(1º Curso de Pilotos da Força Aérea de 1962)
VCCs
(Velhos Como o Car****)
(Esta
expressão deve-se ao facto de o nosso curso ter sido obrigado a permanecer em
S. Jacinto, Aveiro, após o fim do curso geral em aviões Chipmunk em vez de
rumar a Sintra para voar o T-6, rumo â Guerra do Ultramar. A Base Aérea N1 em
Sintra estava atafulhada de pilotos e não havia lugar para mais nenhum. Só 8
meses mais tarde foi possível a transferência, sendo a cerimónia de
brevetamento efectuada 2 anos após o início do curso. Quase um anos mais do que
o normal...)
O texto que se segue é da autoria do meu colega de
armas e amigo Luís Pacheco.
Divirtam-se
E ainda faltam uns 10 na fotografia...
Texto do Luís Pacheco:
Princípio de mil novecentos e sessenta e dois.
Um amontoado de 60 putos apresenta-se na BA7 para iniciar o curso de pilotos P1/62 de nome oficial “Ícaros” mas de apelido mundialmente conhecido: os “ VCC’s”.
Éramos 60 jovens oriundos das mais diversas regiões de Portugal. Do Minho ao Algarve, dos Açores, da Madeira, Cabo Verde, Angola, Moçambique e até Macau. Brancos, pretos, meio pretos, meio brancos e até um chinês.
Logo no primeiro dia, depois de nos pormos muito bem ataviados com aquelas miseráveis fardas e muito parecidos uns com os outros, a meio da manhã apareceu um sargento velhote (velhote para aí com quarenta anos…), que nos mandou entrar para um anfiteatro do edifício escolar, porque o “nosso capitão” ia fazer um briefing.
O “nosso capitão” era o Capitão Alves Pereira
carinhosamente conhecido por “Féfe”.
Foi das pessoas que conheci na FAP mais afáveis,
receptivas e compreensivas.
Esta opinião parece-me ser unânime.
Outra
característica do Féfe era ser um grande gozão e que tinha prazer em sê-lo.
A
rapaziada entrou para a sala, ficamos uns minutos à espera e então entrou um
sujeito barrigudo com um belo bigodaço, ar bonacheirão e toda a gente se pôs de
pé.
Começou por nos dar as boas vindas à Força Aérea, que íamos ter um futuro bonito, etc., etc., blá, blá, blá.
Falou no dever patriótico que estávamos a enfrentar, blá, blá, blá.
Às tantas, após ligeira pausa, fitou a assistência e perguntou a um de nós que era dos mais novo, com cara de miúdo.
Você de que terra é?
Resposta do Alcino Mesquita:
- Sou de Angola, meu Capitão.
-
Muito bem e você donde é?
A pergunta era dirigida ao mais branquinho de todos e o Tocha Sequeira respondeu:
- Sou de Moçambique, meu capitão.
O capitão Alves Pereira começou a bater o pé, aparente sintoma de incerteza e fez uma vez mais a mesma pergunta:
Muito bem e você donde é?
A pergunta era dirigida ao mais branquinho de todos e o Tocha Sequeira respondeu:
- Sou de Moçambique, meu capitão.
O capitão Alves Pereira começou a bater o pé, aparente sintoma de incerteza e fez uma vez mais a mesma pergunta:
- Você donde é?
Resposta do Cavaleiro:
- Eu nasci na Guiné, meu capitão.
Aí o capitão ficou meio aparvalhado, hesitou e pareceu ir tomar uma decisão para acertar e disse apontando para o “preto” Gil Pinto de Sousa:
- Então meu rapaz, você donde é que é?
E o Gil, pôs-se em sentido e com o sotaque mais transmontano que pode haver responde:
- Ó meu capitão, eu “xou” do “pêjo da réugua.
O bigode do Féfe revirou, os óculos embaciaram, ficou corado e murmurou:
- Ora porra… então agora os brancos são africanos e o sacana do preto é de cá!! O mundo está às avessas...
Após uns segundos de silêncio, a gargalhada foi geral e o velho capitão também se riu de si próprio.
E já passaram 55 anos…
O Luís Pacheco, autor desta história, é o segundo a contar da direita
A torre móvel para controlo dos aviões em instrução
Chipmunks em formação
Foto relativamente recente do "Notícias de Aveiro"
Fabuloso!!
ResponderEliminarTanks Abraço
EliminarMaravilhoso!
ResponderEliminar(é só para aí a 30ª vez que ouço, mas rio-me como se fosse a 1ª)
Pois eu, interveniente na história, já não me lembrava... Abraço
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