Linha Aérea e outros voos - Como eu conheci o Pato François


    Brilhante evento!


 



Era um dos meus primeiros voos a Nova Iorque, como tripulante da TAP.


A grande cidade que ainda hoje enfeitiça qualquer pessoa.

E então em 1972, eu ainda um muito Moçambicano perfeitamente fascinado com aquela frenética e apaixonante cidade!
 

Tinha ido a trabalhar como Co-Piloto de B 707 e tive a sorte de me ter calhado no regresso, uns dois dias depois, voltar para casa não como tripulante mas como extra-crew, ou seja sem funções a bordo, como um passageiro qualquer.
 

E logo num Boeing B 747! Aquele grande avião onde nunca tinha voado. Seria a minha estreia e ainda por cima à boleia.


 
   Foto minha  em Lourenço Marques, 1975




Naquela altura era comum haver em Nova Iorque mais do que uma tripulação em estadia. 

E como o B 747 necessitava de 17 tripulantes para um voo normal, às vezes éramos muitos “TAPs” na cidade.



 

    Foto tirada do FaceBook. Desconheço o autor



 



Ia eu no meu primeiro ano de voo.

Muito compenetrado no meu papel de Co-Piloto bem comportado a construir o meu futuro como Comandante que um dia tinha que conseguir ser. 

E por ainda ser novo na companhia, era normal não conhecer toda a gente. Mas conhecia histórias de alguns que pela sua maneira de ser se destacavam da média, do comum dos mortais.

Nem todos para cima. Nem todos para baixo.
 

Chegada a hora do regresso a casa, adeus Nova Iorque, lá nos metemos todos num grande auto-carro, os que iam a trabalhar muito bem fardadinhos e aqueles que iam viver a bordo à custa do suor dos colegas, muito satisfeitos por não ir fazer nada. 



Eu ainda tinha nesse dia o aliciante de ir conhecer o B 747.
 

Foi pois com grande prazer que entrei a bordo. Ainda não conhecia todos os colegas e alguns deles provavelmente não sabiam quem eu era porque eu estava desfardado. 

Tínhamo-nos cumprimentado todos à entrada para o Auto-carro, mas com beijinhos e apertos de mão de cerimónia, para quem não se conhecia. Normalmente há sempre acompanhantes, familiares, e eu podia ter sido confundido com um desses “penduras”.
 

Às tantas do voo, já depois de ter jantado e der ido espreitar aquele enorme cockpit, sentei-me a uma das meses do Upper-deck. Aquela confortável sala de estar, no primeiro andar do avião, logo atrás do cockpit. 



Um Upper deck de um B 747, não TAP

E embrenhei-me na leitura de uma daquelas revistas que só muitos, mas mesmo muitos anos depois o comum dos portugueses teve acesso. E não era a Play Boy…
 

Sabia mesmo bem estar ali confortavelmente sentado, longe de tudo, muitas vezes sem ninguém por perto, muito sossegado, embalado pelo suave ronronar dos grandes reactores daquele magnífico avião. Era um grande prazer…

 

- O senhor deseja um Uísque?
 
 

À minha frente tinha um Comissário, impecavelmente fardado, com um ar de grande profissional que só podia ser, meio inclinado para mim, a atitude de quem pretende que o voo corra de modo a que o passageiro, com quem certamente me confundia, jamais se esqueça e queira voltar sempre.
 

Cativou-me tanta simpatia…
 

Mas eu nunca gostei de Uísque. Nem me apetecia nada.

 

- Muito obrigado. Agora não, obrigado.

 

- E um Gin-tonic?
 
 

- Também não. Agradeço-lhe muito, mas realmente não me apetece nada.

 

- E um broche?
 
 

- TU SÓ PODES SER O PATO FRANÇOIS!!! Saiu-me, de chofre.
 
 

                                                         Era, realmente…


O Pato François prepara-se para oscular, graciosamente, o colega Manuel Campos Pinto...
        Foto tirada do FaceBook. Desconheço o autor


Tinha aquele malandro à minha frente! Olha-se para aquela cara e percebe-se logo quem é o fulano...
 

E o desgraçado mantinha o mesmo sorriso, de quem tinha gozado mais um…
 

Foi assim que o conheci, aquele grandessíssimo safado de quem já tinha ouvido muitas histórias.



(Actualizada em 21 de Junho de 2015)



2 comentários:

  1. Caro Gabriel, esse Sr. Pato Francois é meu pai, parabéns pelo seu blog e obrigado por mais uma história. Cumps Hugo Francois

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    1. Meu caro

      Obrigado pelo seu comentário.
      Quanto ao seu Pai, como se vê... é uma pessoa que muito estimo.
      Gostei muito de o ter como colega nas lides aeronáuticas.
      A TAP é uma grande casa. Até não sei quando...
      Grande Abraço. Aos dois...

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