecânico que envolvia uma série de passos, mágicos mas bastante demorados, para se chegar à fixação em papel de qualquer imagem que se quisesse reproduzir.
Fotografava-se com aparelhos óptica e mecanicamente semelhantes às nossas normais máquinas fotográficas digitais.
Estas duas pertencem à minha colecção particular:
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Máq FOCA, francesa |
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Máq EXACTA RTL 1000 fabricada na Alemanha de Leste, em Dresden |
A diferença estava no modo como se fixava a imagem.
Hoje a imagem, exactamente como antes, atravessa a lente e vai “sensibilizar” uma superfície, o sensor de 5, 10, 20 ou mais Megapíxeis.
Só depois é fixada num cartão de memória.
Antes de 1989 a mesma imagem que se queria eternizar atravessava as lentes e ia sensibilizar um filme de plástico flexível recoberto de várias camadas de químicos, encapsulado num rolo metálico que se estendia antes, a pontinha, nas traseiras da nossa máquina.
Quando se esgotava a capacidade de armazenamento do nosso filme, entre 12 a 36 imagens e não mais…este tinha de ser entregue num laboratório fotográfico para ser “revelado”.
- Aonde vais?
- Vou à Kodak revelar este rolo...
Alguns faziam-no em casa, nas casas de banho às escuras, se tivessem os químicos, o material, a habilidade e o conhecimento para o fazer. E uma mulher compreensiva claro!
Não era difícil, o processo e a mulher compreensiva, mas… não era para todos.
Os Laboratórios, através de químicos e em camaras escuras “revelavam” o que estava sensibilizado no filme, cortando-o depois em tirinhas com 4 a 6 imagens.
Essas tirinhas eram os negativos daquilo que tínhamos fotografado e que agora ainda era preciso passar a positivo, a foto impressa em papel fotográfico.
Os Laboratórios faziam-no, sempre em camaras escuras, com Ampliadores onde colocavam aquelas tiras e projectavam as imagens aí eternizadas, uma a uma, em papel fotográfico virgem que por sua vez era sensibilizado e tinha depois que ser “revelado” também. Mais químicos, mais água mais secagem…mais granel nas casas de banho, às escuras, de alguns mais habilidosos
Um processo demorado, muito elaborado, que dava emprego a muita gente.
Dias depois, as tirinhas de negativos eram-nos entregues num envelope com as poucas fotos que tinham ficado bem, para nosso desespero.
Das 36 fotografias que tínhamos tirado ao longo, às vezes, de meses, havia 2 ou 3 que tinham ficado bem. O resto…ia para o lixo.
Entretanto tudo isto passou também a ser feito automaticamente em grandes máquinas que o faziam bem e depressa. Em poucos minutos.
E com muito menos empregados…
Contei-vos esta história com a preciosa ajuda de textos compilados de inúmeras fontes, nomeadamente:
- tirados de um pequeno livro "
A História da Fotografia" incluído na publicação de Abril da Revista "
O Mundo da Fotografia", que assino com muito gosto
- mas também da Colectânea da
Time Life Books "Life Library of Photography", volume
"Light and Film"
- e, claro, de variadíssimos
sítios na Internet, entre eles: