O Super Cub do Museu do Ar
Pois bem, voltando a Monte Real, refiro que a Força Aérea também estava equipada com aviões Piper Cub mas do modelo Super Cub que diferia do Cub normal, entre outras coisas, por ter um motor mais potente.
Aconteceu que sobrevoando nós um braço do rio Mondego perto de Montemor, mas na margem Sul, com uma manobra rápida, própria de aviadores competentes, conseguimos evitar embater em arames esticados no meio do canal.
No meio do canal! Quem diria...
Voltei a ser largado, em Monte Real, no Chipmunk onde poucos anos antes aprendera a voar em Aveiro, na Base Aérea de S. Jacinto, hoje extinta.
E por causa da monotonia a que eu estava obrigado naqueles penosos 45 minutos, mexilhão é mexilhão… fazia os voos, normalmente para Alverca, a uma considerável altitude.
A minha largada no Super Cub na Base Aérea de Monte Real foi sendo sucessivamente adiada sempre por razões fortuitas. Tinha que haver, por norma, um senão à última da hora.
Isto ocorreu nos idos
do final da década de 60 do século passado.
Estava eu colocado
na Esquadra 51 em Monte Real, Leiria, na Base Aérea Nº5.
E já tinha voado
mais rápido que o som num F-86 daquela Esquadra.
Sou um Falcão!
Recuando uns bons 10
anos no tempo, eu tinha sido largado, com 16 anos, num
Piper Cub, igual a este aqui em baixo, do Aero Clube
da Zambézia em Quelimane, Moçambique.
Fui o piloto mais novo a voar sozinho num avião em Moçambique.
E pouco mais voei porque achei que o meu Pai não devia continuar a sacrificar-se.
Deixou pois de haver dinheiro para mais horas de voo, mesmo com o abençoado subsídio da Mocidade Portuguesa.
Fascista,
fascista, mas muitos jovens puderam assim fazer todo o tipo de actividade
desportiva com o seu precioso subsídio. E hoje, como é? Adiante...
Pois bem, voltando a Monte Real, refiro que a Força Aérea também estava equipada com aviões Piper Cub mas do modelo Super Cub que diferia do Cub normal, entre outras coisas, por ter um motor mais potente.
Servia para voos
de ligação e treino.
E como o mexilhão
é sempre quem sofre mais... os pilotos menos graduados eram os que, na Base Aérea
Nº5, normalmente voavam nele.
Em Monte Real até
dei instrução num desses aviões a um digníssimo Oficial da Academia Militar que
em 1974 foi escolhido para Conselheiro da Revolução.
Daqui lhe mando um
grande abraço, lembrando-lhe aquele voo em que sendo eu o responsável pela
segurança a bordo, como instrutor, conseguimos mesmo à justinha, os dois em
simultâneo sem termos tido sequer tempo de comunicar um com o outro, com grande
mérito, evitar um grave acidente!
É desta raça que se
fazem os grandes aviadores…
Aconteceu que sobrevoando nós um braço do rio Mondego perto de Montemor, mas na margem Sul, com uma manobra rápida, própria de aviadores competentes, conseguimos evitar embater em arames esticados no meio do canal.
No meio do canal! Quem diria...
Imaginem arames
esticados a uns míseros 50 centímetros da superfície daquele calmo braço de rio…
Ladeado de frondosas árvores.
Lindo...
Ladeado de frondosas árvores.
Lindo...
Os dito cujos
arames serviam para os pescadores os usarem como tracção manual de deslocamento
de pequenos barcos de pesca entre as duas margens do estreito canal.
Foi ou não foi
bonito?
No comments…
Pertencendo eu aos
tais mexilhões, tinha de voar simultaneamente os aviões da Esquadra de Ligação
e treino a pouco mais de 150km/h e os supersónicos F-86 que faziam 9 minutos de
Monte Real a Lisboa contra os 45 minutos dos aviõezinhos que no entanto também
davam gozo voar.
Voltei a ser largado, em Monte Real, no Chipmunk onde poucos anos antes aprendera a voar em Aveiro, na Base Aérea de S. Jacinto, hoje extinta.
A Base Aérea Nº7 nos seus bons tempos |
Placa de estacionamento dos Chipmunks em S. Jacinto, Aveiro, 1962 |
E por causa da monotonia a que eu estava obrigado naqueles penosos 45 minutos, mexilhão é mexilhão… fazia os voos, normalmente para Alverca, a uma considerável altitude.
Simples bom-senso…
É que eu sabia que
ia adormecer inevitavelmente, com o sol de frente. E ás tantas o avião começava
também a adormecer por falta da minha
companhia...
O coitado acabava afinal por relaxar, a querer ir por ali a baixo, sonolentamente...
Quando a aerodinâmica
iniciava o processo de aumentar a velocidade, na queda inevitável, aquele barulho acrescentado
fazia-me acordar, sem sobressaltos.
Afinal ainda havia
muita altitude para perder…
Segurança acima de tudo!
A minha largada no Super Cub na Base Aérea de Monte Real foi sendo sucessivamente adiada sempre por razões fortuitas. Tinha que haver, por norma, um senão à última da hora.
Até que…
O Comandante da
Esquadra daqueles aviões ligeiros recebe um telefonema no seu gabinete com um pedido
para se ir buscar com urgência uma peça de motor a Alverca, ás Oficinas Gerais
de Material Aeronáutico.
Sai logo do
gabinete á procura do primeiro aviador capaz e dá de caras comigo no corredor.
E diz-me.
- Ó Cavaleiro você
tem de ir já, já, a Alverca no Cub buscar uma peça.
E eu nada…
- Você já foi
largado, não foi?
Salta-lhe a
dúvida. Era a minha grande oportunidade!
- Já sim senhor.
- Ok, então vá lá...
Ordens são para se
cumprir.
Tinha já um Cabo Mecânico à minha espera para fazer o meu primeiro voo naquele avião e ir buscar a peça.
Antes de entrar no Cub disse-lhe:
- Camarada, eu
nunca voei nesta coisa. Você arrisca ir comigo?
- Se você acha que
é capaz…
- Bora!
E pronto, foi
assim que fui largado no Super Cub da Força Aérea Portuguesa.
(Como se diz nos
filmes, não tentem fazer estas coisas lá em casa, nem deixem os putos fazer…)
Boa...
ResponderEliminarComigo foi quase igual...
Estávamos já em 1970 e o nosso Cmdt. da Base decidiu ir de F-86 a Tancos.
Só que não se precaveu e em Tancos não tinham carro de arranque para o F-86...
Pediram um a Monte Real e a mim para ir buscar o Sr. Coronel, ou antes, levar o Super Cub a Tancos para ele regressar, ficando eu a aguardar o carro de arranque e trazer o F-86 de volta a Monte Real.
Embora já tivesse experiência em monomotores a hélice (Chip, Do e T-6), nunca tinha voado naquela “avionette”…
Passam-me o checklist para as mãos e lá vou eu para Tancos e sem rádio.
Aconteceu que a torre de controle não atendia às minhas repetidas voltas, no local apropriado, para me dará luz verde.
Finalmente, lá me deram a autorização para aterragem e como entretanto vi um Nordatlas a descolar, e mal se via o pirilau, aí vou eu para a final da pista de serviço, para a minha primeira aterragem no Super Cub.
Só que durante a final rapidamente me apercebi da fortíssima componente lateral do vento para avião tal ligeiro.
Valeu-me a experiência das aterragens em pistas complicadas na Guiné donde tinha regressado à pouco tempo e mais “chiada” de pneus, mais motor a empurrar o “bicho” para a pista lá consegui aterrar (a voar) o “piqueno”.
Devia ter usado a outra pista, mas a juventude e o orgulho do “caçador” tem destas coisas.
Que alegria tive quando me livrei daquilo e regressei no meu “bem amado” F-86…
Como me consideraram largado no Super Cub, passaram-me a missão do controle de tiro no Campo de Alcochete, onde já tinha aterrado, mas com um Chipmunk.
“Estórias”…