Outras histórias - Breve História da Guiné



Como Guineense, não podia deixar de escrever
uma breve história sobre a Guiné-Bissau.

Socorri-me de várias fontes mas principalmente

do Blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné",

a quem agradeço a muita informação.

Mais abaixo indico o endereço deste Blogue







Breve História da Guiné

(A terra onde nasci)

 

Até à independência





Breves notas


do site Africa.com

A Guiné-Bissau nos dias de hoje:









A República da Guiné-Bissau está localizada na África Ocidental.

Os países com quem tem fronteiras são a Guiné-Conacri a sul e a leste, o Senegal ao norte e o Oceano Atlântico a oeste. O país tem 37 mil quilómetros quadrados. A população é de, aproximadamente, 1,694 milhões

A língua oficial, portuguesa, é falada apenas por 14% da população. O Kriol, uma língua crioula baseada no português, é falada por 44%. As demais pessoas falam línguas nativas. O islamismo e as religiões indígenas são os mais praticados.

A Guiné-Bissau faz parte da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental, da União Africana, dos PALOP e da Zona de Paz e Cooperação do Atlântico Sul e da Francofonia.




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Economia

A Guiné-Bissau tem um dos mais baixos PIB per capita do mundo.
A agricultura é uma grande parte da economia. As principais exportações são peixes, amendoim e castanha de caju. A instabilidade política deprimiu a economia.
Em 1997 a Guiné-Bissau aderiu a o sistema do franco CFA.

Regiões e Sectores


Existem oito regiões na Guiné-Bissau e um sector. São Bafatá, Biombo, Bissau, Bolama, Cacheu, Gabu, Oio, Quinara, Tombali e o sector autónomo. Estes são subdivididos em 37 sectores.


Geografia


A Guiné-Bissau, com 35,125 km2, é um pouco maior do que a área de Taiwan ou da Bélgica. Tem uma altitude baixa com seu ponto mais alto a 300 metros. O litoral é uma planície com pântanos e o interior é uma savana. Tem uma estação chuvosa semelhante a uma monção.

As principais cidades são Bissau, a capital (população 388.028), Bafatá (22.521) e Gabu (14.430).
Há uma média de 2.024 mm de chuva por ano, mas esta cai principalmente na estação chuvosa, entre Junho e Setembro.


Demografia


Os guineenses estão divididos em muitos grupos étnicos, incluindo o Fula, Mandinga, Balanta, Papel, Manjaco e Mancanha. Existe também uma minoria cabo-verdiana e pessoas de origem mista portuguesa e africana.
Os portugueses são apenas uma pequena percentagem da população. A maioria deixou a Guiné após a independência.


Saúde


Existem menos de 5 médicos por cada 100.000 habitantes na Guiné-Bissau
Embora tenha aumentado, a expectativa de vida ao nascer ainda é de apenas 49 anos.

Educação


Existe educação obrigatória dos 7 aos 13 anos.

Música


A música da Guiné-Bissau é principalmente do género polirrítmico gumbé.
O instrumento tradicional na Guiné-Bissau é a calabaza, que é usada em música de dança complexa.






Breve cronologia


Resumida e editada por mim, com elementos basicamente coligidos por Luís Graça
no seu blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
(mais de 8.053.221 visualizações) 
mas também com a ajuda dos sites que refiro no final desta história
 
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No século XIII, chegam a esta região da costa ocidental de África os povos naulu e landurna, na sequência do declínio do império do Ghana.

Antes da chegada dos Europeus e até o século XVII, a quase totalidade do território da Guiné-Bissau integrava o reino de Gabu, tributário do legendário Império Mali, dos mandingas, que florescera a partir de 1235 e subsistiu até o século XVIII. Os grupos étnicos eram os balantas, os fulanis, os mandayakos e os molinkes.
 


 
Monumento a Nuno Tristão em Bissau. Site: "Guiné 1968/69"   











O primeiro navegador e explorador europeu a chegar à costa da actual Guiné-Bissau foi o português Nuno Tristão, em 1445.





Inicia-se então um longo processo de implantação do monopólio comercial na região, incluindo ouro e escravos, o qual vai ser, durante muito tempo, frequentemente e sobretudo contestado por corsários e traficantes franceses, holandeses e ingleses

















A área, englobando também a Guiné portuguesa, era conhecida como a Costa dos Escravos.




Nuno Tristão foi morto em data desconhecida, provavelmente no ano de 1446.

O  ocorrido deu-se na costa africana, no Rio do Ouro, que se ficou a chamar Rio do Tristão, durante um assalto destinado à captura de escravos,
 

Em 1588 os portugueses fundam, junto à costa, em Cacheu, a primeira povoação criada de raiz, a qual será sede dos capitães-mor, nomeados pelo rei de Portugal, embora sob jurisdição de Cabo Verde. Passa a vila em 1605.

Seguir-se-á a criação da localidade de Geba, bem no interior do continente.

Em 1642, os portugueses fundam Farim e Ziguinchor (esta última cidade integrando hoje o território do Senegal), a partir da deslocação de habitantes de Geba, e dando início a uma ocupação das margens dos rios Casamansa, Cacheu, Geba e Buba, a qual se torna efectiva em 1700. Passa então a zona a ser designada por Rios da Guiné.
 

Em 1687 o rei daquela região concordou que Portugal construí-se ali uma fortificação, a Fortaleza de Nossa Senhora da Conceição. Bissau foi fundada, então, em 15 de março de 1692 e, de facto, em 1696, foi iniciada a edificação da fortaleza pela Companhia de Cacheu e Cabo Verde (uma Empresa Publico Privada dos dias de hoje...) cujos objcetivos eram promover o comércio de tecidos manufacturados, marfim e escravos, entre a costa da Guiné e o arquipélago de Cabo Verde, e a do Brasil.


Em 1703, no entanto, a companhia responsável pela construção não teve o seu contrato de exploração de escravos renovado pela Coroa portuguesa, o que conduziu ao acumulo de prejuízos e ao abandono da Capitania-Mor de Bissau, em Dezembro de 1707 Neste ano, já no governo do rei D. João V, o forte foi destruído.















Em 1766 inicia-se em Bissau (que era uma ilha) a construção da fortaleza da Amura, (na época chamada "Praça de S. José" em homenagem ao rei que a mandou construir)  a partir do trabalho de cabo-verdianos.



 Fortaleza da Amura. Foto de 1908 do Arquivo Histórico Militar


Em 1800 a Inglaterra começa a fazer sentir a sua influência na Guiné, iniciando a sua reivindicação pela tutela da ilha de Bolama, arquipélago dos Bijagós, Buba e todo o litoral em frente.










Em 1855, foi criada em Bissau uma comissão municipal tendo sido elevada ao estatuto de vila a 29 de Abril de 1858 




















Em 1870, por arbitragem do presidente dos EUA, Ulysses Grant, a Inglaterra desiste das suas pretensões sobre Bolama e zonas adjacentes (21 de Abril); ainda neste ano, é feito um acordo com os régulos nalus, estendendo a influência portuguesa no sul da Guiné até à foz do Rio Tombali (24 de Novembro).





A partir de 1879 gera-se uma guerra com várias tribos decidindo então a Coroa portuguesa a separação administrativa entre Cabo Verde e a Guiné Portuguesa tendo sido transferida para Bolama, a capital da Guiné.


Os focos de contestação e a rebelião permanente e consequente dos diversos  grupos étnicos fez com que o poder colonial se limitasse ao controlo de algumas praças e presídios (Bissau, Bolama, Cacheu Farim e Geba).

Paralelamente, começa a instalação de propriedade de colonos ou de luso-africanos, em várias explorações agrícolas de grande dimensão (pontas) inicialmente dedicadas ao cultivo da mancarra (amendoim).

Em
15 de Janeiro de 1886 é assinada em Paris a convenção franco-portuguesa de delimitação das fronteiras da Guiné e em 12 de Maio de 1886 são delimitadas as fronteiras entre a Guiné Portuguesa e a África Ocidental Francesa, passando a região de Casamansa para o controlo da França, por troca com a região de Quitafine (Cacine),

Entre 23 e 30 de Setembro de 1886, em Sancorlá, no Geba, o tenente Geraldes vence os fulas-pretos comandados pelo célebre régulo Mussá Moló 

A partir do final do século XIX a população recomeça a desencadear uma decidida vaga insurrecional

O ministro Ferreira do Amaral transforma a Guiné, por decreto de 21 de Maio de 1892, num distrito militar autónomo.


Segue-se um período que vai de 1910 a 1925 de resistência à forte repressão das forças coloniais as quais lhe deram o nome de “guerra de pacificação”, embora os verdadeiros objectivos das acções militares fossem:


  • pretender eliminar os chefes militares africanos mais combativos 
  • impor pela força o pagamento pelas populações de impostos à administração colonial (o imposto de palhota)
  • e aceder mais facilmente aos recursos económicos e humanos existentes no território.





     Cavaleiro da Ordem da Torre e Espada - 1908















Entre vitórias e derrotas das populações insubmissas, dois nomes emergem neste período: por um lado, João Teixeira Pinto, militar que já na época tinha uma longa carreira colonial e que, entre 1913 e 1915, ficou conhecido como o "capitão diabo", herói  das campanhas do Oio (1913-14).






























Por outro, Abdul Indjai, que fora auxiliar de Teixeira Pinto na sua acção em Canchungo e que se revolta acabando por ser preso em Mansabá, em 1919, deportado para Cabo Verde e mais tarde para a Madeira.

 

























Em 1917, durante a 1ª Grande Guerra, uma força de soldados alemães e Askaris, (tropas indígenas da África Oriental) comandada por Paul Emil von Lettow-Vorbeck,  invadiu a Guiné em busca de provisões







  
     Militares alemães e Askaris







Uma força portuguesa sob o comando do major João Teixeira Pinto foi enviada para travar Lettow-Vorbeck de atravessar a fronteira e a 25 de Novembro de 1917, na Batalha de Negomano as tropas portuguesas foram completamente dizimadas e o major João Teixeira Pinto foi morto.





Apesar do poder colonial considerar como 'pacificado' e 'dominado' o território, nos anos posteriores, muitas regiões voltaram a rebelar-se e antigos focos de resistência ressurgiram, como o caso dos bijagós, entre 1917 e 1925 e dos baiotes e felupes em 1918.


Em 1920 o meu Avô Gabriel Cavaleiro, Major Médico do Exército , manda o meu pai trabalhar para a Guiné, tinha ele 18 anos.







 









Entre 1925 e 1940 prosseguiram as revoltas militares dos papéis de Bissau, dos felupes de Djufunco (1933) e Susana (1934-35) e dos bijagós da ilha de Canhabaque (1935-36), os quais se recusaram a pagar o imposto de palhota até 1936.




Lembro-me perfeitamente do meu Pai (ver aqui uma história sobra a Memória Colonial que escrevi em sua homenagem) se referir a isso quando eu tive idade para perceber do que se tratava.




Este período é marcado igualmente pelo início da construção de infra-estruturas (estradas, pontes e alargamento da rede eléctrica) e pelo desenvolvimento da principal cultura de exportação, a mancarra.






 

A organização social colonial nessa altura tem:

No topo da hierarquia:
(a) um pequeno núcleo de dirigentes e de quadros técnicos portugueses

A nível intermédio:
(b) funcionários públicos, maioritariamente cabo-verdianos (75%).

O sector comercial é dominado por:
(c) patrões e empregados cabo-verdianos.

A nível inferior, a imensa maioria dos guineenses são:
(d) trabalhadores domésticos e braçais, artesãos, agricultores e assalariados agrícolas nas pontas (quintas).




Foto recente de Bissau      







Em 9 de Dezembro de 1941, tinha eu 5 meses, a capital muda de Bolama para Bissau, que já então era, de facto, a “capital económica” da Guiné, e que vai conhecer um notável crescimento com o Governador Sarmento Rodrigues (1945-49).





Em 1950, dos 512.255 residentes só 8320 eram considerados civilizados

  • 2273 brancos
  • 4568 mestiços
  • 1478 negros
  • 11 indianos



E entre os civilizados, 3824 eram analfabetos, dos quais

  • 541 brancos
  • 2311 mestiços
  •  772 negros
  

















Foto Rui Gonçalves dos Santos



Foto Rui Gonçalves dos Santos





Foto Rui Gonçalves dos Santos











Bissau por volta de 1950 Foto de Agostinho Gaspar





Bissau por volta de 1950 Foto de Agostinho Gaspar





Bissau por volta de 1950 Foto de Agostinho Gaspar







Em 1956, uma revolta armada feita pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) consolidou as participações na Guiné sob a liderança da Amilcar Cabral. Ao contrário de outros grupos de guerrilha, o PAIGC controlou grandes porções de território. Chegou facilmente às fronteiras dos aliados e recebeu apoio de Cuba, dos EUA, da China e das nações africanas de esquerda.





 








Além das armas, Cuba forneceu especialistas em artilharia, técnicos e médicos. Depois de se equipar com armas antiaéreas em 1973, nomeadamente com misseis 9K32 Strela-2, designação NATO: SA-7 Grail, o PAIGC conseguiu passar a defender-se  dos ataques aéreos.







Em 1973, Amílcar Cabral foi assassinado, sendo substituído na presidência do Partido pelo seu irmão Luís Cabral



A 24 de novembro de 1973, o PAIGC declarou, unilateralmente, a independência da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, não reconhecida por Portugal mas reconhecida por 82 membros da Organização das Nações Unidas. 
















Depois do 25 de Abril, logo a 14 de Novembro, foi declarada conjuntamente com Portugal a independência da Guiné-Bissau, sendo a Presidência da República ocupada por Luís Cabral.








Por tudo o que aqui fica dito, facilmente se conclui que
a independência da Guiné-Bissau não foi um exclusivo do PAIGC.



O Povo da Guiné, as diversas tribos e os muitos Régulos desde o primeiro desembarque de um português em 1445, Nuno Tristão, "o primeiro fidalgo que viu terra de negros" ( Gomes Eanes de Azurara) demonstraram sempre e ao longo dos tempos que queriam seguir o seu próprio caminho.




Como natural de Bissau presto-lhes a minha homenagem.




Sem esquecer os muitos portugueses anónimos que amaram genuinamente a Guiné e as suas gentes.




Nem os muitos Combatentes que ali deram a vida por um ideal mal concretizado.




Não esqueço, em especial, os meus Camaradas e amigos abatidos pelas anti-aéreas.










Alguns dos sites pesquisados

https://pt.wikipedia.org/wiki/Bissau
https://pt.wikipedia.org/wiki/Companhia_de_Cacheu_e_Cabo_Verde
https://entrefogocruzado.wordpress.com/mancarra/ 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Desastre_de_Bolol
https://www.africa.com/countries/guinea-bissau/afripedia/ 
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Teixeira_Pinto
https://pt.wikipedia.org/wiki/Batalha_de_Negomano
https://pt.wikipedia.org/wiki/Paul_Emil_von_Lettow-Vorbeck
http://timashby.com/wp-content/uploads/2012/07/Askari-on-March.jpg 
https://guine6869.wordpress.com/sobre/




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