Padre Himalaia
Ou seja:
Manuel António Gomes
O português que
criou,
há mais de 130 anos,
entre outras coisas extraordinárias,
uma máquina que fazia chover
e outra que atingiu 3800ºC,
só com o recurso á energia solar!
Este país, á beira-mar plantado, nada mais certo, é uma fonte de surpresas…
A história que se segue é sobre a vida de um homem que só há muito poucos anos foi trazida das trevas
novamente para a luz.
E que luz!
Como é possível um homem desta envergadura ser desconhecido
da quase totalidade dos portugueses, durante estes anos todos…
Esta história começa em...
Manuel António Gomes nasce no dia 9 de Dezembro de 1868, em Santiago de Cendufe.
Uma aldeia do Município de Arcos de Valdevez que nos dias de hoje ainda tem pouco mais de 300 habitantes.
Era um dos sete filhos de uma família de agricultores
extremamente pobres, do Minho.
Viveu praticamente toda a infância em casa dos avós, na
aldeia do Souto, muito perto de Cendufe, onde terminou em 1880,
com 11 anos de idade, os estudos elementares na escola primária local.
Tinha 15 anos quando, depois de uma interrupção nos estudos,
trabalhou na lavoura familiar.
Entrou, no seminário em Braga em 1882.
Morreu em Viana do Castelo em 1933, aos 65 anos.
Entretanto…
Não dá
para acreditar no que este homem fez…
Aos 15 anos entrou num Colégio, uma instituição criada para acolher estudantes pobres mas com bom aproveitamento escolar. Foi internado, juntamente com o seu irmão Gaspar, com vista a prosseguir os estudos conducentes a uma carreira eclesiástica,
Era, nesse tempo, o destino de alguns jovens, bons
alunos, oriundos de famílias sem recursos que não podiam suportar tais despesas
Foi aí que ganhou a alcunha de “Himalaia”, graças á
sua grande estatura.
Nome que depois adoptou como seu, para o resto da vida.
Terminado o Liceu e já durante a frequência do Seminário de
Braga revelou ter um elevado gosto pelo conhecimento científico e pelo
progresso tecnológico. Dedicava-se a fazer várias experiências e inovações nos
campos da agricultura e das ciências
técnicas.
O Arcebispo João Crisóstomo de Amorim Pessoa tinha recebido pouco antes cerca de 7000 volumes para a biblioteca do Seminário e foi lá que Manuel António Gomes, chamemos-lhe a partir de agora, “Himalaia”, aprofundando os seus conhecimentos que iam muito para além dos ensinamentos prestados aos seminaristas da instituição.
1887
No entanto, a 21 de Junho de 1887 conseguiu, mesmo assim,
completar o seminário preparatório iniciando logo de seguida o curso teológico
que o levaria á ordenação sacerdotal
A sua primeira dedução extraordinária, ainda no Seminário,
foi relacionar a associação que os pastores faziam entre a abundância de trovoadas num
ano e a fertilidade do solo na Primavera seguinte ou seja o aumento da
fertilidade com a fixação de azoto atmosférico por efeito dos raios solares.
O que julgou poder reproduzir utilizando a energia solar
concentrada por espelhos ou lentes.
1889
Munido desta idéia, em 1889, ainda no Seminário, elaborou um
método que lhe permitisse, através da captação do azoto atmosférico, aumentar naturalmente a
fertilidade dos solos.
Era preciso construir um aparelho que fosse capaz de
transformar o azoto livre em “azotatos de amoníaco”, ou seja em sais azotados
derivados da amónia.
Em Junho
de 1890 terminado o curso teológico é transferido, no Outono desse
ano, para o Colégio da Formiga, em Ermesinde, onde foi ordenado
presbítero, um ano mais tarde, no dia 26 de Julho de 1891, iniciando funções sacerdotais
e a fase prática das suas investigações solares
Por esta altura começa simultaneamente a pensar num sistema
que melhorasse a cultura das plantas através de compostos azotados que
conseguisse extrair da atmosfera usando o calor do Sol
Ainda em 1891 muda-se para Coimbra sendo
nomeado capelão no Colégio dos Órfãos, ascendendo, pouco depois a vice-reitor da instituição. Procura emprego
e matricula-se, na Universidade, no curso de Matemática..
No ano seguinte demitiu-se do cargo solidarizando-se com o
reitor, que fora acusado de violência nos castigos aplicados a alguns órfãos.
O ambiente na cidade tornara-se pesado para ele.
Resolve então deixar Coimbra e muda-se para Vila Real e pouco depois para Fânzeres, onde recebeu o apoio de Manuel de Clamouse Brown van Zeller e de sua esposa Camila de Araújo Rangel, donos da Quinta de Montezelo,
Contrataram-no como
preceptor dos seus filhos, nos cinco anos seguintes
Após 1896
Prossegue depois os seus estudos sobre a Energia Solar e
inicia longas viagens pela Europa.
Na Alemanha contactou, nas termas de Bad Wörishofen, o seu director, o padre Sebastian Kneipp, a quem se deve (a ainda existente) Terapia Kneipp e a fitoterapia
A partir deste encontro, o Padre Himalaia revelou um
crescente interesse por plantas medicinais mantendo contacto com os
principais investigadores e defensores do naturismo
Será por esta altura que o Padre Himalaia revela um grande entusiasmo pela alimentação vegetariana e por um estilo de vida que procurasse manter a saúde através de dietas bem elaboradas e de exercício físico. dando início a uma exploração sistemática do centro e Sul de Portugal, já depois de 1893, visando a recolha de espécimes da flora, em particular de plantas consideradas medicinais.
Ferdinand von Müller |
Ambos traduziram, em 1905, um manual sobre plantas úteis para
cultura em regiões extratropicais, de Ferdinand von Mueller, com o
título: “Dicionário de Plantas Úteis”
O Padre Himalaia e Júlio Henriques formaram um conjunto de colaboradores, espalhados por todo o território português, com o intuito de organizar a pesquisa da flora portuguesa, nomeadamente a sistematização de plantas medicinais Padre Himalaia também colaborou na 3.ª edição em língua portuguesa do livro “Tratamento pela Água” de Sebastian Kneipp, obra que lançou o Kneippismo em Portugal com as suas concepções terapêuticas baseadas no naturismo, em particular na defesa da hidroterapia e da fitoterapia associadas a opções dietéticas vegetariana.
No capítulo religioso utilizou o periódico “A Palavra”,
para publicar artigos de opinião em defesa da doutrina social da Igreja,
seguindo as ideias do Papa Leão XIII,
Mas o seu verdadeiro cominho estava completamente orientado para a ciência, para a investigação, com ênfase na energia Solar.
Mas entretanto, por volta de 1891, 1892, o Padre Himalaya teve um problema grave na sua carreira eclesiástica. Ter-se-á apaixonado por uma senhora casada. O que o conduziu a uma reflexão sobre o seu vínculo à igreja.
Era um homem muito sério, com uma postura muito correcta.
Pediu para ser reduzido ao estado laico, pedido que foi
recusado pela Igreja
Obediente aos ditames da Igreja mas obcecado com a ciência,
não deixou se ser padre no activo mas prosseguiu as suas experiências
tecnológicas, intensificando contactos e aprofundando conhecimentos.
Visitou, entre 1892 e 1897, o continente
africano como missionário, onde terá contraído malária
A sua sede de conhecimento leva-o, a partir de 1893 a um percurso pelo
centro e sul do País, onde recolhe diversos exemplares da flora portuguesa.
No ano de 1898 vive na cidade do Porto e lecciona como Professor de Física e Química no Colégio da Visitação, tendo participado nos trabalhos de ampliação das suas instalações.
E porque estudava, simultaneamente, técnicas de radiestesia,
descobriu água no subsolo da instituição.
Com o andamento das obras de restauro, foi o autor do
projecto de uma parte da estrutura metálica da ala norte do novo edifício anexo
ao Colégio e da estrutura da capela
Não deixou, no entanto, os seus estudos das ciências
naturais, em particular da botânica médica. Incansável,
preparou tisanas, elixires e pomadas
que ofereceu aos seus familiares e amigos e que também administrou,
gratuitamente, aos seus doentes mais carenciados.
Dirige as obras de ampliação do Colégio e é encarregue das obras de construção da ala norte do novo edifício, anexo ao Colégio.
O seu empenho na obra de ampliação do Colégio e a premente necessidade de estudar estruturas metálicas, deram origem á sua ligação á Fábrica de Louça de Massarelos e a outras unidades de construções metálicas do Porto. Eram empresas líderes na metalomecânica, dos fornos e da fundição.
Aproveita para estudar as potencialidades da construção do ferro, da metalomecânica e dos processos de fundição, tecnologias avançadas que depois utilizaria na construção do seu pirelióforo.
Vai, entretanto, deixando para trás, progressivamente, as
questões religiosas e sociopolíticas para se dedicar, cada vez com mais
empenho, ao estudo daquilo a que hoje chamamos energias renováveis,
nomeadamente a energia solar e as suas aplicações práticas.
Incansável, ainda no Porto, frequentou um curso livre
de Química do
professor Ferreira da Silva, de quem acabou por se tornar
amigo.
Aceita, entretanto, o lugar de professor no Colégio da
Visitação, no Porto, onde aprofunda o seu conhecimento das ciências
naturais, enquanto estuda as potencialidades da construção do ferro, da
metalomecânica e dos processos de fundição.
Nos tempos livres, estuda ciências, botânica médica e
agricultura em geral
Fabrica, inclusivamente, a partir de plantas medicinais,
elixires, pomadas e chás. Produtos que oferece aos familiares e amigos, assim
como às populações mais pobres.
Uma alma inquieta e curiosa, sobre áreas tão diversas como
Ecologia, Educação, Filosofia, Religião e Economia, viveu na Inglaterra,
França, Alemanha, Estados Unidos e Argentina, sempre á procura de alargar o
conhecimento mas também com o fito de conseguir apoio financeiro para os seus
muitos e dispendiosos projectos.
Era um apaixonado pela ciência e aos 29 anos já fabricava engenhos que usavam a energia solar..
Ainda em 1898, leccionava no Porto, resolve mudar-se para Paris. para consolidar o seu saber nestas matérias, nomeadamente a refracção por lentes e a reflexão através de sistemas de espelhos.
Decididamente um homem de ciência, o Padre Himalaia dedicou a sua vida (nunca esquecendo a sua condição de padre) á descoberta científica, tendo registado patentes relacionadas com as muitas vertentes da sua paixão pela investigação.
1900
Partiu para a capital francesa com o objectivo de ali
prosseguir os seus estudos (nomeadamente na área da refracção por lentes e na
reflexão através de sistemas de espelhos) de modo a conseguir também reunir os
meios que lhe permitissem construir o pirelióforo. Para a deslocação contou com
o patrocínio de uma abastada benfeitora, D. Emília Josefina dos Santos,
ex-aluna da Sorbonne, o encorajamento do arcebispo de Braga, D. António José de Freitas Honorato
e do químico portuense, Ferreira da Silva, que tinha amigos em França.
Chegou a Paris, na altura um dos principais centros de desenvolvimento tecnológico da Europa com o final das obras para a Exposição Universal de 1889 ainda em curso, onde acabava de se erguer a Torre Eiffel, porta de entrada para a Exposição.
- O químico Marcellin Berthelot, pioneiro da termoquímica e
historiador de alquimia e da química vegetal.
- Frequentou, na Universidade de Paris aulas de Henri Moissan
(que mais tarde viria a receber um Prémio Nobel)
inventor de um forno eléctrico de altas temperaturas
- Assistiu também a aulas de Jules Violle,
pioneiro da fotometria e estudioso da radiação solar.
- No Institut Catholique de Paris assistiu
às conferências de Édouard
Branly, inventor do coesor e
especialista no campo das faíscas eléctricas.
- Teve também e principalmente, a preciosa ajuda do engenheiro Jacques Ainé, professor no Conservatoire National des Arts et Métiers, na formalização das patentes, permitindo que o registo fosse realizado através do seu gabinete
O Padre Himalaia conseguiu assim, com estas preciosas
ajudas, manter-se coerente com a sua ideia inicial da oxidação do azoto
atmosférico, visando a produção de fertilizantes para a agricultura.
Sempre com vista á fertilização do solo, Himalaia tenta
associar a energia solar aos compostos azotados de modo a promover a síntese
desses compostos a partir do azoto molecular existente na atmosfera.
As altas temperaturas, necessárias para produzir aqueles
compostos tão necessários á fertilização dos solos, vai buscá-las á energia
solar concentrada, que consegue captar com a concepção de um aparelho óptico
que capta tal energia e permite utilizá-la.
Esta ideia de utilizar a energia solar já tinha sido
publicada num artigo do periódico “A Província” em Janeiro de 1888.
No texto relatava-se que Augustin Mouchot inventara um forno
solar que conseguia obter elevadíssimas temperaturas
Foi, portanto, com o intuito da fertilização dos solos que
concebe a sua famosa máquina solar a que dá o nome de Pirelióforo.
Pyrheliophoro, do grego: pyros,
"fogo" + helios, "sol" + pheros, "que
traz"
A sua paixão pela ciência levou-o a campos tão diversos
como, entre outros, á concepção de novos explosivos para fins pacíficos ao
aperfeiçoamento de motores, culminando com o já mencionado Pyrhéliophoro, cuja
evolução passou por quatro fazes distintas, ou seja versões cada vez mais
melhoradas, entre 1899 e 1904.
De alguma forma, a invenção mais sonante do Padre Himalaya,
a máquina para aproveitamento da energia termo solar, foi condicionada pela
evolução da indústria que adoptou o paradigma dos motores de combustão
alimentados a combustíveis fósseis. No grande duelo tecnológico do início do
século XX, quando duas imensas avenidas se abriram para exploração das
sociedades industriais:
- a aposta no carvão e no petróleo (mais fáceis de obter e
mais baratos) teve repercussões esmagadoras sobre o Ambiente.
O Padre Himalaya, que chegou a propor veículos alimentados a
energia eléctrica, permaneceu no pólo dos vencidos da história e talvez essa
seja a principal causa para o progressivo esquecimento do seu contribu.
Terá começado os dois primeiros ensaios na Primavera/Verão
de 1900.
O 1º forno solar foi construído na Primavera de 1900.
Dado o interesse estratégico potencial do invento, que poderia ser utilizado para produzir material azotado usado como matéria-prima no fabrico de explosivos, foi seleccionado um local relativamente recôndito e ensolarado para a montagem do protótipo, em Neuilly-sur-Seine, onde decorreram as primeiras experiências de focagem dos raios solares Atingiu, inicialmente, 500ºC Com peças mandadas construir em Paris e transportadas ás costas de homens e de mulas para instalar o forno solar. Uma parábola de 7 m de diâmetro completamente recoberta de pequenos espelhos, em vidro, montados sobre uma estrutura de metal que se orientava para o Sol
Os resultados das experiências também padecem de falta
de informação correcta.
O que interessa é que o Padre Himalaia, conseguiu,
realmente, com toda a certeza, temperaturas que foi progressivamente
aumentando, e muito, no seu forno solar.
Temperaturas extraordinárias, já que foram obtidas
unicamente através da Energia Solar, sem o auxílio de qualquer outra energia ou
de nenhum mecanismo.
O 2º forno solar feito a partir de peças mandadas construir
em Paris foi montado a cerca de 5 Km da Sorède, uma pequena aldeia de montanha
aos pés do Maciço de la Albera, no alto dos Pirenéus Orientais, junto à
fronteira espanhola, ., no verão de 1900. Este protótipo atingiu, logo de
início 1100ºC.
O local seleccionado era uma colina situada junto às ruínas
da ermida Château d'Ultrera, a cerca de 5km da
aldeia.
Este forno solar foi montado nas proximidades de Sorède,
uma aldeia de montanha do Maciço de Argelès, nos Pirenéus Orientais, a partir de peças mandadas
construir em Paris. O local selecionado foi uma colina situada junto às ruínas
da ermida Château d'Ultrera, a cerca de 5km da
aldeia.
O pyrheliophoro foi montado sobre carris
circulares sobre uma base de pedra e areia, em cima dos quais faz deslizar uma
estrutura de suporte a uma campânula de forma a permitir a sua orientação em
direção ao Sol e
o seguimento do seu movimento diurno. Dado o interesse estratégico da
experiência, os testes foram acompanhados por Étienne Bazeries, oficial que se tinha
notabilizado no campo da criptografia.
Este 2º modelo de pirelióforo utilizado em Castel d'Ultrera
nos Pirenéus franceses consistia numa lente de Fresnel, com 7m de
diâmetro, que formava uma campânula metálica em forma de calote esférica,
suspensa na estrutura por dois eixos ortogonais, os quais permitiam a
orientação vertical e horizontal da estrutura em função da posição do Sol a
cada momento.
Essa campânula, com formato de calote esférica, com centenas
de espelhos, estava agarrada á estrutura através de dois eixos, Um permitia
ajustar a orientação vertical pretendida o outro permitia o varrimento
horizontal da campânula, de modo que os espelhos reflectores estivessem
permanentemente apontados para o Sol em deslocamento, fazendo incidir o ponto
focal na boca de um pequeno forno refractário
Na estrutura, a lente metálica era uma lente
de Fresnel constituída por um conjunto de anéis metálicos concêntricos
recobertos lateralmente por pequenos espelhos que desviavam a luz
solar, por reflexão, por forma a que esta incidisse na
boca de um pequeno forno refratário localizado no ponto focal da
estrutura.
Os ensaios realizados permitiram atingir temperaturas
superiores a 1500 °C, suficientes para fundir o ferro, num processo que o
Padre Himalaia considerava como o primeiro passo na obtenção de fertilizantes
nitrosos.
Apesar do protótipo não ter atingido as temperaturas
pretendidas, ainda assim os resultados foram animadores (dado que naquele
município francês, no Verão, era normal haver 2750 horas de exposição solar) o
que permitiu manter o interesse dos investidores.
Para os mais curiosos recomendamos a visualização de um documentário em
francês, “Vida e obra do Padre Himalaya”, em cinco partes, muito
ilustrativo, onde se explica em detalhe o funcionamento doi protótipo que ele
instalou em Sorède. É da autoria de um estudioso local, da Asociación de Amigos del Padre
Himalaya, sedeada nesta mesma localidade, cuja actividade está
dedicada á divulgação da energia solar.
Apoiado nos primeiros resultados, na Primavera de 1901 o
Padre Himalaia partiu para Lisboa, onde ficou instalado no palacete da Condessa
de Penha Longa (viúva do banqueiro Sebastião Pinto Leite) junto à Lapa, com
quem contratou a formação de uma sociedade destinada a explorar o uso
do calor do sol nas artes metalúrgicas e químicas e em todos os ramos da
indústria. No
contrato, o Padre Himalaia cedia à sociedade a sua invenção e as patentes que
já obtivera em França, na Espanha e na Bélgica e comprometia-se a realizar os
aperfeiçoamentos necessários. A condessa forneceria o capital para a construção
dos dois primeiros aparelhos de demonstração, para o registo de futuras
patentes e para a mensalidade a pagar pelo trabalho do Padre Himalaia.
Em Março de 1901 dá uma saltada até Londres, para constituir uma
sociedade que explora um aparelho óptico para utilizar o calor do sol na
metalurgia, na química e outros ramos da indústria.
O padre Himalaya cede àquela sociedade a sua invenção e as
patentes que já havia registado em França, Espanha e na Bélgica. Compromete-se
até a realizar todos os aperfeiçoamentos necessários.
Regressou a França onde executa um protótipo-miniatura
experimental.
Em Setembro desse ano 1901 desloca-se a Lisboa onde reformula e
simplifica os projectos de construção, para que estes aparelhos fossem
construídos em Portugal com custos reduzidos.
Notabilizou-se também na investigação relacionada com a engenharia química estudando a síntese do amoníaco com vista á produção de explosivos e também a sua utilização na agricultura levando-o á obtenção, em 1910, de patente da síntese de Haber-Bosch.
Um dos aparelhos de divulgação, foi realmente construído, em Abril de1902, em Lisboa, no Parque de Exposições da Tapada da Ajuda, onde realizou uma demonstração pública, com a presença do rei D. Carlos I de Portugal. Como o Padre Himalaia temia, a experiência foi um rotundo fracasso, com o pyrheliophoro, mal focado, a derreter o seu próprio suporte em vez de incidir sobre o cadinho.
Voltando ao modelo real, este conseguiu atingir 2000ºC de
temperatura, fundindo blocos de basalto, um feito notável. Há mais de 120 anos!
Ainda por cima com “uma máquina” que não gastava energia alguma!
De alguma forma, a invenção mais sonante do Padre Himalaya,
esta “máquina” para aproveitamento da energia termo solar, foi condicionada
pela evolução da indústria que adoptou o paradigma dos motores de combustão
alimentados a combustíveis fósseis. No grande duelo tecnológico do início do
século XX, quando duas imensas avenidas se abriram para exploração das
sociedades industriais:
- a aposta no carvão e no petróleo (mais fáceis de obter e
mais baratos) teve repercussões esmagadoras sobre o Ambiente.
O Padre Himalaya, que chegou a propor veículos alimentados a
energia eléctrica, permaneceu no pólo dos vencidos da história e talvez essa
seja a principal causa para o progressivo esquecimento do seu contributo
No que parece não haver dúvidas é sobre a existência de um
terceiro modelo do Pirelióforo
Em Abril de 1904, partiu para os
Estados Unidos com o objectivo de apresentar o seu Pyrheliophero no Pavilhão
Português na Exposição Universal de St. Louis
Exposição Universal de
1904 (Louisiana Purchase Exposition) também chamada
de Feira Mundial de
St Louis foi uma feira mundial que aconteceu
em St Louis de 30 de abril a 1 de Dezembro de 1904, em
conjunto com a realização dos Jogos da III Olimpíada. Os
historiadores geralmente enfatizam o impacto desta feira nos campos da
história, história da arte, arquitetura e antropologia. A feira promoveu o
entretenimento, bens de consumo e a cultura popular.
Este derradeiro modelo do Pirelióforo, nome que de resto,
parece só então ter sido adotado, foi premiado na Feira Mundial de St Louis
com várias medalhas, obtendo grande sucesso.
Relógio solar vertical construído numa parede da vila de Sorede, em honra do Padre Himalaia,
inaugurado no dia 7 de Setembro de 2013.
A foto corresponde às 10H 30 do dia 22 de Setembro de 2013, equinócio do Verão,
pelo que a sombra do dispositivo vermelho projecta-se sobre esta linha
Foto: Fundación Tierra
O forno solar do padre Himalaya.
O aparelho era imenso: o grande reflector parabolóide,
revestido por 6 117 espelhos, tinha 80 m², 13 m de altura, uma
distância focal média de 10m e uma área reflectora cuidadosamente
montados sobre uma estrutura metálica. Cada espelho media
123 mm x 98 mm e era construído por vidro plano dorsalmente
recoberto por uma película de prata.
“A estrutura óptica estava instalada sobre uma montagem
equatorial que lhe permitia rodar sobre um eixo paralelo ao eixo de rotação da Terra. Um mecanismo de
relojoaria mantinha o espelho apontado para o Sol, seguindo automaticamente e
com grande precisão o seu movimento aparente. A radiação solar refletida era concentrada num
círculo com 15 cm de diâmetro centrado no foco do paraboloide, o
que corresponde a um factor geométrico de concentração de aproximadamente 4500
vezes.”
“Este aparelho compreende essencialmente um sistema óptico
que faz convergir os raios solares num ponto único onde está colocado o
cadinho; compreende além disso um mecanismo tendo por função orientar o
aparelho numa posição conveniente segundo a altura do sol no horizonte e
segundo a época do ano, de maneira a manter sempre a convergência dos raios no
ponto em que se encontra o cadinho e ainda um sistema de cadinho ou forno
preparado para a mudança automática dos materiais a fundir, permitindo fazer a fusão
no vácuo ou num meio inerte ou diferente do meio atmosférico.”
A - Uma calote de material cristalino destinado a receber e
concentrar os raios solares,
B - O forno propriamente dito
C - Um complicado mecanismo de relojoaria que permitia
ajustar todo o aparelho ao movimento aparente do Sol durante todo o dia, bem
como a posição do forno em relação aos reflectores.
A armação metálica, com 13 metros de altura, que sustentava o aparelho talvez tenha contribuído para que o invento português tenha sido dos mais apreciados e dos que chamou maior número de visitantes na Exposição Universal.”
O aparelho conseguia gerar temperaturas entre os três mil e os quatro mil graus Centigrados, derretendo todos os materiais colocados sob o foco de luz, sendo premiado com o “Grand Prize da Louisiana Purchase Exposition”. A revista Scientific American publicou até um artigo intitulado “A Solar Reducing Furnace”, o qual veio credibilizar o invento junto da comunidade técnico-científica da época. Aos vencedores premiados foi proporcionada uma viagem de estudo por vários locais dos Estados Unidos. MAG Himalaya aproveita para estabelecer contactos e relações de amizade que lhe foram valiosas em anos futuros
Com o forno solar, o Padre Himalaya pretendia obter azotatos da atmosfera e com eles produzir fertilizantes para a agricultura
Dada a espectacularidade das suas dimensões, mesmo sofrendo
a competição dos 500 pavilhões existentes, o aparelho rapidamente se tornou numa das grandes atracções
da feira mundial, visitado por centenas de milhar de pessoas.
Para demonstrar a eficácia do aparelho, o Padre Himalaia,
que chegara a Saint Louis em princípios de Abril de 1904, a partir de Outubro,
altura em que a máquina ficou operacional, realizou múltiplas experiências,
tendo conseguido aquecer, unicamente com energia solar, um
cadinho até aos 3 800 °C.
Um recorde poucas vezes ultrapassado…
Até àquela data, com os conhecimentos disponíveis sobre
aplicações solares, apenas o pirelióforo terá atingido aquela marca.
Seguiu-se a fama mundial através de artigos publicados nos
principais jornais e revistas.
O circunspecto The New York Times incluiu na sua edição de 6 de
Novembro de 1904 o título Pirelióforo, maravilha da Feira de St. Louis.
A revista Scientific American publicou um artigo do seu
correspondente em Saint Louis, intitulado "A Solar Reducing Furnace",
que credibilizou o invento e o inventor junto da comunidade técnico-científica.
Aos 36 anos de idade, o Padre Himalaia tornoma celebridade, convidado para palestras e entrevistas e para uma visita de estudo a diversas instituições norte-americanas.
O invento foi saudado pela comunidade científica e atraiu os elogios de toda a imprensa mundial, com particular ênfase da americana.
Mesmo o circunspecto New York Times lhe dedicou uma primeira
página que incluía uma entrevista ao cientista português.
A versão final do Pirelióforo era capaz de produzir uma
temperatura de 3800° C. o que permitia efetuar a fusão de quaisquer rochas ou
metais, já que nenhuma substância destes tipos necessita de uma temperatura
superior para ser fundida.
Entre os convites que aceitou conta-se uma visita ao
laboratório de geofísica do Carnegie Institution for Science,
em Washington, D.C., sob o auspícios do Dr. Robert Simpson Woodward, o director da
instituição. Naquela cidade participou em palestras e visitou as principais
instituições científicas e universidades.
Entretanto, após o encerramento da feira, sem fundos para
desmontar e armazenar o equipamento, os espelhos e o mecanismo de relojoaria do
pirelióforo foram roubados, perdendo-se o protótipo.
O pyrheliphoro montado em Saint Louis não
tinha o dispositivo para a transformação do azoto em azotados, nem o
reservatório e forno destilatório previstos nos planos efectuados em França.
Não se sabe se esta falta se devera à incerteza quanto ao resultado da experiência
ou fosse o resultado da falta de fundos. Por essa razão, apesar do êxito obtido
na feira, nunca chegou a ser demonstrada a capacidade produtiva e o potencial
comercial do aparelho do Padre Himalaia.
Terminada a feira, resolveu permanecer nos Estados Unidos na
esperança de conseguir interessar investidores na sua máquina. Com o passar do
tempo, não conseguindo interessar financiadores para a produção do seu forno
solar, recorreu aos seus conhecimentos de naturopatia e
dedicou-se ao fabrico de organic salts, pastilhas à base de cinza e
sumo de limão, e de elixires para a calvície.
Neste período conhece Adele Marion Fielde, uma antiga
missionária baptista que se tornara sufragista e
defensora dos direitos cívicos das mulheres. Através dela tenta interessar na
sua investigação solar a Carnegie Institution for Science, que em 1904 criara
um observatório solar no Mount
Wilson, Califórnia, mas apenas conseguiu um pedido para que escrevesse um
livro sobre as suas investigações à cerca de energias renováveis. A obra,
intitulado The forces of Nature, foi encontrada incompleta no seu
espólio.
Depois de propor, sem encontrar financiador, a construção de
uma pilha fotovoltaica uma fotopilha, como lhe chamou, um precursor
dos actuais equipamentos fotovoltaicos, que transformaria de forma directa
a luz solar em electricidade, passou a interessar-se por explosivos, dada
a apetência do mercado por aqueles produtos. Recorrendo aos seus conhecimentos
sobre os compostos azotados, desenvolveu uma pólvora sem fumo, a
que deu o nome de himalaíte (ao tempo grafado himalayite).
Era uma pólvora cloretada, muito estável ao choque e ao calor, de
fácil obtenção e baixo custo, patenteada em Maio de 1907 e testada em pedreiras
e em vários arsenais do exército norte-americano.
Após o sucesso da Exposição de St. Louis,
que teve amplo eco na imprensa, Himalaya dedicou-se a outras áreas técnicas e
imaginou métodos para
fazer chover, inventou um novo explosivo (a himalayite), continuou a cultivar o
seu interesse pelas medicinas naturais e a defender ideias precursoras da
ecologia moderna.
Quando na hora de regresso quis reaver o seu invento
verificou-se que tinha sido roubado, não obstante o peso e as dimensões que
apresentava. Desanimado pela funesta ocorrência, ou porque o seu espírito se
ocupava agora de novos inventos, nunca mais o Padre Himalaia se ocupou da
energia solar nem do Pirelióforo.
O inventor rejeitou várias propostas ainda durante a exposição. Logo após a montagem, um “sindicato de capitalistas americanos” queria construir uma vedação, obrigando quem quisesse ver o pirelióforo a pagar bilhete. Ofereceram, para isso, a astronómica soma de 250 contos, que o padre Himalaia recusou, como também não aceitou a naturalização como norte-americano, que lhe sugeriram Os japoneses subiram a parada e propuseram cerca de 350 contos pelo aparelho, igualmente recusados.
É que, embora a participação de Manuel António Gomes só
tivesse sido possível à custa de mecenas que ele próprio angariou, já que o
Estado português apenas contribuiu com “apoio moral”, os escrúpulos do
inventor, “obscuro e desprotegido obreiro da ciência”, como lhe chamou um
jornalista, não lhe permitiram desviar de Portugal os louros obtidos pela sua
máquina.
O Padre Himalaia permaneceu nos Estados Unidos durante algum
tempo em busca de apoio financeiro para desenvolver a sua bateria capaz de
armazenar electricidade gerada por energia solar. Infelizmente, as suas
tentativas foram em vão.
Em Setembro de 1906 regressou a Portuga, sendo então
publicados na imprensa portuguesa alguns artigos sobre os seus trabalhos. A
empresa da condessa de Penha Longa, a Pinto Leite & Brothers,
interessou-se pela himalaíte, e o rei D. Carlos e o Ministro da Guerra,
general Vasconcelos Porto, assistem a ensaios do poder explosivo do
produto. Testes realizados na Escola Prática de Artilharia, em Vendas
Novas, permitem comparar a himalaíte com a schneiderite,
considerando-a interessante para a utilização em minas e granadas.
Nesse ano e no seguinte registou várias patentes de
explosivos. Apesar desta nova faceta da sua investigação, mantinha o interesse
pelas questões agrárias, postulando que a utilização do seu explosivo poderia
ter um papel reactivador do húmus profundo.
Em 1908
o Padre Himalaia foi feito sócio da novel Academia das Ciências de
Portugal, apresentando uma comunicação à instituição, então sob a presidência
de Teófilo Braga, em que defendia um plano de aproveitamento das energias
renováveis para Portugal, com a construção de açudes, represas e albufeiras
para irrigação e hidroeletricidade, apontava o lugar para a construção de
grandes centrais hidroeléctricas, o uso futuro da energia das marés e
da energia eólica e o aproveitamento da energia
geotérmica dos geysers. Também incluía nas suas preocupações o
ordenamento do território e a florestação dos incultos.
A partir
desta época inicia uma fase de alguma estabilidade na sua vida quando, com o
apoio financeiro da condessa de Penha Longa e de outros investidores,
constituiu a Companhia Himalayite, a qual construiu uma fábrica de
explosivos na Quinta da Caldeira, na Telha, Barreiro, onde passa a residir no edifício situado em frente ao moinho de maré
do Seixal.
Passa então
a contar com a presença em sua casa de Rosa Cerqueira, uma rapariga de Cendufe,
com as funções de governanta, mas que para evitar suspeições era apresentada
como sobrinha do padre.
Algum tempo
depois adquiriu o palacete setecentista dos Condes da Lousã, na Damaia, onde passou a residir.
Em 1908,
num Congresso realizado em Viseu, MAG Himalaya centrou a sua intervenção na
fraca produtividade do país, um tema ainda hoje muitíssimo actual.
Visitou várias localidades numa campanha de promoção dos
seus explosivos para uso em pedreiras, demolições e para fins agrícolas e
silvícolas, sendo numa das viagens acompanhado por Adelaide Heaton, mãe de um
importante homem de negócios norte-americano. Contudo, o funcionamento da
Companhia Himalayite não era pacífico, surgindo suspeições que levaram a um
arrastado processo judicial. O potencial económico da himalaíte nunca chegou a
ser totalmente realizado e a empresa entrou em lento declínio.
Apesar da sua principal ocupação ser a fábrica de
explosivos, manteve intensa presença pública, participando em múltiplos debates
e propondo ideias que ao tempo eram revolucionárias.
No âmbito da Academia das Ciências de Portugal, apresentou
comunicações sobre matérias muito diversificadas, desde a agricultura, a
economia e a política energética até a questões de sismologia e construção
anti-sísmica (a propósito dos sismos de Messina e Benavente de 1908 e 1909,
respectivamente) e à reestruturação do Porto de Lisboa. Em 1913, quando
Portugal estava assolado por uma longa estiagem, propôs o uso de canhões para
provocar a chuva, num método que consistiria em assentar no chão um
polígono com um canhão em cada vértice. Os tiros deveriam ser simultâneos e
verticais, determinando o esmagamento dos vapores contidos nesse prisma.
Numa comunicação apresentada à Academia das Ciências de
Portugal em 15 de Abril de 1913, volta a propor a utilização da energia das
marés como fonte de energia para abastecer Lisboa.
A 5 de Outubro de 1910 é implantada a República. MAG
Himalaya parece totalmente à vontade no novo regime. Vai apresentar uma
proposta para a nova bandeira, de cores vermelha e verde, onde o emblema
assenta sobre um sol radiante com quatro feixes de raios alongados, de forma a
se assemelharem à cruz de Cristo, exprimindo simbolicamente a expansão da
nacionalidade.
A sua sugestão para a criação da nova moeda portuguesa,
dividida em parcelas decimais de um tostão, apresentada em Julho de 1909, é
aceite pela República, através da implantação do escudo.
Entre os seus diversificados interesses conta-se a pesquisa
de minérios, tendo prospectado para
encontrar carvão e manganês na região de Rio Maior,
acompanhado pelo geólogo Paul Choffat.
Também se dedicou ao fabrico de fertilizantes, assumindo as
funções de director técnico da Empresa de Adubos Nacionais, Lda.,
uma fábrica de adubos químicos instalada em Rio Maior. Neste último campo
também registou a patente, em colaboração com Castro Neves e Albino Aires de
Carvalho, do fabrico de "adubos completos dotados de acção
catalítica" derivados do aproveitamento de esgotos. Também desenvolve
e patenteia um "motor directo" capaz de funcionar com gás pobre, uma
forma de biogás.
Durante a Primeira Guerra Mundial fez parte de uma
comissão destinada a estudar inventos que pudessem ajudar no esforço de guerra
e foi membro da comissão hidrológica criada pela Câmara Municipal de Lisboa
para estudar novas origens de água para a capital portuguesa e potenciais
fontes de energia hídrica.
A
máquina que fazia chover
No Verão de 1913 uma seca enorme afligia o país, sendo o Alentejo a região mais afectada.
Festas da Cidade de Lisboa em 1913
O padre Himalaya apresenta, em Julho desse ano, uma comunicação sobre o processo de fazer chover, baseando-se numa acção conjugada vertical e horizontal sobre um prisma de ar provocado pelo tiro sincronizado de vários canhões. O aparelho que criou para o efeito era um múltiplo canhão, orientável, que assentava num polígono especial e permitia o disparo em simultâneo de explosivos que criavam um embate vertical e horizontal entre as nuvens, provocando a chuva. Foram feitas experiências na zona da Serra da Estrela sobre as quais testemunhos credíveis afirmam terem caído umas gotas de chuva nesses dias quentes de Verão!
Sobre as experiências foi declarado oficiosamente que os
resultados, embora concludentes, impunham muitos gastos em explosivos. O método
foi por isso abandonado devido ao seu elevado custo.
Destas experiências, sobre o uso de canhões especiais para
fazer chuva artificial, nasceu uma história rocambolesca, muito difundida logo
após a Grande Guerra de 1914-1918. É mais um enigma sobre a vida e obra de
M.A.G. Himalaya. Circularam boatos que diziam que o canhão, falsamente chamado
de “Grosse Bertha” ou “Wilhelm Geschutz”, teria sido realizado pelos alemães a
partir dos planos roubados ao Padre Himalaya
Diz-se que os alemães terão
roubado as suas patentes dos explosivos e do canhão gigante para produzirem
armamento utilizado na Primeira Guerra Mundial. O Padre Himalaia também
registou patentes para a construção de um motor que utilizava biogás e para a transformação
de crustáceos em alimentos para humanos e animais
Mais tarde, viajou para a Argentina, onde estudou a fauna e
a flora locais, e possivelmente também visitou a China e o Japão. Ao regressar
a Portugal, foi viver com o seu irmão em Viana do Castelo, onde exerceu o
sacerdócio num asilo para idosos.
A 6 de Junho de 1920 partiu novamente para os Estados Unidos, com o objectivo de estudar irrigação e barragens hidroeléctricas e de promover o uso do seu "motor directo". Apenas regressou em 1922, depois de ter assistido a aulas sobre agricultura e nutrição no Tuskegee Institute e estudado sob a égide de George Washington Carver. Também aproveitou a sua estadia para registar algumas patentes. Em Washington D.C. colaborou com José Francisco da Franca de Horta Teles Machado, o 2.º visconde de Alte, então embaixador português naquela capital, nas negociações para a renovação do armamento do Exército Português.
Após o seu regresso dos Estados Unidos afasta-se da vida
pública e dedica-se à naturopatia e à tentativa de organização de uma escola
ligada à Ordem Terceira Franciscana. Formou grupos de jovens, seus
ajudantes nas tarefas agrícolas e laboratoriais na sua quinta da Damaia. Terá
feito uma viagem pelo Extremo Oriente.
Em 1925 vendeu a sua propriedade na Damaia e registou a sua última patente, em colaboração com José Epifânio Carvalho de Almeida, visando a transformação de crustáceos em alimentos completos para animais domésticos e humanos.
Endividado pela filantropia e pelas viagens, em finais de 1927 partiu para Buenos Aires, a convite da viúva do cônsul da Argentina. O objectivo seria efectuar uma prospecção e demarcação de recursos nas propriedades da família Sagastume, na província de S. Juan, de que a viúva seria a herdeira. Na Argentina dedica-se ao estudo da flora local, mas as suas relações com os Sagastume são conturbadas, com acusações de apropriação indevida de bens entre membros da família. Acabará por ser nomeado director de um orfanato em Jauregui, onde adoeceu.
Doente e sem meios financeiros, regressou a Portugal em finais de 1932, fixando-se no Minho, onde conta com o apoio do seu irmão Gaspar, também sacerdote. Acabará por aceitar o lugar de capelão do Asilo de Velhos e Entrevados da Caridade, em Viana do Castelo, cargo que exercia quando faleceu em Viana do Castelo, a 21 de Dezembro de 1933, com 65 anos de idade.
A fama já tinha passado e a sua morte foi apenas vagamente
narrada na imprensa da época.
Foi sepultado no cemitério de Cendufe, a sua terra natal.
Ao longo dos anos apresentou numerosas comunicações,
publicou numerosos escritos e desenvolveu uma filosofia ecológica, precursora
de algum do ideário do actual ambientalismo, que perpassava muitas das
suas intervenções na Academia das Ciências. Continuou também a cultivar o seu
interesse pelas medicinas naturais, pela fitoterapia.
Também nas questões dietéticas se encontra nas opiniões do
Padre Himalaia uma surpreendente actualidade: ao discutir o tema Alguns
Problemas de Economia e Saúde Pública, afirmava que os defeitos da
nossa alimentação e causa do estiolamento da raça eram os produtos
de origem animal, os venenos ingeridos como alimento ou estimulante, das
bebidas alcoólicas ao abuso de medicamentos.
Fazia campanha a favor do pão integral e de uma alimentação
vegetariana e frugívora, estando ligado à Sociedade Vegetariana do Porto e aos
círculos teosóficos daquela cidade.
Pode-se afirmar que estaria um século à frente do seu tempo.
De alguma forma, a invenção mais sonante do Padre Himalaya,
a máquina para aproveitamento da energia termo solar, foi condicionada pela
evolução da indústria que adoptou o paradigma dos motores de combustão
alimentados a combustíveis fósseis. No grande duelo tecnológico do início do
século XX, quando duas imensas avenidas se abriram para exploração das
sociedades industriais, a aposta no carvão e no petróleo (mais fáceis de obter
e mais baratos) teve repercussões esmagadoras sobre o Ambiente. O Padre
Himalaya, que chegou a propor veículos alimentados a energia eléctrica,
permaneceu no pólo dos vencidos da história e talvez essa seja a principal
causa para o progressivo esquecimento do seu contributo.
O pirelióforo não foi a única
invenção de Manuel António Gomes, que chegou a registar dezenas de patentes em
diversos países. As suas pesquisas começaram com a observação da natureza e a
tentativa de produzir um adubo universal com base unicamente nas trocas
químicas que naturalmente produzem azoto na atmosfera. Com o apoio de mecenas,
conseguiu ir sempre aprofundando os seus conhecimentos em química, mecânica,
matemática e física, entre outras áreas, estudando e contactando com cientistas
e outros entusiastas dos novos rumos do conhecimento científico, casos do
físico Berthelot, ou de Sebastien Kneipp, também ele padre e estudioso.
Interessava-o o uso das grandes forças como a luz solar, o vento ou as ondas e
o aproveitamento de recursos - esgotos para adubar as terras ou a produção de
biogás; a transformação de crustáceos em rações para animais ou humanos -
técnicas para fazer chover ou medicina natural, só para dar alguns exemplos.
Criou um explosivo, alegadamente muito mais poderoso do que a pólvora, que baptizou
de himalaite e começou a comercializar para uso pacifista, em pedreiras, mas
também na agricultura. Diga-se, no entanto, que se pensa que durante a I Grande
Guerra, a himalaite terá sido produzida pelos alemães, com base em apontamentos
roubados a Manuel António Gomes, e foi inclusivamente usada para bombardear
Paris.
Ao longo da sua vida, frequentou
cursos de matemática na Universidade de Coimbra e medicina em Paris. Durante as
suas viagens, adquiriu conhecimentos sobre a importância da hidroterapia,
naturopatia e tratamento de doenças com águas termais e plantas medicinais.
Também defendia a prática de exercícios físicos e uma alimentação equilibrada,
tendo adoptado o vegetarianismo. Além disso, escreveu artigos sobre os riscos
do abuso de álcool e medicamentos.
Em Londres, o Padre Himalaia vendeu as suas patentes
relacionadas com o uso da energia solar para a fusão de metais.
As suas descobertas foram aplicadas em várias indústrias
inglesas. Ao regressar a Portugal, participou na fundação do Jardim Botânico de
Coimbra e escreveu crónicas para um jornal, defendendo a doutrina social da
Igreja, que preconizava a ajuda aos mais pobres e desfavorecidos.
Em Portugal, fundou uma empresa dedicada à produção de
explosivos, que ele mesmo inventou, com usos agrícolas e em pedreiras. Também
trabalhou na pesquisa de minérios no subsolo.
Morre em Viana do Castelo a 21 de Dezembro de 1933, aos 65 anos, vítima de mielite
Na opinião do académico e investigador Jacinto Rodrigues,
biógrafo do Padre Himalaya, “O enigma de M.A.G. Himalaya foi o facto de se
ter preocupado com a energia solar e ser simultaneamente inventor de explosivos
e ter vivido, muitas vezes, quase à margem da Igreja, sem nunca ter abandonado
as suas convicções espirituais… O Padre Himalaya é um personagem que incomoda e
fascina. É um enigma e um mito”, deixando para trás uma vida marcada pela
pobreza e pelo esquecimento.
A sua
visão e convicções estavam muito à frente do seu tempo, defendendo
causas que só se tornariam populares 100 anos depois, como as energias
renováveis, a preservação do meio ambiente e a consciencialização sobre o uso
excessivo de medicamentos
Está sepultado na sua terra, Cendufe
Mais de cem anos depois do grande êxito da carreira inventiva do Padre Himalaya, ainda há zonas sombrias na biografia deste homem?
Jacinto Rodrigues continua a
maravilhar-se com as conferências proferidas pelo seu biografado sobre
agricultura, represamento de rios, construções de betão armado e até uma
participação ainda mal esclarecida no esforço de guerra português, durante a
Primeira Grande Guerra, desenvolvendo técnicas de detecção de submarinos. Há
igualmente ecos de um livro de memórias escrito mas perdido por Himalaya no
final da vida.
O Padre Himalaya morreu em 1933. Nessa época, o sucesso que
em tempos tinha conhecido encontrava-se esquecido, por isso os ecos dos seus
sucessos e das suas invenções já se esfumavam nas brumas da história.
Durante quase quatro décadas, os seus feitos mantiveram-se
esquecidos.
Contudo, em 1968, aconteceu uma pequena excepção.
Neste ano, celebrou-se o centenário do nascimento do Padre
Himalaya e foi feita a publicação de uma pequena obra de exaltação ao padre
inventor.
O
investigador Jacinto Rodrigues
Este homem teve um papel importante na forma como deu ao
Padre Himalaya o devido reconhecimento. Após fugir da ditadura portuguesa,
Jacinto Rodrigues exilou-se em França na década de 1960.
Este investigador leccionara disciplinas de Sociologia
Urbana e Organização do Território nesse país. Era um homem apaixonado por
questões relacionadas com a energia e a ecologia.
Após a revolução de 1974, Jacinto Rodrigues regressou a
Portugal. Quis o destino que Jacinto Rodrigues encontrasse num alfarrabista uma
revista de 1905. O feliz acaso permitiu ao investigador encontrar um artigo que
abordava o português pioneiro que deixara os norte-americanos em Saint Louis
verdadeiramente espantados.
A
investigação
Jacinto
Rodrigues (actualmente catedrático aposentado da Universidade do
Porto) fez primeiro uma sondagem do terreno, fruto de ser um arqueólogo do
conhecimento.
Ficou surpreendido ao constatar que pouco ou nada se sabia
do Padre Himalaya.
Jacinto Rodrigues reconhece que o Padre “não era totalmente
desconhecido na academia”. O investigador frisou que “existiam alguns trabalhos
fragmentados sobre as suas experiências, mas a sua biografia era quase
desconhecida.”
Olá, coração, adeus religião
Segundo o investigador, o Padre Himalaya teve um problema
grave na sua carreira eclesiástica, mais precisamente entre 1891 e 1892.
Jacinto Rodrigues revelou o seguinte:
“Aparentemente, a paixoneta de uma senhora casada
conduziu-o a uma reflexão sobre o seu vínculo à igreja. Era um homem muito
sério, com uma postura muito interessante. Pediu para ser reduzido ao estado
laical (pedido esse que seria recusado), mas essa documentação tem também o
mérito de nos mostrar a sua obsessão com a ciência. Ele argumenta que, embora
se mantivesse cristão, queria prosseguir as suas experiências científicas,
intensificar contactos e aprofundar o conhecimento.”
Esta história está escrita com algum texto, não muito, de
minha autoria. A maioria do texto, porém, é transcrição pura, ou retocada por
mim, de vários autores que cito a seguir.
Por desleixo meu não consigo identificar, agora, o quê é de
quem…
Está tudo nos links que indico a seguir.
As minhas desculpas aos autores.
Este texto é vosso. Obrigado.
SITES da NET
https://www.nationalgeographic.pt/historia/padre-himalaya-o-inventor-arcos-valdevez_2566
https://osaldahistoria.blogs.sapo.pt/quem-roubou-o-pirelioforo-41964
https://oponney.pt/nacional/pirelioforo/
https://www.visitarcos.pt/o-melhor/oficinas-de-criatividade-himalaya/padre-himalaya
https://www.terra.org/categorias/articulos/el-pirelioforo-del-padre-himalaya-y-receta-solar
https://pt.wikipedia.org/wiki/Padre_Himalaia
https://ncultura.pt/padre-himalaya-o-portugues-que-criou-a-maquina-que-fazia-chover/
https://revistacomunidades.pt/padre-himalaya-na-national-geographic/
https://diario560.pt/padre-himalaya-cidadao-e-inventor/
http://arquitectura.ufp.pt/a-vida-e-obra-do-padre-himalaya/
https://www.youtube.com/watch?v=bOzCLz2iWIs
https://ensina.rtp.pt/artigo/o-padre-himalaia-sacerdote-e-inventor/
https://www.youtube.com/watch?v=ZIdi4I5y6J0
https://www.youtube.com/watch?v=RZTFtHp4BP0
https://arquivos.rtp.pt/conteudos/homenagem-ao-padre-himalaia/
https://iphimalaya.pt/wp-content/uploads/2023/12/Untitled_Project_V1.mp4
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