Pedaços de Vida - Quem sou eu


        Não sei se sou bem isto...

         Mas identifico-me plenamente com o que o Zé escreveu, em 2014, num Prefácio
       que serviria para uma edição em livro deste Blogue, livro que não chegou a existir, na altura.




"Diz-se que todos os adolescentes tem olhos de sonho e de distância. Com aquele, isso era particularmente verdade. Sentado no muro da marginal de uma longínqua Quelimane, os pés baloiçando sobre as àguas, olhava durante longo tempo o rio preguiçoso que, em majestosa solidão, corria vagaroso por entre margens de mangais sem fim. O rio era o dos Bons Sinais, nome eternizado nos finais do Sec.XV por um Vasco da Gama teimoso, determinado e sonhador. O adolescente chamava-se Gabriel e era dele o olhar que se estendia para os lados de Inhassunge onde, por entre o verde dos mangais, o céu e o rio se confundiam no azul.

Foi o céu quem venceu e lhe veio a marcar toda a vida futura. Mas foi a curva do rio, que apontava para a velha pista de aviação onde aprendeu a voar, quem lhe ensinou que quem voa tem de voltar a terra firme e que há sempre espaços de alegria e dor entre o sonho e a realidade.

Traz-nos hoje, tantos anos passados, esse mesmo Gabriel, meu Amigo e meu Irmão, um seu livro de memórias. Iniciadas em “blogue”, elas aquí estão agora ao alcance dos “infoexcluídos”, com o seu notável colorido e uma facilidade, ritmo  e vivacidade de narrativa que dele fazem um excelente contador de estórias. Refletem, sobretudo, uma vida cheia de sonhos, princípios e emoções, com a sua riquíssima experiência de aviador assumindo um papel preponderante. Mas, por entre as linhas, por detrás das imagens, descortina-se ainda o mesmo adolescente de olhos fundos, que se apaixonou por e em Quelimane, perto de um Rio dos Bons Sinais que lhe marcou os sentidos, o destino e a alma.

Como disse um poeta moçambicano, “ deixem dormir minha alma como apodrecem os barcos”. Lá, na longínqua Quelimane, os barcos e almadias apodreciam no lodo de uma margem esquerda do rio, ao lado de uma pérgola, testemunha de tantos sonhos e amores. E se alguém pensar que uma margem lodosa não é sítio onde uma alma livre e sonhadora possa dormir, é porque nunca viu uma almadia carregada de sonhos descer a corrente do Rio dos Bons Sinais, por entre os mangais verdes, em direcção ao azul de um Oceano Índico profundo e imenso.!"


Lisboa, Abril de 2014

José Alves Pereira





O Dr. José de Almeida Alves Pereira, conhecido Advogado com escritório em Lisboa, é o autor dos seguintes livros de poesia, assinando-os como "José de Almeida", descritos aqui, por ele mesmo:


" Palavras de Outono ", em 1993, Edição Elo, ilustrado com quadros com que o pintor Noronha da Costa me honrou, 

" Poemas e Retratos ", em 2014, Edição Fundação Lapa do Lobo, ilustrado com fotografias do conhecido fotógrafo Tito Mouraz

" Poemas do Fundo da Noite ", em 2018, Edição Maisimagem II, ilustrado com fotografias do meu colega e amigo suíço Hans- Rudolf Staiger.









1 comentário:

  1. Gabriel li e revi me.
    Estive no colégio de Arganil, Externato Alves Mendes de 1956 a 1962.
    Abraço
    Luis Filipe Perdigão

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