A carta do pescador olhanense á namorada


Contexto desta carta:


Um jovem pescador pouco dado às letras, pede a um companheiro da companha da pesca, mano Manel, em plena faina, que lhe escreva uma carta à namorada queixando-se das relações entre si e o pai dela.


Tentem perceber…





A Marginal de Olhão (as Docas como lhe chamam hoje) no início do Sec XX





<< À diase do mar dase Berlengase, a sete braçase e mêa de mar, empensarem-se ase grosêrase.

Disto, vem de lá o cabrã do tê pai e me dezeu ele assim :


- Mó ó móce ! tu ése um montanhêre, tu fazes um grande salcrafice em virese ó mar.
- Ma o que é que você me dize, hom
- Digue-te iste e nã casase ca nha filha !



- Allamese! Farcisca! ê cá antese cria cu tê pai me desse doi ó trê estragaços da cara, que me dessesse aquil que tá ali da frente de gente.



Viémese pá terra e a companha do barque nã falava doutra coisa.

Disto, vem de lá o mano Zé Chaveca  e me dezeu ele assim:


- Mó, ó móce! Tase-te a ralar?
- Atão nã m´ êde ralar?
- Nã te ralese rapá, se nã casarese cúa filha dele casase ca minha!


É pra que vêisase, Farcisca, cainda tenhe pretendentase.


Tu pen-sase cú tê pai é o Prencêse D. Carlos? A tua mãi a Rainha D. Imélia e os tês ermãos os Enlefantesinhos?



Alhamese! ele é mai brute cá mãi dos penhêrese do mane João Luice.



Dêxa lá cuma viage quê face ó mar de Larache , ganhe o denhêre às braçadase.

Compre um chapéu de côque, uma vengala botas de rengedêra e tapadoiro.

Passe a barlavante da tu porta e arraste os peses comó gale. Tu vêse me e falase-me, mai ê cá veje-te e nã te fale.


Ah! sabes o quê cá quere, é que nã falese mal da nha pelha prêces rebêres e tainquese.


Ai, se maparece alguma noda do mê corpe..

Digue logue que forem vocêse que me fizerem mal, calha bem !


Ah! sabes o quê cá quer tamém? É que nã te esqueçase dos mês doze brenhoisinhes (ponha lá iste da carta mano Manel quela logue mentende).


Olha, agora só da nh’ avó erdi deze moedase e o estrafêgo todo da canóa.


Ê cá bem sei que tense uma menita maineca de queztura e quése muite perfêta de mâose.


Também ê cá sou!...
Digue-tiste e nã memporta com o pórque do tê pai.


Perdoi a arção.

Embroise >>

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NOTAS:

estragaços da cara - bofetadas

companha do barque - tripulação do barco

penhêrese do mane João Luice -





















João LúcioAdvogado e Poeta Olhanense tinha um chalet, hoje  histórico, transformado na Ecoteca de Olhão/Casa-Museu João Lúcio, na sua Quinta de Marim no meio de um pinhal nos arredores de Olhão (dentro da sede do Parque Natural da Ria Formosa)





















O Chalet antes do restauro


VER:

Video do Chalet


mar de Larache - costa Marroquina, Noroeste
tapadoiro - polainitos