OUTRAS HISTÓRIAS - José do Telhado 2 - Guerra Civil e 1ºs Assaltos

 






2ª Parte de 5






José do Telhado, que vivia anos felizes na sua casa, na Freguesia de Mouriz, adere entusiasticamente ao movimento da Patuleia, colocando-se do lado dos Setembristas, evidentemente. Era, afinal, um Liberal. 


Anteriormente, pelo mero acaso de, sem o poder saber, se ter alistado no batalhão errado, combatera os Setembristas (Liberais, muito chegados à esquerda), juntando-se às forças dos Absolutista, apoiantes da Carta Constitucional de 1826. 

Agora, vai combater a direita Absolutista, juntando-se aos ideais da esquerda. 

E com tão grande entusiasmo o faz que até vende as fazendas, compra um cavalo, arma-se e apresenta-se na Junta do Porto, em finais de 1846. 










É obviamente alistado, ele que já tão boas provas tinha dado sob as ordens do General John Schwalback, Barão de Setúbal, nos fins de 1837. Fica com o posto de Sargento e logo às ordens do General Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo, Marquês de Sá da Bandeira.




                                               Jornal "O_Occidente"_de 11Abr1882













Casa onde faleceu o Marquês de Sá da Bandeira, em Lisboa, mais tarde demolida para a abertura da Avenida da Liberdade



E é nessa função que se destaca numa histórica batalha daquela guerra civil.

 

O Combate de Valpaços

 

Um combate que também ficou conhecido como a Acção Valpaços. 

Foi uma das batalhas que fizeram parte das lutas liberais entre: 

- Cartistas (apoiantes da Coroa e da Carta Constitucional) e

- Setembristas (liberais radicais, apoiantes da restauração da Constituição de 1822).




A batalha travou-se nos arredores de Valpaços, no dia 16 de Novembro de 1846, com o início do confronto por volta das 3 horas e trinta minutos dessa tarde de Segunda Feira. 

O Visconde de Vinhais, Brigadeiro Simão da Costa Pessoa, castrista, fiel à coroa, enfrenta o General Marquês de Sá da Bandeira, liberal, setembrista, fiel à Constituição de 1822. opositor do Governo de D. Maria II

Este homem que tinha anteriormente perdido o braço direito no Alto da Bandeira, em Vila Nova de Gaia, era depreciativamente conhecido pela alcunha de o “Sá Maneta”. 

O combate começou com o avanço do Brigadeiro Visconde de Vinhais sobre a esquerda da linha defensiva do General Marquês de Sá da Bandeira 

Avançam soltando vivas à Rainha e à Carta, acercando-se dos Regimentos de Infantaria 3 e 15 de Sá da Bandeira. 

Os combatentes da Infantaria 3 rendem-se de imediato à causa cartista e o Regimento de Infantaria 15 fez o mesmo. Passam-se ambos para o lado do inimigo, em plena batalha! 

Abandonando as hostes do Marquês de Sá da Bandeira, contrariando a vontade do seu próprio comandante, o coronel Feio, que acaba preso por não se querer render aos castristas. 

O combate transforma-se numa enorme confusão entre assaltantes, defensores, traidores, tudo num enorme embrulho, acabando até por haver actos criminosos entre vitoriosos e perdedores, com todos em grandes combates e muitas fugas por todas as redondezas. 

No meio da refrega, um soldado da infantaria castrista lançou a mão às rédeas do cavalo do setembrista Marquês de Sá da Bandeira, enquanto outro conseguiu que ele as largasse. Não esqueçamos que o Marquês, a tentar dominar o seu cavalo, em plena batalha, não tinha o braço direito… 

José do Telhado, que tudo presenciou, conseguiu tomar as rédeas do cavalo do General e, metendo o seu a galope, obrigou os dois cavalos a saltarem um valado. No mesmo momento algumas balas passaram por cima da cabeça de Sá da Bandeira, lançadas pelas espingardas de soldados de um dos regimentos traidores ao Marquês. Três soldados de cavalaria carregaram sobre Sá da Bandeira. 

José do Telhado fez-lhes frente. Desarmou um, feriu outro mortalmente e ao terceiro, que decidira por bem, fugir, varou-o pelas costas!.












Cumprida esta missão, José do Telhado volta em socorro do seu General, que o espera, meio soerguido do chão, muito emocionado.

Completamente atónito, o Sargento ordenança José do Telhado, recebeu, ali mesmo, da única mão do General, a condecoração da Torre e Espada, que tirou do seu próprio peito, pois a trazia sempre posta, com muito orgulho.







Derrotado, Sá da Bandeira recolheu a Valpaços e já de madrugada pôs-se em marcha para Murça, servindo-lhe de guia «um popular de Valpaços de nome Luís Teixeira Ferlim, por alcunha o 'Sete fêmeas'». 

Foram até Pinhão e daí regressaram ao Porto, em barcos. 

Ainda pelo caminho foram atacados pelo chefe dos rebeldes miguelistas, entretanto aliciado pelos cabralistas, MacDonell, que foi derrotado, com elevado número de mortos. 

Sem grande nexo nem explicação para tal, sabendo-se que apesar de as tropas dos liberais terem ficado enfraquecidas por uma traição, as do governo não souberam, ou não quiseram aproveitar a sua vitória em vários combates pelo Norte. 

Abandonaram o campo do inimigo, sem que sobre ele tivessem alcançado qualquer resultado decisivo. 

Ainda antes da pacificação do Norte, José do Telhado é brindado com o nascimento de outra filha, em 15 de Maio de 1947. A Teresa. 

Portugal recorreu a potências estrangeiras para solucionar este infindável conflito, que se arrastava sem solução e sem ganhos de valor de parte a parte.

 

 

Fim da Guerra Civil - Convenção de Gramido

 






Tudo acabou, finalmente, em 24 de Junho de 1847, com a assinatura da Convenção de Gramido, na Casa Branca, na marginal de Valbom, Gondomar. 



Sala da Casa Branca, hoje uma casa museu, onde foi assinada a Convenção

Marca a capitulação das forças setembristas consolidando-se assim a vitória da Rainha ou seja do cartismo-cabralista sobre o setembrismo-patuleia. Foi firmada pelos representantes das potências aliadas e pelo governo português. 

O Conde das Antas é preso e os outros membros que pertenciam à Junta, já se tinham entretanto afastado. 

As guerrilhas ainda mantiveram por uns tempos alguma actividade, sobretudo pelos miguelistas, mas os “setembristas”, que recuperavam alguma influência nas franjas do Executivo, apostavam agora numa tática mais legalista. 

E por esta relativa indefinição de posições políticas, Portugal entra numa fase de transição, naturalmente confusa, pouco definida, em que os vencedores no campo de batalha se submetem aos vencidos no campo político. O Absolutismo vai-se submetendo ao Liberalismo no campo da organização política e social. 

No entanto, as pessoas não abdicam das suas ideias mas o progresso social entre as gentes vai ganhando terreno. 

Como sempre, o poder económico gosta mais de políticas controladoras, que lhes permitam manter, sem grandes limitações, a obtenção do maior lucro possível. Gostam de poder fazer avançar a economia. Não gostam que se lhes limite o poder de o conseguir a todo o custo. 

Quem não tem poder económico luta para conseguir uma vida melhor.

Há, naturalmente, sempre quem se exceda. De um e de outro lado. 

Portugal, depois do fim da Patuleia, entrou num ciclo em que o poder económico, normalmente nas mãos de Absolutistas, os vencedores, se submeteu à nova ordem social, a dos vencidos, os Liberais.


 

À procura de trabalho








Foi esse país que José do Telhado encontrou quando os combates terminaram e ele teve de voltar à vida normal. Agora sem meios de subsistência, pois vendera as fazendas para se fazer á guerra.
 

Liberal vencido, não encontrou trabalho no seio de quem lho podia dar, a sociedade rica, os Absolutistas, vencedores, com dinheiro, mas sem poder e enraivecidos… 



O poder que tinham, o do bem-estar económico, exerciam-no contra os vencidos Liberais que agora personificavam um entrave ao seu desenvolvimento, ainda erradamente baseado em políticas menos correctas. 

Por toda a parte se via perseguições aos perdedores da revolta, principalmente, como já disse, ao nível económico, não se conseguindo empregos e até carregando desmesuradamente no pagamento de impostos. 

José do Telhado, que tudo hipotecara para tomar parte, abnegada e valorosamente, na Guerra Civil, que perdera, também não conseguia emprego em lado nenhum. 

Concorreu, por exemplo, a um emprego no Depósito do Tabaco, no Porto. Não o conseguiu. 

Os vencedores, que o conheciam, perseguiam-no, despeitados e vingativos. 

Empurravam-no a ele e a todos, sem exepção, para a miséria. 

Ninguém com posses, mas de pé atrás contra quem lutara contra os seus, lhe daria nunca emprego.

Deste modo, viu-se impedido de pagar as dívidas.


Atola-se nelas e acaba sendo expulso das Forças Armadas!


Provavelmente por alguém de um Regimento não Liberal, digo eu. 

Os manos Cabral exilaram-se em Espanha. Costa Cabral ainda regressou a Portugal para voltar a assumir uma pasta do Reino, em 18 de Junho de 1849.

Desta vez, acumulando com a chefia do Governo.


Uma 3ª filha nasce ao casal do Telhado, no dia 23 de Agosto de 1849. A Ana.


O Governo de Costa Cabral, recém-empossado, foi obrigado a enfrentar um clima político que, agora, lhe era bastante hostil.

Este Cabral, modifica a Lei de Imprensa por outra, que ficou conhecida como a “Lei das Rolhas”. 

O Governo durou menos que o anterior, dos manos Cabral, mas fez as primeiras estradas de macadame. Vá lá… 

Até os irmãos se incompatibilizaram um com o outro. Acabou por ser um pronunciamento militar, o do duque de Saldanha, em abril de 1851, que retirou Costa Cabral do poder. 

E, felizmente, nunca mais voltou ao Governo.

Portugal entrou então num período de alguma estabilidade política através de acordos entre cartistas e setembristas. E, com o auxílio de Fontes Pereira de Melo, iniciou-se uma era de relativo desenvolvimento, sem mais guerras civis. 

A bem da Nação…digo eu. 

Depois da ambígua paz estabelecida na Convenção de Gramido, assinada em Valbom, na Casa Branca, José do Telhado, sem trabalho nem vendo que o conseguiria vir a ter, inicia uma nova vida, desta vez em aberto conflito com a legalidade, assaltando algumas casas de gente de muitas posses. 

Assalto aqui, assalto ali, foi conseguindo recuperar qualidade de vida económica para sustentar os seus. E com isto também repartir com um e outro, que via mais necessitado, parte dons bens que poderia usar só consigo e a família. Mas não. Ajudava sempre quem via necessitado, com aquilo que subtraia a quem não precisava de tanto, em seu entender. 

Tanto quanto se sabe, os assaltos começaram logo depois do fim das hostilidades, ainda em 1847, em Canelas de Douro em Margaride e até em Baião, na casa do padre Domingos de Boscras, que era tio de Francisco de Paulo Lobo d´Ávila. .

 

Os primeiros assaltos

 

Assalto do Zêzere

José do Telhado, tentou, em Novembro de 1849, assaltar a Casa de Cadeade, em Santa Marinha do Zêzere -Baião, do doutor António Fabrício Lopes Monteiro. 

A grande tenacidade com que os sitiados se defenderam levou a que o assalto não fosse consumado. 

Havia que tentar de novo. José do Telhado tinha a ideia de obter dinheiro para uma passagem para o Brasil, a qualquer preço, sabendo que gente e faculdades não lhe faltavam. 

Era no Brasil que esperava conseguir uma vida melhor para os seus, uma vez que em Portugal não estava a conseguir tê-la.

 

 

Assalto a uma casa na freguesia de Macieira

 

A actividade de José do Telhado no seio do crime, parece ter começado, com sucesso, na noite de 12 de Dezembro de 1849, quando atacou, sem aviso, uma casa de um lavrador rico em Macieira, Lousada, no desespero de nada ter para sustentar a família 

Dele, lavrador Manuel da Costa, tinha boas notícias de ser abastado e com bom dinheiro. Assim lhe confiaram os seus informadores. 

O proprietário foi ferido e depois arrastado para uma sala interior, para confessar onde estava a saca com o dinheiro. 

Lembrem-se que ainda não havia bancos onde depositar as poupanças de cada um.

O dinheiro amealhado vivia normalmente debaixo de uma cama, num qualquer armário, num cofre ou num esconderijo. 

O seu criado, o único doméstico que tinha, gemia, amordaçado e amarrado, com as mãos atrás das costas. 

Desta vez era bem valioso o pecúlio do senhor Manuel da Costa e a quadrilha foi muito bem recompensada. 

Poucos dias depois, José Teixeira foi pronunciado, com seu irmão, se bem que Joaquim já o estivesse por outros assaltos, de canelas do Douro, Margarida e Baião. 

Ana, a mulher de José Teixeira, quando soube que o seu marido estava implicado num crime, que a infeliz desconhecia por completo ele ter praticado, tentou suicidar-se, e “levar” com ela os filhos. 

Conteve-se ela e os filhos, a muito custo, de todo desamparados pelo pai, que resolveu fugir para o Brasil, depois da pronúncia, em Janeiro de 1851, á mingua de sustento para manter a família.

 

Primeira fuga para o Brasil

 

Embarca no Porto, para o Brasil, em fins de 1849, na barca “Oliveira”, com destino ao Rio de Janeiro. Na bagagem levava o sonho de vir a ter uma vida mais fácil e, quem sabe, mandar, um dia, a família juntar-se a ele. 



As Barcas Arcelina Venturosa e Oliveira no cais de Gaia



Apresentou-se no Rio de Janeiro ao cônsul-geral, dizendo-se carpinteiro de profissão.


Rio de Janeiro em meados do Sec XIX




Viajou depois para o Rio Grande do Sul e tirou o passaporte, obrigatório para se poder deslocar, para Santa Catarina, em Porto Alegre. Em São José visou o passaporte, com destino a Sorocaba, onde chegou em Março de 1851. 


Porém, porém, menos de um ano depois, estava de volta...


Segundo confessou a Camilo Castelo Branco, na Cadeia da Relação do Porto, onde ambos se encontraram, detidos, que tinha sido “pelos seus filhinhos” que tinha regressado. 

No seu livro “Memórias do Cárcere”, que Camilo Castelo Branco escreveu enquanto esteve preso na Cadeia da Relação do Porto, entre 1 de Outubro de 1860 e 16 de Outubro de 1861, disse: 


Perguntei ao preso que razão teve para sair do Brasil.

-Saudades de minha mulher e dos meus meninos, respondeu.

-Mas é fama que o senhor fizera lá um grande roubo.

-É mentira. Eu andei por lá 19 meses tão aflito do coração, que não parava em parte nenhuma. Com a ideia de morrer de saudades, e por isso vim, sem já me dar de ser preso e enforcado. O que eu queria era estar perto dos meus meninos, e morrer onde minha a mulher me aparecesse à hora da morte.»

 

Um último filho dá à luz a sua mulher, Ana Leontina. O António, no dia 30 de Agosto de 1852.


Perante a impossibilidade de dar à família condições de vida decentes, José do Telhado resolve valer-se do que de melhor sabe fazer.


Inicia uma década de assaltos, brutais e violentos, espalhando o terror em volta da região onde nascera, mas somente em solares onde ele sabia que havia valiosas moedas de ouro escondidas. 

Nunca assaltou igrejas, nem lojas, nem repartições publicas, cemitérios, etc. Além disso, cerca de 10% do producto dos roubos distribuía-o ele pelos pobres. 

E ainda hoje, em Marco de Canavezes se diz que Zé do Telhado era uma espécie de Robin dos Bosques, roubava aos ricos para dar aos pobres. 

Não era, evidentemente, bem assim. Mas pelas benfeitorias que praticou em prol de muita gente necessitada, não é de todo descabido conceder-lhe esse epíteto… 

Mas não só. Conta-se que, certo dia, um padre se recusou a celebrar um casamento simplesmente porque os noivos, pobres, não conseguiam pagar o serviço ao pároco. Zé do Telhado obrigou-o a realizar a cerimónia, sem eles nada pagarem à Igreja… 

A Camilo contou que, uma parte do ouro roubado, era para comprar, nas feiras do Douro, juntas de bois para entregar aos lavradores pobres, para eles poderem ganhar as suas vidas. 

José do Telhado nunca foi rico. Normalmente apresentava-se, com orgulho e certamente com alguma ironia, como “Repartidor Público”. 

Assim se apresentou, também, no julgamento.

 

 

QUADRILHA

Por essa altura, Custódio, o Boca Negra, capitaneava a maior quadrilha de bandoleiros. Com ela, aterrorizava as duas Beiras, já desde 1842. Também conhecia, de ginjeira, as façanhas militares de José Teixeira.

Ferido a tiro num assalto, esmagado pelas patas do seu também ferido cavalo, Custódio, que jamais aceitaria ser tratado por um médico, piorou dos ferimentos e o seu estado de saúde agravou-se mais do que esperava. 

Muito maltratado, resolveu voltar a casa, conforme pôde, auxiliado pelo seu fiel Girafa, para se tratar devidamente.

Incapacitado, pelo menos temporariamente, achava ele, da chefia da malta, decide, a muito custo, levar José Teixeira, que conhecia bem, mas sem muito lhe contar, a um casario meio abandonado onde se acoitava o bando que liderava. 

Apresenta-lhe, à luz de uma vela, o Tira-Vidas, o Girafa, o Sancho Pacato, o Veterano e o Zé Pequeno. Pelos nomes… já se percebe muita coisa! 

Nessa reunião, o Boca Negra, informa os companheiros que, uma vez que estava ferido, incapacitado, José Teixeira o substituiria no comando da quadrilha no assalto do dia seguinte. 

Aceite a tarefa, a partir daí, Zé do Telhado, fez, desfez, reorganizou quadrilhas, ganhou fama de homem audaz e generoso pelas vítimas que escolhe para os assaltos e pelo destino de parte do dinheiro ou das joias dos desgraçados com que se cruzava. 

O pobre Custódio, Boca Negra, morreria, dos ferimentos, dias depois daquela reunião. 

A partir daí, José do Telhado passou a ser muito bem conhecido em toda a parte. 

Tanto pelos ricos, que ficavam sem nada ou muito pouco, como por alguns pobres, a quem dava alguma ajuda. A ninguém era indiferente. Uns com mais sorte que outros, como sempre na vida… 

As quadrilhas, naqueles tempos, integravam as pessoas mais inimagináveis, num ambiente inconcebível em qualquer sociedade minimamente civilizada, bem revelador do clima de desnorte em que viviam os descendentes de Viriato, naquela época de pouco tino, mal que a todos parecia ter acometido. Tal e qual uma pandemia. Uma pandemia de desordem social, total. 

Nas quadrilhas podiam encontrar-se empresários, padres, administradores, morgados, alfaiates, juízes, etc., etc., etc. Todos estes, nunca foram julgados. 

A constituição das quadrilhas de José do Telhado, um homem com experiência militar, treinado nos melhores preceitos da disciplina e organização para o sucesso numa qualquer batalha, variavam conforme o local a atacar, o tipo de bem a espoliar e a dimensão do solar, se fosse caso disso. 

Zé do Telhado era o chefe inquestionável, o homem que ditava as ordens, o comandante. Logo abaixo na hierarquia, o irmão Joaquim, como 2º elemento, o ajudante. A seguir na hierarquia, labutavam os chefes de divisão, ou capatazes, como também lhes chamavam. Eram os homens da sua confiança, destemidos e experientes no saque dos bens do alheio. como o José Pequeno, os dois filhos do morgado de Canavesinhos, António e José e também o Sarrazola e tantos outros. 

Estes “combatentes”, os chefes de divisão, eram responsáveis por angariar gente para grupos de divisionários, a tropa miúda, na maioria dos casos compostos por 4 a 6 elementos. 

Eram os filhos das famílias mais pobres das redondezas, gente simples e humilde, gente que vivia e alimentava a família só por seguir Zé do Telhado. Senão, nada teriam para comer. 

Mas não só. Nos bandos encontramos também outros elementos de muita valia como o António da Cunha, o Avarento, o João de Morais, o Silva, mestre pedreiro, a senhora Tomásia, o Joaquim Pinto e a mulher, donos de uma estalagem, o Glórias, o Morgado António Faria, o Peneireiro, o padre Torquato José Coelho Magalhães, o alfaiate Miguel Exposto, os Pedreiros, o Morgado da Magantinha, António Ribeiro de Faria, o administrador Albino Leite e uns quantos mais. Normalmente cada quadrilha, cada bando, compreendia cerca de 25 indivíduos. 

Estes eram normalmente recrutados consoante o necessário, ou seja, o local e o tipo do assalto. 

Seriam duas as quadrilhas sob o seu comando.




 





A do Marco, de que fazia também parte o seu irmão Joaquim, à sua direita nesta imagem, tinha quatro chefes de divisão e 20 divisionários. 


Já a de Lousada, também com um ajudante, tinha cinco chefes de divisão entre os quais, novamente, o seu irmão, um padre, um fidalgo e mais 25 divisionários. 




Mas a variedade e a informação segura e atempada, é que era o segredo do sucesso, pois dependia sempre das condições locais e do acto a cometer. 

Seguramente devido à experiência militar do chefe, a quadrilha alimentava-se de uma vasta rede de informadores de todas as classes sociais, homens e mulheres do povo e não só: criados e criadas de servir, padres, pedreiros, fidalgos e agricultores. 

A estes chamava ele o seu “corpo auxiliar”. 

Muito úteis eram também os taberneiros e os donos de estalagens, que tinham sempre boas informações para lhe dar devido ao tipo e estadia dos viajantes a quem davam abrigo. Ouviam as conversas, sabiam quem herdava o quê e assim avaliavam também o peso do bolso dos clientes…o empenho das autoridades na sua busca, etc. Pertenciam vários taberneiros e taberneiras aquele “corpo auxiliar”. 

Munido desta bem gerida e oleada organização, cria todo um clima de terror nas Beiras, o que muito lhe facilita a operação no terreno. 

O temido Zé do Telhado, por outro lado, emitia aos que estimava, um salvo conduto que garantia total segurança a quem apresentasse tal valioso documento. 

Assinado por si, tal documento dizia:

 

- “O portador deste salvo-conduto pode passar livremente e mando que o ajudem quando for preciso”.

 

Suponho que também não seria de muito bom tom ser-se portador de tal documento de validade duvidosa (embora precioso!). Mas eram os tempos que se viviam…


 

Na 3ª parte desta história vamos assistir aos mais famosos assaltos dos

Bandos e Quadrilhas de José do Telhado.




 

Não percam. Leiam aqui a 3ª parte


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