PEDAÇOS DE VIDA - Mano Rei

 





 



      Olhão



Tornei-me “olhanense” em 1987 quando para lá me mudei sem armas e muito pouca bagagem.

Tornei-me olhanense pela forte empatia com o espírito das gentes com quem comecei a lidar. E foi com toda a espécie de gente. Desde o Manel da mercearia, que mais tarde me alugou uma casa, até ao Eusébio, um Mestre que manobrava a sua traineira como só as melhores gentes do mar o sabem fazer.

Uma das primeiras casas que quis alugar em Olhão, foi um negócio que não correu muito bem, aluguei depois a casa do Manel. Não correu bem só porque não me alugaram aquela casa, a que eu queria e que estava disponível, na altura.

Eu conto o que aconteceu.







Foi á porta da um magnífico pequeno prédio Arte Nova, dos muito poucos que Olhão ainda tem, o segundo á direita do Restaurante Kinkas, aqui na imagem do Google Earth, que o diálogo se desenvolveu.

Atravessava uma fase da minha vida que me levava a viver um recomeço. Provavelmente demonstrava alguma vivacidade menos contida o que levou a senhora em causa a desconfiar do personagem que tinha á sua frente. Não deve ter desgostado da pessoa em si, mas do que lhe pareceu que poderia estar por detrás de tal desempoeirado pretendente á casa que tinha para alugar. E como tal achou por bem dar-me uma nega.

E aqui entra o espírito olhanense que me começou a cativar.

- Não, não lhe alugo a casa. Mas espere aí. Espere aí, que eu já venho.

E entrou no prédio e subiu ao primeiro andar.

Admirado, resolvi aceitar o momento de espera e ver no que aquilo dava.

Esperei pouco. A senhora desceu pouco depois e disse.me:

Olhe, tome lá estas latas de atum e desculpe, mas não lhe alugo a casa.

Nas mãos fiquei com três ou quatro vulgares latas de atum, que comi, obviamente...



Olhão, para mim, teve mais ou menos este início. Terra de conservas, é bem de ver.

Quanto ao Kinkas, de cujos donos, o Kim e a sua simpática mulher me tornei amigo, comi ali grandes almoçaradas, naquela esplanada…

De início fazia-me alguma confusão entrar, por exemplo numa espécie de drogaria e loja de ferragens que houve logo no começo da rua das compras, a rua principal, a rua do Comércio. Há já muitos anos que esse estabelecimento não existe.

O empregado, de quem tive de ficar também amigo, não tive outro remédio, tratava normalmente mal alguns clientes.

Os diálogos, pareceu-me nas primeiras duas ou três vezes que lá fui, só podiam vir a acabar com um deles a saltar por cima do balcão e desatar às bofetadas ao outro.

Mas não. Acabavam sempre a tratarem-se por tu, o mais cordialmente possível, são 5 parafusos inox e um litro de aguarrás. São 10 escudos. E pronto…

Até que comecei eu mesmo a entrar naquelas guerras onde valia tudo de modo até a pôr os incautos clientes, menos apercebidos, quase a fugir da loja, também.

Outro dos grandes amigos que por lá fiz, um grande e saudoso amigo que já não está conosco, foi um passageiro meu, na Air Atlantis, embarcado na Alemanha e vestido de enormes bermudas coloridas. Tive que meter conversa com o avantajado passageiro, olhanense emigrante na Alemanha, que emanava boa disposição por todos os poros, naquela cabina cheia de gente agradada, que vinha de férias para o Algarve.

Como demonstrasse conhecer Olhão palmo a palmo e toda a gente, perguntei-lhe se conhecia alguém que tivesse uma casa de férias para alugar a um familiar meu.

Disse-me para o contactar (ainda não havia telemóveis) no dia seguinte.

-Sr Pinto, mas como?
- Toda a gente me conhece em Olhão! Pergunte pelo Pinto da Alemanha…

Foi o que fiz. No dia seguinte fui meter gasolina no meu Diane, na Galp do Clube Naval e perguntei ao homem da bomba se conhecia o sr. Pinto.

Pinto? Sim, ele chama-se Pinto.

Quem? O Pinto da Alemanha?

Conhecia, claro. 

Pinto da Alemanha tinha fugido num barco, nos anos 60, para os Estados Unidos. O barco foi primeiro a Hamburgo e aí avariou durante três meses. O Pinto pensou melhor e resolveu abandonar a ideia da América e ficou por lá.

Em Hamburgo.

Depois de muitas peripécias, acabou por se tornar proprietário de um Restaurante Argentino (é mesmo verdade!) que se tornou famoso e com selecta clientela e tudo!

Na casa do Pinto, em Marim, Olhão, eu vi fotos dele, nesse Restaurante, a cantar com o Frank Sinatra e outras celebridades que o visitavam regularmente. Além da magnífica carne que ele importava da Argentina para servir aos amigos, quando se reformou…

A minha casa não ficava longe da dele.

Podia contar-vos histórias sem fim de outros ilustres olhanenses que me encheram a alma de muita vida. Gente simples. Mas gente forte. Gente autêntica, principalmente.

A ideia desta história é dar-vos conta de dois ou três episódios que só olhanenses podiam materializar. Episódios que encontrei num livrinho:

- “História breve da Vila de Olhão da Restauração” de Antero Nobre. Uma edição da APOS – Associação de Valorização do Património Cultural e Ambiental de Olhão

Como sabeis, ou talvez não (e a culpa é dos olhanenses que pouco ligam ao caso) foi em Olhão que começou a revolta contra a invasão francesa de Junot.






A família Real tinha já deixado Lisboa rumo ao Rio de Janeiro, no dia 29 de Novembro de 1807, não sem antes o Príncipe Regente D. João ter, por decreto real de 26 desse mesmo mês, ordenado que o nosso povo recebesse com “uma generosa hospitalidade” os invasores.

Por todo o Algarve assim foi e quando no dia 23 de Fevereiro de 1808 as tropas do General Maurin entraram alegremente em Faro, bem recebidos, tiveram, logo em Abril, de mandar instalar em Olhão una guarnição militar para acalmar os ânimos daquela gente, os únicos no Algarve, que não viam com bons olhos tal invasão.

“Generosa hospitalidade”? Alguma vez!? Exército francês, aqui!?! Está bem, está…

Dois meses depois, a 16 de Junho, os olhanenses derrotam o exército de Napoleão junto á ponte de Quelfes, que foge a bom fugir.



Três dias após a revolta e depois de, finalmente, outras cidades se juntarem a Olhão, cria-se a Junta Suprema do Reino do Algarve, um Governo que assume a regência do Reino em nome do Príncipe D. João enquanto este não regressasse do Brasil. Para chefiar esse Governo foi nomeado o conde de Castro Marim, D. Francisco de Melo da Cunha de Mendonça e Meneses.

E para que a coroa, no Brasil, soubesse do que se estava a passar, que os franceses de Napoleão estavam de regresso á Gália com o Asterix, o Obelix e os franceses todos, de onde nunca deviam ter saído, (olhanenses não tinham nada a ver com romanos…) um homem do “lugar de Olhão”, nem vila era, Miguel do Ó, ofereceu um caíque para servir de correio marítimo para que se desse a boa nova ao Príncipe Regente.

O caíque, que ficou conhecido pelo nome de “Bom Sucesso, partiu para o Rio de Janeiro no dia 7 de Julho de 1808 pilotado por Manuel de Oliveira Nobre, o mestre Manuel Martins Garrocho e outros quinze tripulantes.



A réplica do Bom Sucesso, um barco com cerca de 20 x 5m     




Pararam no Funchal, para fazer aguada, no dia 14 de Julho, 19 anos depois da tomada da Bastilha…

Coincidências, digo eu…

Aí, o piloto do caíque deu de caras com um jovem que já tinha navegado de Lisboa a Macau, um tal Francisco Domingos Machado e convidou-o para os ajudar a dar com o Brasil, que aquilo fica longe mas nada que não se possa achar…numa viagem onde se navegou sem sextante nem mesmo cartas náuticas, sem nenhum mapa. Foram… Pronto! Em lado nenhum se diz se levavam, ou não, agulha de marear…

Chegaram. Chegaram mesmo á Baia de Guanabara no dia 22 de Setembro, dois meses e meio depois, sendo pessoalmente recebidos pelo Príncipe Regente, que os agraciou, a cada um, com um conto e duzentos mil reis. Além disso comprou-lhes o caíque por 6000 cruzados para o expor no Arsenal da Marinha da corte brasileira. Agraciou-os também com várias patentes militares, vários hábitos da Ordem de Cristo e um iate novo para voltarem a casa.

Elevou o lugar de Olhão a “Vila de Olhão da Restauração” com os mesmos direitos das mais notáveis vilas de Portugal e criou também o título de “Conde de Olhão”.

Mas não é só destes acontecidos que vos quero dar conta. Mas também não esqueçam que foi graças a isto que Olhão passou a chamar-se para sempre e com orgulho, “Vila de Olhão da Restauração”. Hoje é cidade. De uma Restauração já meio esquecida…



Painel de azulejos com a chegada do Bom Sucesso á Baia de Guanabara




Agora que estamos a viver a covarde invasão da Ucrânia por um país que em vez de lutar homem a homem, manda mísseis de cruzeiro bombardear civis, quero relatar-vos o que os olhanenses têm a ver com a Ucrânia.

Olhanenses com a Ucrânia?! Sim…com a Ucrânia!

Olhão, a partir de meados do século XIX, começa a ter um desenvolvimento grande através de trocas comerciais, normalmente contrabandeadas, está-se mesmo a ver…realizadas por via marítima, usando todo o tipo de navios, como chalupas, palhabotes, caíques e barcas. Os negócios faziam-se no Norte de África, Mar de Larache e pelo Mediterrâneo mais próximo.

Em 1864 tinha sido criada a Capitania do Porto de Olhão, que por sua vez tinha sido construído em 1857, por iniciativa de uma falida Câmara Municipal de Olhão.

A Alfandega já existia, desde 1842, não sei bem para quê, nem se conseguia arrecadar algum dinheiro… “com um quadro de pessoal privativo constituído de começo por um director, um tesoureiro, um verificador, um escrivão de receita, um escrivão de carga e descarga, um porteiro, um meirinho, quatro guardas de bordo, um patrão e três remadores” tal como diz o livro acima referido.

Palpita-me que os remadores serviam somente para levar o pessoal da Alfandega a banhos para a Culatra, mas posso estar enganado.

Com os negócios a prosperar, quase sempre fugidos aos impostos, com aqueles barcos vendia-se, fora de portas, peixe e fruta algarvios e compravam-se sedas, veludos, tapetes, bugigangas de valor, cereais e por aí fora que, sem passarem nunca pelos direitos aduaneiros, eram depois vendidos por todo o Algarve.

Porém, porém, a viagem de contrabando, olhanense, mais famosa que se conhece, relatada no livro, foi a que se realizou em 1871.

Convém sentarem-se bem para lerem o que vos vou relatar...

António da Silva Guerreiro, marítimo de Olhão e proprietário do caíque “Urso”, cismou, cismou, falou com uns quantos e tomou a decisão da sua vida. Havia de ficar rico! E ficou mesmo. Tornou-se um dos mais abastados proprietários do Termo de Olhão.

E o que fez ele?

O António da Silva Guerreiro conseguiu convencer uns quantos outros marítimos amigos, como o piloto António de Jesus e os tripulantes António da Silva Trindade, Manuel da Costa, José Martins Facada e Manuel João Gomes, para a sua causa.

Não sei se eram também pescadores, aliás mariscadores, ou se compraram somente, mas o que se sabe é que conseguiram umas toneladas de biqueirão que meteram em salmoura.
Tudo bem embalado, bem-acondicionado, meteram-se ao caminho, no “Urso”, Ria Formosa fora.



Urso era assim     



Foram até á ponta da Culatra junto á Ilha da Armona, entraram no Oceano Atlântico e rumaram a Leste, a caminho do Estreito de Gibraltar.

Passado o Estreito, continuando a rumar a Leste, atravessaram todo o Mar Mediterrâneo, sempre encostados ao Norte de África, passaram entre Malta e a Sicília, contornaram a Grécia, entraram no mar de Creta, subiram ao Mar Egeu, atravessaram o Estreito de Dardanelos, entraram no Mar da Mármara, passaram por Constantinopla, meteram-se pelo Estreito do Bósforo até irem parar ao Mar Negro.
Aí, finalmente (digo eu, que só escrever isto, cansa…) a chegar quase ao destino, já cá estamos! rumaram a Norte e foram ter... aonde?

Imaginem!


A Odessa…

Nesta viagem gastaram 31 dias.

Já para o final da viagem, nos Dardanelos e em Odessa, foram muitos os oficiais de marinha de diversas nacionalidades que visitaram, espantados, tão pequeno barco que de tão longe partira.

O que era Odessa nessa altura?

“O guia de Robert Sears  de 1855  para o Império Russo, dizia que "talvez não haja nenhuma cidade no mundo em que tantas línguas diferentes possam ser ouvidas como nas ruas e cafés de Odessa. A população, multicultural, é composta por russos, tártaros, gregos, judeus, polacos, italianos, alemães, franceses, etc."



      Odessa em 1850



Em particular, Odessa atraia os migrantes judeus porque a cidade estava localizada no extremo sul da área do Império Russo à qual os judeus estavam confinados. Isto significava que os judeus poderiam instalar-se lá com poucas restrições, tornando a cidade um destino atraente. “(texto de “ODESSA”, por Isabella Buzynski.

No final do século XIX, Odessa tornou-se a quarta maior cidade do Império Russo.


















Naquela época, Odessa foi abençoada, ou amaldiçoada, com muitos cafés. Em 1894, o jornal Proshloe Odessy relatou a existência de cerca de 55 cafés e casas de chá, 127 padarias e 413 restaurantes na cidade. 

Em meados do século XIX, Odessa tornou-se cidade-resort famosa entre as classes altas russas. Essa popularidade gerou uma nova era de investimentos na construção de hotéis e projetos de lazer.




Em Odessa, como esperavam aqueles olhanenses sabidos, venderam a muito bom preço aquela iguaria nunca vista por ali.

E o que fizeram ao muito, muito dinheiro arrecadado?

Investiram-no.

Compraram toneladas de trigo e artigos orientais que depois, no Reino dos Algarves, venderam, de novo, a muito bom preço…sempre a leste da Alfandega, claro.

A viagem de regresso demorou 45 dias. Suponho que por causa de algumas vendas que tivessem feito durante o caminho. Não sei.


Vamos agora ao último trecho desta história, que é a que define melhor o caracter das gentes de Olhão.

Mas antes é preciso dizer que Olhão foi dos primeiros Municípios portugueses a declarar-se Republicano. Logo no dia 12 daquele mês de Outubro de 1910, o Vice-Presidente em exercício da Câmara Municipal, Padre Francisco Inácio dos Reis, deu posse a uma Comissão Administrativa do novo Município Republicano.





Muito antes deste acontecimento histórico, o Rei D. Carlos, um homem dedicado ao mar, sabia perfeitamente onde escolher os seus colaboradores mais capazes e experientes para tudo o que dissesse respeito ás suas famosas e muito apreciadas actividades oceanográficas.

Por essa razão, naturalmente, era aos marítimos olhanenses que confiava tudo o que dissesse respeito á faina no mar.

No seu iate D. Amélia, por exemplo, o Mestre era o olhanense Trabucho, bem como a maioria dos tripulantes.

As galeotas reais eram remadas por olhanenses.

Durante as suas viagens de estudos oceanográficos, percorrendo amiúde as costas portuguesas, encontrava frequentemente pequenos barcos de pesca olhanenses a quem dava muitas vezes reboque. Ou convidava mesmo os pescadores a subirem a bordo para falar com eles, partilhando alguma coisa de comer enquanto trocavam impressões sobre o mar ou o pescado conseguido ou não e porquê.

Acudia-lhes em caso de mau tempo ou naufrágio, dando-lhes agasalho a bordo do iate, levando-os para casa, dando-lhes algum dinheiro para os compensar dos prejuízos.



      Iate D. Amélia IIII, navio Oceanográfico mas também vaso de guerra, mais tarde renomeado "Cruzador 5 de Outubro".



Naturalmente que os olhanenses olhavam para o Rei como um deles. Um homem do mar como eles. Um homem como eles. E como era isso que sentiam, era assim que lhe correspondiam.

As muitas “guerras” que os políticos e os jornais debitavam contra a Monarquia, não era coisa que os demovesse da empatia que sentiam para com aquele homem que era como eles, fosse ou não Rei. Um autêntico e simples marítimo...







Quando o Rei ia a Olhão era sempre recebido com muita alegria, com muita amizade. Como um deles.

Ao Rei, de visita á Vila e provavelmente sempre que o encontravam em alto mar, tratavam carinhosamente por 

“mano Rei”.




O seu assassinato deixou uma profunda tristeza nos olhanenses.


E é por estas, mas também por muitas outras razões, que nunca me canso de manifestar o meu apreço e saudade pelos meus manos olhanenses…



E a eles dedico hoje esta história.

No dia 27 de Março de 2022.

Dia em que o blogue fez 11 anos


LINHA AÉREA e outros voos - Travessia 8 - As homenagens no Brasil e o regresso a Portugal

 




Os nossos Heróis foram recebidos no Brasil como isso mesmo, como verdadeiros Heróis que eram, mas também como irmãos, pela forma com que foram acarinhados.


E não foram só eles os homenageados.


Os tripulantes do Paris City, aparentemente esquecidos desde a acção de salvamento no mar até á chegada ao Rio de Janeiro, no dia 18 de Maio (um mês antes de Sacadura Cabral e Gago Coutinho) foram alvo de manifestações de muito apreço pela agradecida colónia portuguesa e sociedade Brasileira.


No dia anterior ao da chegada já o Comandante Tamlyn recebia vários convites para sentidas homenagens!













E no dia 27 de Maio recebeu a notícia, entregue pessoalmente pelo nosso Embaixador no Brasil, Duarte Leite Pereira da Silva, de que fora agraciado com o grau de Cavaleiro da Ordem de Cristo, “em atenção à eficácia e prontidão dos socorros prestados pelo navio do seu comando aos aviadores portugueses.


Uma condecoração que muito apreciaria, além do orgulho de ter salvo aqueles dois "bravos homens" por quem já sentia uma forte empatia e amizade, especialmente com Gago Coutinho, sentimentos que se prolongariam por toda a sua vida.


Vamos a um breve resumo de tudo o que aconteceu após o emocionante encontro de uns e outros depois da chegada dos nossos Heróis ao Rio de Janeiro.


O Capitão Tamlyn recebeu homenagens na Câmara Portuguesa de Comércio e Indústria do Rio de Janeiro, e no Centro Luzitano D. Nun’Álvares Pereira demonstrativas do reconhecimento pelo seu gesto admirável.




Nesta imagem, o Capitão Tamlyn, o 4º a contar da esquerda, recebe, na Câmara Portuguesa de Comércio e Indústria do Rio de Janeiro, as mensagens de agradecimento a si dirigidas pela Colónia Portuguesa do Rio de Janeiro.














Em resultado de tanta homenagem,

o cargueiro inglês, viu-se na obrigação de

oferecer uma grande recepção

a toda a sociedade carioca




Recepção a que compareceram 400 pessoas e em que as senhoras traziam

grandes ramos de flores” em homenagem à tripulação do Paris City.



Com a chegada do Hidro Santa Cruz à Baía de Guanabara, no dia 17 de Junho de 1922, deu-se o reencontro dos aviadores com quem os tinha salvo em pleno mar.



Mas triunfal, triunfal, foi a recepção a Sacadura Cabral e Gago Coutinho no Rio de Janeiro.

Já há uns dias que se esperava com grande ansiedade e muitos preparativos, a recepção aos dois heróis.

Ainda por cima, no dia previsto para a chegada, 17 de Junho, caiu sobre a cidade um manto de nevoeiro como que a reconstruir a lenda do desejado, tal era o desespero por se temer a provável impossibilidade de eles conseguirem amarar naquele dia, naquelas condições.

A prova disso é o texto da notícia dos acontecimentos, publicado no jornal "A Tribuna", de Santosno dia seguinte, 18 de junho de 1922, que passo a reproduzir.






Reza assim:


"RIO, 17 – Às 11 horas, mais ou menos, a esquadrilha de aviões da Escola de Aviação Militar, que deve ir receber fora da barra e comboiar até a baía o Fairey 17, começou a fazer evoluções ao largo.

A esquadrilha de Breguets irá esperar os aviadores na altura de Cabo Frio. Compõe-se a esquadrilha de quatro aviões, pilotados pelo tenente Ruben de Mello e Souza e pelos sargentos-aviadores Noemio Ferraz e Moraes Pereira, sob o comando do capitão Vieira de Melo. No aparelho do comandante, que é de duplo comando, seguirá também a aviadora paulista Thereza de Marzo.

Os aparelhos guardarão a altura de 1.000 metros, nunca descendo ou subindo além dessa altura, e guardando, entre si, uma distância de 50 metros. Formará essa flotilha na retaguarda da flotilha da Escola de Aviação Naval, deixando ao centro o aparelho de Sacadura Cabral e Gago Coutinho, que entrará, assim comboiado, na baía do Rio de Janeiro.






RIO, 17 (15 horas) – É inenarrável o entusiasmo que se apossou da formidável multidão que se aglomerava por toda a parte de onde se podia divisar o horizonte a ser cruzado pelas asas gloriosas do Santa Cruz, quando o aparelho apareceu ao longe.


O Fairey 17, circundado pelos aviões do Exército e da Marinha nacionais,

surgiu quase de surpresa por entre os picos da Serra dos Órgãos.


Os aparelhos que foram receber os gloriosos aviadores portugueses voavam mais baixo, ao passo que o Santa Cruz se conservava a elevada altura, oferecendo esse conjunto um espetáculo magnífico e empolgante.

S. PAULO, 17 – A Associação Comercial enviou um telegrama de congratulações aos aviadores Sacadura Cabral e Gago Coutinho.

S. PAULO, 17 – O cônsul de Portugal enviou telegramas de congratulações, pela chegada dos aviadores ao Rio, ao presidente da República portuguesa, ministro dos Estrangeiros, presidente da Câmara de Lisboa, ministro de Portugal no Rio e aos aviadores Sacadura Cabral e Gago Coutinho.



      O Hidroavião chega rebocado á Ilha das Enxadas e no bote Gago Coutinho muda rapidamente de roupa.



RIO, 17 – Ao desembarcarem na Ilha das Enxadas, Gago Coutinho e Sacadura Cabral foram abraçados por todas as autoridades presentes, marinheiros nacionais etc.

Em seguida, os aviadores, numa lancha da Marinha, acompanhados por membros da comissão de festejos, camaradas brasileiros e outras pessoas, dirigiram-se à praça Mauá, onde se deu o desembarque.



      Chegada á Praça Mauá


Aí, o entusiasmo da multidão foi enorme, enquanto os representantes do governo federal, membros do Congresso Nacional, representantes das colônias portuguesas de S. Paulo, Santos, Campinas e Belo Horizonte, e muitas outras pessoas, cumprimentavam os arrojados pilotos portugueses.

Logo após, formou-se um extenso cortejo. O que se passou nessa ocasião constituiu um verdadeiro triunfo, que tocou as raias do delírio.









Da praça Mauá, o cortejo seguiu para a avenida Central (pela mão de subida), avenida Beira-Mar, até a avenida da Ligação, voltando na Amendoeira e descendo pela mesma avenida, até ganhar novamente a avenida Central (pela mão de descida), com destino ao Palace-Hotel, onde o cortejo se dissolveu.

O que se passou durante o desfile é verdadeiramente indescritível: 

- os brados da multidão misturavam-se aos apitos das sereias de dezenas de lanchas, vapores e vasos de guerra, cujas tripulações formavam no tombadilho.

Em terra, a massa popular, delirante, continuava a erguer vivas e hurrahs à vitória final dos heróicos portugueses.



Entretanto em Portugal, mal se soube da chegada dos heróis ao Rio de Janeiro, o entusiasmo não foi menor e a baixa lisboeta encheu-se também de portugueses orgulhosos.



RIO, 17 – Interrogados a respeito da sua viagem …

Disseram mais que se sentem maravilhados com a recepção que tiveram no Rio de Janeiro, pois não contavam receber uma tão carinhosa manifestação de apreço. Assim, o acolhimento que lhes foi dispensado excedeu as suas melhores expectativas.

Quando saltaram na Ilha das Enxadas, muitas moças os abraçaram e beijaram. Foi um verdadeiro delírio.

- Neste momento, os aviadores já se acham em terra, e as "sirenas" dos vapores e jornais anunciam a sua chegada.

Todos os jornais publicaram edições especiais, prometendo editar outras."









A 18 de Agosto na continuação das festividades, organizou-se um jantar de gala no Palace Hotel do Rio de Janeiro (aquele que Gago Coutinho sempre preferia nas suas várias visitas ao Brasil) O Capitão Tamlyn receberia até um convite escrito para esse jantar, a acompanhar a ementa.





Mas foram muitas as manifestações de carinho e apreço de que os dois heróis foram alvo...


"A população da cidade fez a apoteose magnífica do heroismo, aclamando Gago Coutinho e Sacadura Cabral

na mais espontânea, na mais eloquente, na mais grandiosa manifestação popular em que há memória no Brasil".

 ("O Paiz", 18 de junho de 1922). 



A francesa Arienne Rolland e a brasileira Thereza di Marzo, ambas com licença de piloto,

ladeadas pelos heroicos aviadores Gago Coutinho e Sacadura Cabral.


A piloto brasileira Thereza di Marzo, á direita, aqui na foto, pilotava em duplo comando o avião que chefiava a esquadrilha de Breguets que foi esperar o Santa Cruz a Cabo Frio, no dia da chegada ao Rio de Janeiro. Comandava o avião chefe da esquadrilha o capitão Vieira de Melo



Recepção, provavelmente no Pão de Açúcar



      No Pão de Açúcar





Numa visita de trabalho, Gago Coutinho com o Tenente Mario da Cunha Godinho

na Escola de Aviação Naval, no Rio de Janeiro, no dia 26 de Junho de 1922






Gago Coutinho e Sacadura Cabral,

no Brasil






Sempre bem acompanhados...



      
      Gago Coutinho e Sacadura Cabral posando ao lado das esposas e filhas dos diretores do Clube Português, 5-7-1922





Gago Coutinho e Sacadura Cabral no Rio de Janeiro, no dia 30 de Junho de 1922


      No Palácio do senhor Bernardo Martins Catarino 


      Recepção em S. Paulo da colónia portuguesa no Trianon



      Gago Coutinho e Sacadura Cabral,
com o Presidente brasileiro Epitácio Pessoa


E foi neste turbilhão de homenagens, convites para palestras, ofertas de terrenos, festas, muitas festas, que Sacadura Cabral e Gago Coutinho foram ficando pelo Brasil, a saborear a glória de um feito único, marcado por um honroso primeiro lugar na História.


Foram os primeiros a voar tão longa distância, mais de 900 milhas náuticas, sobre o mar, durante quase 11horas e meia, sem ponto algum de referência, ao encontro de uns quantos penedos, servindo-se da ciência e da inteligência para tornar possível, em definitivo, a Navegação Aérea.

Com um processo exactamente igual ao que eu usei para voar Boeings B 707 de Lisboa para Nova Iorque, 50 anos depois.

O mesmo processo que era usado por toda e qualquer companhia de aviação em qualquer parte do Mundo, até ao início dos anos 70 do século passado.



O regresso a Portugal:











Aquele grande amor de todo o Brasil a Portugal, na pessoa daqueles dois Argonautas Heróis, tinha forçosamente de sofrer uma dor.

A da separação, da partida, sempre anunciada, dos dois a casa.

Portugal foi ao Brasil dar um abraço fraterno pelo Primeiro Centenário de uma separação que também foi dolorosa para muitos.

Mas, embora separados, nunca deixámos de nos sentir mutuamente irmãos.





Sacadura Cabral e Gago Coutinho regressaram a Portugal

a bordo do navio "Porto" em Novembro desse mesmo ano de 1922 








A respeito desta viagem, encontrei este texto na "Ilustração Portugueza" (arquivada na Hemeroteca Municipal de Lisboa) no número 872 - 0443. O texto não está assinado.

Dá-nos uma ideia do ambiente que se viveu durante a viagem e levou-me á certeza de umas dúvidas que se me puseram ao observar as fotos tiradas no Brasil aos nossos dois heróis.

Na maioria das fotografias, o Senhor Almirante Gago Coutinho parece estar sempre a surfar num mar de jovens belezas que nunca o largam, enquanto Sacadura Cabral, mais sisudo e recatado, menos dado a redes sociais, nunca larga os seus compridos cigarros...



Leiam este texto que aqui reproduzo por completo





Como todos os grandes homens, Gago Coutinho e Sacadura Cabral são de uma afabilidade extraordinária. Convivem, a bordo, com toda a gente, mantendo, principalmente Gago Coutinho, o inalterável bom humor. Levanta-se cedo; às 6 da manhã já se encontra na ponte de comando. Depois, desce ao ginásio, a fazer ginástica nas argolas. Ao meio-dia, para não perder o costume, é infalível, outra vez na ponte, a tomar as alturas.

As noites passam-as, os 2, fazendo interessantes sortes de prestidigitação, que muito divertem os outros passageiros: Gago Coutinho, com cartas de jogar; Sacadura, com lenços e outros objetos.

A preocupação constante de Gago Coutinho é esquivar-se às manifestações que, consta, lhes estarão preparadas em Lisboa, a ele e ao seu companheiro da travessia, comentando, ao referir-se àquelas de que, durante uns poucos de meses foram os 2, alvo no Brasil:


Chamam-nos heróis... Não há dúvida!... Heróis... da resistência!


Outro comentário da Gago Coutinho, ainda sobre o mesmo assunto:


- Estou farto de representar o papel de herói! Prefiro, agora, uma rábula de pouca importância, na peça...


Ainda outro:


- Em chegando a Lisboa, não sei para onde ir, que me deixem descansado. O que me convinha era um hotel com muitas saídas e poucas... entradas...


Uma dama que vinha a bordo, fumando, pergunta-lhe:


- Não acha chic, almirante, ver uma senhora fumar?


- Eu lhe digo: se essa senhora fosse minha senhora, tenho a impressão de que dormiria com um oficial de artilharia...


Tratava-se de obter perdão para uns marinheiros que haviam incorrido em qualquer pequena falta disciplinar e foram pedir a Gago Coutinho para interferir, nesse sentido. Comentário do almirante:


- E aqui está como um homem vai para O Brasil pelo ar e volta do Brasil rastejando, a mendigar...


Apesar disso, escusado será dizer que acedeu da melhor vontade o que lhe pediam.

Ainda um “bom dito”, mas, este, não dele, embora se lhe refira direta e... intimamente.

Afirma-se a bordo, de facto, que, tendo tido, Gago Coutinho, uma qualquer aventura galante, em qualquer ponto do Brasil - não terá sido só esta... - a dama distinguida pelo herói do ar, no auge do entusiasmo pela distinção recebida, lhe repetia meiga, agradecida e orgulhosa(?):

- Que pena, não poder contar à família!...


O Porto, quanto mais vinha aproximando-se da costa portuguesa, mais milhas deitava. O que não quer dizer que alguma vez conseguisse deitar... muitas. Gago Coutinho, observando o fenómeno, comentou com discreta ironia:


- Sim senhor! O navio, de dia para dia, caminha mais e, por este andar, quando menos nos precatarmos, amanhecemos fundeados no Tejo... Ou não sentisse ele o cheiro da casa...


No Funchal o ator Henrique Alves, que viaja connosco, promoveu um sarau, no teatro, que teve uma enchente. Assistindo, aos espectáculos, Sacadura Cabral, aquele ilustre artista saudou de cena, em breves, mas caloroso termos, fazendo entusiástico elogio da proeza dos aviadores.

Então, Sacadura, levantando-se, bradou, mesmo da platéia, com voz vibrante:


O ator Henrique Alves é um intrujão!


Movimento geral de espanto, até que, retomando o comandante Sacadura, a palavra, insistiu:


- É um intrujão repito e vou prová-lo: tudo quanto disse, para aí, a nosso respeito, é falso! O que nós fizemos não tem a menor importância! No lado de Portugal, a aspiração de muitas centenas de milhares de almas impelia-nos para a frente; do lado do Brasil, a de outras tantas, atraía-nos. Por isso fomos e voltámos, visto que nos seria difícil voltarmos, sem termos ido...



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E num dia de Novembro de 1922,

o navio "Porto", quando menos se precataram,

amanheceu mesmo fundeado no Tejo,

escoltado por Terra, Mar e Ar...









      Gago Coutinho deixa o navio


      E no Terreiro do Paço, era o delírio:




Nos Restauradores, também



      e debaixo de muita chuva...



Tempos depois, na Sociedade de Geografia, em Lisboa, com o Presidente da República António José de Almeida, único presidente da 1ª República a cumprir integralmente o seu mandato




      Na Praça Afonso de Albuquerque, após visita aos túmulos de Camões e Vasco da Gama




Desconheço se Gago Coutinho ficou sossegado...

no tal Hotel com muitas entradas e poucas saídas.






O espólio do Comandante A. E. Tamlyn que está no MUSEU DO AR:



Com o convite de Gago Coutinho ao Comandante Tamlyn para o jantar de gala no Palace Hotel do Rio de Janeiro no dia 18 de Agosto de 1922, deu-se início a uma correspondência muito especial trocada entre ambos.

A grande maioria da correspondência enviada por Gago Coutinho ao Comandante Inglês, foi escrita sempre no mesmo dia. 11 de Maio, de diversos anos, nomeadamente 1929, 1932, 1934, 1936, 1939 e 1946.

Um dia que, obviamente jamais esqueceria...

Eram sempre cartas, ou outro tipo de correspondência, que abordavam a mesma memorável noite em que o Comandante do Paris City "os tinha pescado", como com humor dizia o Almirante Gago Coutinho, salvando-lhes a vida...

A última carta foi enviada no dia 11 de Maio de 1946.

A carta anterior tinha sido escrita em 1939 e dois anos depois o Capitão Tamlyn morria em Glasgow, sem Gago Coutinho ter sabido da triste notícia


Um exemplo de uma das cartas de Gago Coutinho para o Capitão Tamlyn, esta de 11 de Maio de 1936, escrita a bordo do paquete Cap Norte:

Dear Captain Tamlyn (...) two days ago we passed midway between Noronha island and the S. Paul Rocks, where you fished us, Sacadura and me, in a memorable night. I have not yet forgot the generous man who, so keenly, saved us and our plane (...) and so I repeat you my best heartfelt wishes of the good luck you and your family deserve. These are the feelings of all the Portuguese. I am, dear Captain Tamlyn, your sincere friend”, Gago Coutinho



Toda esta correspondência, mas não só,

pertence hoje ao acervo do Museu do Ar.



Em Março de 2008 a senhora Gwen Tamlyn, nora do comandante Tamlynacompanhada de

outros familiares, ofereceu ao Museu do Ar, em Alverca, o espólio em posse da família.


     A senhora Gwen Tamlyn é a terceira a contar da esquerda     














Além da correspondência pessoal, existem também as mensagens de agradecimento da Colónia Portuguesa do Rio de Janeiro, num livrinho elegantemente encadernado.



Mas a peça mais valiosa é um conjunto de uma fosforeira em ouro














que os nossos dois oficiais ofereceram ao comandante Tamlyn em 1922.

Esta fosforeira tinha a particularidade de ter gravado um mapa do Atlântico, com o Este e o Oeste assinalados e com um pequeno diamante elegantemente  incrustado no local do salvamento, entre os Penedos e Fernando de Noronha.






      E uma magnífica cigarreira, também em ouro, com os dizeres: 

      "TO MASTER A E TAMLYN WITH BEST THANKS FOR HIS KIND ASSISTANCE IN THE NIGHT OF THE 11th-4-1922"

      Assinam: C V GAGO COUTINHO e A.DE SACADURA CABRAL












A oferta fizera-se acompanhar de uma carta na qual lhe pediam que aceitasse aquela “pequena prenda".

Carta que ambos assinaram e onde afirmavam quenão iriam esquecer a ajuda que lhes tinha prestado na noite de 11 de Maio de 1922”. 



As artísticas e valiosas peças em ouro foram feitas nos antigos joalheiros da Coroa,

Leitão & Irmão e encontram-se em perfeito estado de conservação.







Mensagem Marconi original recebida no “Paris City” com o pedido de ajuda do cruzador “República




Telegrama de Sacadura Cabral enviado de Pernambuco para o Paris City, atracado no Rio de Janeiro




Nota: Muita da informação sobre o espólio do Comandante Albert Edward Tamlyn,

no Museu do Ar, bem como as fotos dos bens doados ao Museu, foram tirados da Revista

"Mais Alto", num artigo assinado pelo do Dr. Mário Correia e pelo Alferes Yann Araújo.

A ambos os meus agradecimentos pela ajuda.


Desconheço a data da publicação.






Índice da Travessia

 

          1 - Preâmbulo a toda a história

                       1a - Os Antecedentes, os Homens envolvidos e os Aviões utilizados. 

             1b - O voo do capitão-tenente Read

             1c - A Travessia feita pelo capitão Alcock e pelo tenente Brown

2 - Aviões empregues nestas travessias

              2a - A escolha do avião para a Travessia Lisboa . Rio de Janeiro

3 - Primeiro raid aéreo Lisboa - Funchal 

4 - O sextante modificado de Gago Coutinho 

          5 - Breves biografias de Sacadura Cabral e Gago Coutinho 

               5a - Artur de Sacadura Freire Cabral 

               5b - Carlos Viegas Gago Coutinho 

               5c - As Ordens Militares atribuídas

          6 - Preparativos para a viagem 

          7 - O voo de Sacadura Cabral e Gago Coutinho entre Lisboa e o Rio de Janeiro

           

          8 - As homenagens no Brasil e o regresso a Portugal (Capítulo actual)