Padre Himalaia


Ou seja:

Manuel António Gomes




O português que criou,

há mais de 130 anos,

entre outras coisas extraordinárias,

 uma máquina que fazia chover

e outra que atingiu 3800ºC,

só com o recurso á energia solar!



 

Este país, á beira-mar plantado, nada mais certo, é uma fonte de surpresas…


 

A história que se segue é sobre a vida de um homem que só há muito poucos anos foi trazida das trevas 

novamente para a luz.


E que luz!



Como é possível um homem desta envergadura ser desconhecido da quase totalidade dos portugueses, durante estes anos todos…





Esta história começa em... 


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Manuel António Gomes nasce no dia 9 de Dezembro de 1868, em Santiago de Cendufe.

Uma aldeia do Município de Arcos de Valdevez que nos dias de hoje ainda tem pouco mais de 300 habitantes.

Era um dos sete filhos de uma família de agricultores extremamente pobres, do Minho.

Viveu praticamente toda a infância em casa dos avós, na aldeia do Souto, muito perto de Cendufe, onde terminou em 1880, com 11 anos de idade, os estudos elementares na escola primária local.

Tinha 15 anos quando, depois de uma interrupção nos estudos, trabalhou na lavoura familiar.

Entrou, no seminário em Braga em 1882.

Morreu em Viana do Castelo em 1933, aos 65 anos.

 

 

 

Entretanto…

Não dá para acreditar no que este homem fez…




 1883

Aos 15 anos entrou num Colégio, uma instituição criada para acolher estudantes pobres mas com bom aproveitamento escolar. Foi internado,  juntamente com o seu irmão Gaspar, com vista a prosseguir os estudos conducentes a uma carreira eclesiástica,

Era, nesse tempo, o destino de alguns jovens, bons alunos, oriundos de famílias sem recursos que  não podiam suportar tais despesas

Foi aí que ganhou a alcunha de “Himalaia”,  graças á sua grande estatura.

Nome que depois adoptou como seu, para o resto da vida.

Terminado o Liceu e já durante a frequência do Seminário de Braga revelou ter um elevado gosto pelo conhecimento científico e pelo progresso tecnológico. Dedicava-se a fazer várias experiências e inovações nos campos da agricultura e das ciências técnicas.












O Arcebispo João Crisóstomo de Amorim Pessoa tinha recebido pouco antes cerca de 7000 volumes para a biblioteca do Seminário e foi lá que Manuel António Gomes, chamemos-lhe a partir de agora, “Himalaia”, aprofundando os seus conhecimentos que iam muito para além dos ensinamentos prestados aos seminaristas  da instituição.



Provido de idéias filosóficas próprias, uma personalidade irrequieta, pensamento desalinhado com as normas correntes administradas pelos professores, não era propriamente um seminarista muito alinhado.


1887

No entanto, a 21 de Junho de 1887 conseguiu, mesmo assim, completar o seminário preparatório iniciando logo de seguida o curso teológico que o levaria á ordenação sacerdotal

A sua primeira dedução extraordinária, ainda no Seminário, foi relacionar a associação que os pastores faziam entre a abundância de trovoadas num ano e a fertilidade do solo na Primavera seguinte ou seja o aumento da fertilidade com a fixação de azoto atmosférico por efeito dos raios solares.

O que julgou poder reproduzir utilizando a energia solar concentrada por espelhos ou lentes.


1889

Munido desta idéia, em 1889, ainda no Seminário, elaborou um método que lhe permitisse, através da captação do azoto atmosférico, aumentar naturalmente a fertilidade dos solos.

Era preciso construir um aparelho que fosse capaz de transformar o azoto livre em “azotatos de amoníaco”, ou seja em sais azotados derivados da amónia.

 

1890

Em Junho de 1890 terminado o curso teológico é transferido, no Outono desse ano, para o Colégio da Formiga, em Ermesinde, onde foi ordenado presbítero, um ano mais tarde, no dia 26 de Julho de 1891, iniciando funções sacerdotais e a fase prática das suas investigações solares

Por esta altura começa simultaneamente a pensar num sistema que melhorasse a cultura das plantas através de compostos azotados que conseguisse extrair da atmosfera usando o calor do Sol

Ainda em 1891 muda-se para Coimbra sendo nomeado capelão no Colégio dos Órfãos, ascendendo, pouco depois  a vice-reitor da instituição. Procura emprego e matricula-se, na Universidade, no curso de Matemática..

No ano seguinte demitiu-se do cargo solidarizando-se com o reitor, que fora acusado de violência nos castigos aplicados a alguns órfãos.

O ambiente na cidade tornara-se pesado para ele.

Resolve então deixar Coimbra e muda-se para Vila Real e pouco depois para Fânzeres, onde recebeu o apoio de Manuel de Clamouse Brown van Zeller e de sua esposa Camila de Araújo Rangel, donos da Quinta de Montezelo

Contrataram-no como preceptor dos seus filhos, nos cinco anos seguintes


 Quinta de Montezelo nos dias de hoje


Após 1896

Prossegue depois os seus estudos sobre a Energia Solar e inicia longas viagens pela Europa.

Na Alemanha contactou, nas termas de Bad Wörishofen, o seu director, o padre Sebastian Kneipp, a quem se deve (a ainda existente) Terapia Kneipp e a fitoterapia



       Padre Sebastian Kneipp

A partir deste encontro, o Padre Himalaia revelou um crescente interesse por plantas medicinais mantendo contacto com os principais investigadores e defensores do naturismo

Será por esta altura que o Padre Himalaia revela um grande entusiasmo pela alimentação vegetariana e por um estilo de vida que procurasse manter a saúde através de dietas bem elaboradas e de exercício físico. dando início a uma exploração sistemática do centro e Sul de Portugal, já depois de 1893, visando a recolha de espécimes da flora, em particular de plantas consideradas medicinais.

Por esta altura contactou o director do Jardim Botânico de Coimbra, Júlio Henriques, principal autoridade em matéria de botânica e flora em Portugal, naqueles tempos.


Ferdinand von Müller














Ambos traduziram, em 1905, um manual sobre plantas úteis para cultura em regiões extratropicais, de Ferdinand von Mueller, com o título: “Dicionário de Plantas Úteis

                             



O Padre Himalaia e Júlio Henriques formaram um conjunto de colaboradores, espalhados por todo o território português, com o intuito de organizar a pesquisa da flora portuguesa, nomeadamente a sistematização de plantas medicinais Padre Himalaia também colaborou na 3.ª edição em língua portuguesa do livro “Tratamento pela Água de Sebastian Kneipp, obra que lançou o Kneippismo em Portugal com as suas concepções terapêuticas baseadas no naturismo, em particular na defesa da hidroterapia e da fitoterapia associadas a opções dietéticas vegetariana. 

No capítulo religioso utilizou o periódico  “A Palavra, para publicar artigos de opinião em defesa da doutrina social da Igreja, seguindo as ideias do Papa Leão XIII,

Mas o seu verdadeiro cominho estava completamente orientado para a ciência, para a investigação, com ênfase na  energia Solar.

Mas entretanto, por volta de 1891, 1892, o Padre Himalaya teve um problema grave na sua carreira eclesiástica. Ter-se-á apaixonado por uma senhora casada. O que o conduziu a uma reflexão sobre o seu vínculo à igreja.

Era um homem muito sério, com uma postura muito correcta.

Pediu para ser reduzido ao estado laico, pedido que foi recusado pela Igreja

Obediente aos ditames da Igreja mas obcecado com a ciência, não deixou se ser padre no activo mas prosseguiu as suas experiências tecnológicas, intensificando contactos e aprofundando conhecimentos.

 

1892

Visitou, entre 1892 e 1897, o continente africano como missionário, onde terá contraído malária

A sua sede de conhecimento leva-o, a partir de 1893 a um percurso pelo centro e sul do País, onde recolhe diversos exemplares da flora portuguesa.

 

1898


                                                           Porto - Campanhã em 1895

No ano de 1898 vive na cidade do Porto e lecciona como Professor de Física e Química no Colégio da Visitação, tendo participado nos trabalhos de ampliação das suas instalações.

E porque estudava, simultaneamente, técnicas de radiestesia, descobriu água no subsolo da instituição.

Com o andamento das obras de restauro, foi o autor do projecto de uma parte da estrutura metálica da ala norte do novo edifício anexo ao Colégio e da estrutura da capela

Não deixou, no entanto, os seus estudos das ciências naturais, em particular da botânica médica. Incansável, preparou tisanas, elixires e pomadas  que ofereceu aos seus familiares e amigos e que também administrou, gratuitamente, aos seus doentes mais carenciados.

Dirige as obras de ampliação do Colégio e é encarregue das obras de construção da ala norte do novo edifício, anexo ao Colégio.

O seu empenho na obra de ampliação do Colégio e a premente necessidade de estudar estruturas metálicas, deram origem á sua ligação á Fábrica de Louça de Massarelos e a outras unidades de construções metálicas do Porto. Eram empresas líderes na metalomecânica, dos fornos e da fundição.

Aproveita para estudar as potencialidades da construção do ferro, da metalomecânica e dos processos de fundição, tecnologias avançadas que depois utilizaria na construção do seu pirelióforo.

Vai, entretanto, deixando para trás, progressivamente, as questões religiosas e sociopolíticas para se dedicar, cada vez com mais empenho, ao estudo daquilo a que hoje chamamos energias renováveis, nomeadamente a energia solar e as suas aplicações práticas.

Incansável, ainda no Porto, frequentou um curso livre de Química do professor Ferreira da Silva, de quem acabou por se tornar amigo.

Aceita, entretanto, o lugar de professor no Colégio da Visitação, no Porto, onde aprofunda o seu conhecimento das ciências naturais, enquanto estuda as potencialidades da construção do ferro, da metalomecânica e dos processos de fundição.

Nos tempos livres, estuda ciências, botânica médica e agricultura em geral

Fabrica, inclusivamente, a partir de plantas medicinais, elixires, pomadas e chás. Produtos que oferece aos familiares e amigos, assim como às populações mais pobres.

Uma alma inquieta e curiosa, sobre áreas tão diversas como Ecologia, Educação, Filosofia, Religião e Economia, viveu na Inglaterra, França, Alemanha, Estados Unidos e Argentina, sempre á procura de alargar o conhecimento mas também com o fito de conseguir apoio financeiro para os seus muitos e dispendiosos projectos.

Era um apaixonado pela ciência e aos 29 anos já fabricava engenhos que usavam a energia solar..

Ainda em 1898, leccionava no Porto, resolve mudar-se para Paris. para consolidar o seu saber nestas matérias, nomeadamente a refracção por lentes e a reflexão através de sistemas de espelhos.

Decididamente um homem de ciência, o Padre Himalaia dedicou a sua vida (nunca esquecendo a sua condição de padre) á descoberta científica, tendo registado patentes relacionadas com as muitas vertentes da sua paixão pela investigação.


1900

Partiu para a capital francesa com o objectivo de ali prosseguir os seus estudos (nomeadamente na área da refracção por lentes e na reflexão através de sistemas de espelhos) de modo a conseguir também reunir os meios que lhe permitissem construir o pirelióforo. Para a deslocação contou com o patrocínio de uma abastada benfeitora, D. Emília Josefina dos Santos, ex-aluna da Sorbonne, o encorajamento do arcebispo  de Braga, D. António José de Freitas Honorato e do químico portuense, Ferreira da Silva, que tinha amigos em França.

Chegou a Paris, na altura um dos principais centros de desenvolvimento tecnológico da Europa com o final das obras para a Exposição Universal de 1889 ainda em curso, onde acabava de se erguer a Torre Eiffel, porta de entrada para a Exposição.



                             Sorbonne em 1900



Com as recomendações que levava, o Padre Himalaia entrou em contacto com alguns dos principais cientistas da época, tendo frequentado aulas e assistido a conferências de importantes mestres. nomeadamente:

- O químico Marcellin Berthelot, pioneiro da termoquímica e historiador de alquimia e da química vegetal.

- Frequentou, na Universidade de Paris aulas de Henri Moissan (que mais tarde viria a receber um Prémio Nobel) inventor de um forno eléctrico de altas temperaturas

- Assistiu também a aulas de Jules Violle, pioneiro da fotometria e estudioso da radiação solar.

- No Institut Catholique de Paris assistiu às conferências de Édouard Branly, inventor do coesor e especialista no campo das faíscas eléctricas.

- Teve também e principalmente, a preciosa ajuda do engenheiro Jacques Ainé, professor no Conservatoire National des Arts et Métiers, na formalização das patentes, permitindo que o registo fosse realizado através do seu gabinete

O Padre Himalaia conseguiu assim, com estas preciosas ajudas, manter-se coerente com a sua ideia inicial da oxidação do azoto atmosférico, visando a produção de fertilizantes para a agricultura.

Sempre com vista á fertilização do solo, Himalaia tenta associar a energia solar aos compostos azotados de modo a promover a síntese desses compostos a partir do azoto molecular existente na atmosfera.

As altas temperaturas, necessárias para produzir aqueles compostos tão necessários á fertilização dos solos, vai buscá-las á energia solar concentrada, que consegue captar com a concepção de um aparelho óptico que capta tal energia e permite utilizá-la.

Esta ideia de utilizar a energia solar já tinha sido publicada num artigo do periódico “A Província” em Janeiro de 1888.

No texto relatava-se que Augustin Mouchot inventara um forno solar que conseguia obter elevadíssimas temperaturas

Foi, portanto, com o intuito da fertilização dos solos que concebe a sua famosa máquina solar a que dá o nome de Pirelióforo. Pyrheliophoro, do grego: pyros, "fogo" + helios, "sol" + pheros, "que traz"

A sua paixão pela ciência levou-o a campos tão diversos como, entre outros, á concepção de novos explosivos para fins pacíficos ao aperfeiçoamento de motores, culminando com o já mencionado Pyrhéliophoro, cuja evolução passou por quatro fazes distintas, ou seja versões cada vez mais melhoradas, entre 1899 e 1904.

De alguma forma, a invenção mais sonante do Padre Himalaya, a máquina para aproveitamento da energia termo solar, foi condicionada pela evolução da indústria que adoptou o paradigma dos motores de combustão alimentados a combustíveis fósseis. No grande duelo tecnológico do início do século XX, quando duas imensas avenidas se abriram para exploração das sociedades industriais:

- a aposta no carvão e no petróleo (mais fáceis de obter e mais baratos) teve repercussões esmagadoras sobre o Ambiente.

O Padre Himalaya, que chegou a propor veículos alimentados a energia eléctrica, permaneceu no pólo dos vencidos da história e talvez essa seja a principal causa para o progressivo esquecimento do seu contribu.

Terá começado os dois primeiros ensaios na Primavera/Verão de 1900.



O 1º forno solar foi construído na Primavera de 1900.

Dado o interesse estratégico potencial do invento, que poderia ser utilizado para produzir material azotado usado como matéria-prima no fabrico de explosivos, foi seleccionado um local relativamente recôndito e ensolarado para a montagem do protótipo, em Neuilly-sur-Seine, onde decorreram as primeiras experiências de focagem dos raios solares Atingiu, inicialmente, 500ºC Com peças mandadas construir em Paris e transportadas ás costas de homens e de mulas para instalar o forno solar. Uma parábola de 7 m de diâmetro completamente recoberta de pequenos espelhos, em vidro, montados sobre uma estrutura de metal que se orientava para o Sol




Os resultados das experiências também padecem de falta de  informação correcta.

O que interessa é que o Padre Himalaia, conseguiu, realmente, com toda a certeza, temperaturas que foi progressivamente aumentando, e muito, no seu forno solar.

Temperaturas extraordinárias, já que foram obtidas unicamente através da Energia Solar, sem o auxílio de qualquer outra energia ou de nenhum mecanismo.

O 2º forno solar feito a partir de peças mandadas construir em Paris foi montado a cerca de 5 Km da Sorède, uma pequena aldeia de montanha aos pés do Maciço de la Albera, no alto dos Pirenéus Orientais, junto à fronteira espanhola, ., no verão de 1900. Este protótipo atingiu, logo de início 1100ºC.

O local seleccionado era uma colina situada junto às ruínas da ermida Château d'Ultrera, a cerca de 5km da aldeia.

Este forno solar foi montado nas proximidades de Sorède, uma aldeia de montanha do Maciço de Argelès, nos Pirenéus Orientais, a partir de peças mandadas construir em Paris. O local selecionado foi uma colina situada junto às ruínas da ermida Château d'Ultrera, a cerca de 5km da aldeia.

O pyrheliophoro foi montado sobre carris circulares sobre uma base de pedra e areia, em cima dos quais faz deslizar uma estrutura de suporte a uma campânula de forma a permitir a sua orientação em direção ao Sol e o seguimento do seu movimento diurno. Dado o interesse estratégico da experiência, os testes foram acompanhados por Étienne Bazeries, oficial que se tinha notabilizado no campo da criptografia.

Este 2º modelo de pirelióforo utilizado em Castel d'Ultrera nos Pirenéus franceses consistia numa lente de Fresnel, com 7m de diâmetro, que formava uma campânula metálica em forma de calote esférica, suspensa na estrutura por dois eixos ortogonais, os quais permitiam a orientação vertical e horizontal da estrutura em função da posição do Sol a cada momento.

Essa campânula, com formato de calote esférica, com centenas de espelhos, estava agarrada á estrutura através de dois eixos, Um permitia ajustar a orientação vertical pretendida o outro permitia o varrimento horizontal da campânula, de modo que os espelhos reflectores estivessem permanentemente apontados para o Sol em deslocamento, fazendo incidir o ponto focal na boca de um pequeno forno refractário

Na estrutura, a lente metálica era uma lente de Fresnel constituída por um conjunto de anéis metálicos concêntricos recobertos lateralmente por pequenos espelhos que desviavam a luz solar, por reflexão, por forma a que esta incidisse na boca de um pequeno forno refratário localizado no ponto focal da estrutura.

Os ensaios realizados permitiram atingir temperaturas superiores a 1500 °C, suficientes para fundir o ferro, num processo que o Padre Himalaia considerava como o primeiro passo na obtenção de fertilizantes nitrosos.

Apesar do protótipo não ter atingido as temperaturas pretendidas, ainda assim os resultados foram animadores (dado que naquele município francês, no Verão, era normal haver 2750 horas de exposição solar) o que permitiu manter o interesse dos investidores.

Para os mais curiosos recomendamos a visualização de um documentário em francês, “Vida e obra do Padre Himalaya”, em cinco partes, muito ilustrativo, onde se explica em detalhe o funcionamento doi protótipo que ele instalou em Sorède. É da autoria de um estudioso local, da Asociación de Amigos del Padre Himalaya, sedeada nesta mesma localidade, cuja actividade está dedicada á divulgação da energia solar.

Apoiado nos primeiros resultados, na Primavera de 1901 o Padre Himalaia partiu para Lisboa, onde ficou instalado no palacete da Condessa de Penha Longa (viúva do banqueiro Sebastião Pinto Leite) junto à Lapa, com quem contratou a formação de uma sociedade destinada a explorar o uso do calor do sol nas artes metalúrgicas e químicas e em todos os ramos da indústria. No contrato, o Padre Himalaia cedia à sociedade a sua invenção e as patentes que já obtivera em França, na Espanha e na Bélgica e comprometia-se a realizar os aperfeiçoamentos necessários. A condessa forneceria o capital para a construção dos dois primeiros aparelhos de demonstração, para o registo de futuras patentes e para a mensalidade a pagar pelo trabalho do Padre Himalaia.

 

1901

Em Março de 1901 dá uma saltada até Londres, para constituir uma sociedade que explora um aparelho óptico para utilizar o calor do sol na metalurgia, na química e outros ramos da indústria.


                             Torre de Londres em 1901


O padre Himalaya cede àquela sociedade a sua invenção e as patentes que já havia registado em França, Espanha e na Bélgica. Compromete-se até a realizar todos os aperfeiçoamentos necessários.

Regressou a França onde executa um protótipo-miniatura experimental.

Em Setembro desse ano 1901 desloca-se a Lisboa onde reformula e simplifica os projectos de construção, para que estes aparelhos fossem construídos em Portugal com custos reduzidos.

Notabilizou-se também na investigação relacionada com a engenharia química estudando a síntese do amoníaco com vista á produção de explosivos e também a sua utilização na agricultura levando-o á obtenção, em 1910, de patente da síntese de Haber-Bosch.















Entretanto, o professor alemão Carl von Linde começara a desenvolver a técnica de liquefação do ar e Himalaia intromete.se também naquela investigação.



Um dos aparelhos de divulgação, foi realmente construído, em Abril de1902, em Lisboa, no Parque de Exposições da Tapada da Ajuda, onde realizou uma demonstração pública, com a presença do rei D. Carlos I de Portugal. Como o Padre Himalaia temia, a experiência foi um rotundo fracasso, com o pyrheliophoro, mal focado, a derreter o seu próprio suporte em vez de incidir sobre o cadinho.

Voltando ao modelo real, este conseguiu atingir 2000ºC de temperatura, fundindo blocos de basalto, um feito notável. Há mais de 120 anos! Ainda por cima com “uma máquina” que não gastava energia alguma!

De alguma forma, a invenção mais sonante do Padre Himalaya, esta “máquina” para aproveitamento da energia termo solar, foi condicionada pela evolução da indústria que adoptou o paradigma dos motores de combustão alimentados a combustíveis fósseis. No grande duelo tecnológico do início do século XX, quando duas imensas avenidas se abriram para exploração das sociedades industriais:

- a aposta no carvão e no petróleo (mais fáceis de obter e mais baratos) teve repercussões esmagadoras sobre o Ambiente.

O Padre Himalaya, que chegou a propor veículos alimentados a energia eléctrica, permaneceu no pólo dos vencidos da história e talvez essa seja a principal causa para o progressivo esquecimento do seu contributo

No que parece não haver dúvidas é sobre a existência de um terceiro modelo do Pirelióforo

 

1904

Em Abril de 1904, partiu para os Estados Unidos com o objectivo de apresentar o seu Pyrheliophero no Pavilhão Português na Exposição Universal de St. Louis



 

 Exposição Universal de 1904 (Louisiana Purchase Exposition) também chamada de Feira Mundial de St Louis foi uma feira mundial que aconteceu em St Louis de 30 de abril a 1 de Dezembro de 1904, em conjunto com a realização dos Jogos da III Olimpíada. Os historiadores geralmente enfatizam o impacto desta feira nos campos da história, história da arte, arquitetura e antropologia. A feira promoveu o entretenimento, bens de consumo e a cultura popular.

 

Este derradeiro modelo do Pirelióforo, nome que de resto, parece só então ter sido adotado, foi premiado na Feira Mundial de St Louis com várias medalhas, obtendo grande sucesso.

 




Relógio solar de Sorede:



Relógio solar vertical construído numa parede da vila de Sorede, em honra do Padre Himalaia,

 inaugurado no dia 7 de Setembro de 2013.

A foto corresponde às 10H 30 do dia 22 de Setembro de 2013, equinócio do Verão,

pelo que a sombra do dispositivo vermelho projecta-se sobre esta linha

Foto: Fundación Tierra



 

O forno solar do padre Himalaya.




O aparelho era imenso: o grande reflector parabolóide, revestido por 6 117 espelhos, tinha 80 m², 13 m de altura, uma distância focal média de 10m  e uma área reflectora cuidadosamente montados sobre uma estrutura metálica. Cada espelho media 123 mm x 98 mm e era construído por vidro plano dorsalmente recoberto por uma película de prata.

“A estrutura óptica estava instalada sobre uma montagem equatorial que lhe permitia rodar sobre um eixo paralelo ao eixo de rotação da Terra. Um mecanismo de relojoaria mantinha o espelho apontado para o Sol, seguindo automaticamente e com grande precisão o seu movimento aparente. A radiação solar refletida era concentrada num círculo com 15 cm de diâmetro centrado no foco do paraboloide, o que corresponde a um factor geométrico de concentração de aproximadamente 4500 vezes.”



 











“Este aparelho compreende essencialmente um sistema óptico que faz convergir os raios solares num ponto único onde está colocado o cadinho; compreende além disso um mecanismo tendo por função orientar o aparelho numa posição conveniente segundo a altura do sol no horizonte e segundo a época do ano, de maneira a manter sempre a convergência dos raios no ponto em que se encontra o cadinho e ainda um sistema de cadinho ou forno preparado para a mudança automática dos materiais a fundir, permitindo fazer a fusão no vácuo ou num meio inerte ou diferente do meio atmosférico.”

 










“O Pirelióforo era inicialmente um gigantesco forno destinado á fusão, capaz de obter altas temperaturas sem dispêndio algum de energia, isto é, usando exclusivamente a energia fornecida pelo Sol. O aparelho, como ficou já descrito, compunha-se de três partes distintas:

A - Uma calote de material cristalino destinado a receber e concentrar os raios solares,

B - O forno propriamente dito

C - Um complicado mecanismo de relojoaria que permitia ajustar todo o aparelho ao movimento aparente do Sol durante todo o dia, bem como a posição do forno em relação aos reflectores.



A armação metálica, com 13 metros de altura, que sustentava o aparelho talvez tenha contribuído para que o invento português tenha sido dos mais apreciados e dos que chamou maior número de visitantes na Exposição Universal.”

O aparelho conseguia gerar temperaturas entre os três mil e os quatro mil graus Centigrados, derretendo todos os materiais colocados sob o foco de luz, sendo premiado com o “Grand Prize da Louisiana Purchase Exposition”. A revista Scientific American publicou até um artigo intitulado “A Solar Reducing Furnace”, o qual veio credibilizar o invento junto da comunidade técnico-científica da época. Aos vencedores premiados foi proporcionada uma viagem de estudo por vários locais dos Estados Unidos. MAG Himalaya aproveita para estabelecer contactos e relações de amizade que lhe foram valiosas em anos futuros






Com o forno solar, o Padre Himalaya pretendia obter azotatos da atmosfera e com eles produzir fertilizantes para a agricultura

Dada a espectacularidade das suas dimensões, mesmo sofrendo a competição dos 500 pavilhões existentes, o aparelho rapidamente se tornou numa das grandes atracções da feira mundial, visitado por centenas de milhar de pessoas.







Para demonstrar a eficácia do aparelho, o Padre Himalaia, que chegara a Saint Louis em princípios de Abril de 1904, a partir de Outubro, altura em que a máquina ficou operacional, realizou múltiplas experiências, tendo conseguido aquecer, unicamente com energia solar, um cadinho até aos 3 800 °C.

Um recorde poucas vezes ultrapassado…

Até àquela data, com os conhecimentos disponíveis sobre aplicações solares, apenas o pirelióforo terá atingido aquela marca.















O resultado foi um inesperado grande prémio, o Grand Prize of the Louisiana Purchase Exposition, acompanhado por duas medalhas de ouro e uma de pratacom um diploma assinado pelo presidente
Theodore Roosevelt.





e

















Com um diploma assinado pelo presidente

Theodore Roosevelt



Seguiu-se a fama mundial através de artigos publicados nos principais jornais e revistas.

O circunspecto The New York Times incluiu na sua edição de 6 de Novembro de 1904 o título Pirelióforo, maravilha da Feira de St. Louis.

A revista Scientific American publicou um artigo do seu correspondente em Saint Louis, intitulado "A Solar Reducing Furnace", que credibilizou o invento e o inventor junto da comunidade técnico-científica.












Aos 36 anos de idade, o Padre Himalaia tornoma celebridade, convidado para palestras e entrevistas e para uma visita de estudo a diversas instituições norte-americanas.














O português apresentou-se no evento quase sem apoios, sem mecenas, sem máquina de propaganda. O artigo da revista Occidente assegurava que “O país ficou conhecido em toda a América e em todo o mundo como um país onde há mais do que vinho do Porto, cortiça e pescadores.”




O invento foi saudado pela comunidade científica e atraiu os elogios de toda a imprensa mundial, com particular ênfase da americana.

Mesmo o circunspecto New York Times lhe dedicou uma primeira página que incluía uma entrevista ao cientista português.

A versão final do Pirelióforo era capaz de produzir uma temperatura de 3800° C. o que permitia efetuar a fusão de quaisquer rochas ou metais, já que nenhuma substância destes tipos necessita de uma temperatura superior para ser fundida.

Entre os convites que aceitou conta-se uma visita ao laboratório de geofísica do Carnegie Institution for Science, em Washington, D.C., sob o auspícios do Dr. Robert Simpson Woodward, o director da instituição. Naquela cidade participou em palestras e visitou as principais instituições científicas e universidades.



Entretanto, após o encerramento da feira, sem fundos para desmontar e armazenar o equipamento, os espelhos e o mecanismo de relojoaria do pirelióforo foram roubados, perdendo-se o protótipo.

pyrheliphoro montado em Saint Louis não tinha o dispositivo para a transformação do azoto em azotados, nem o reservatório e forno destilatório previstos nos planos efectuados em França. Não se sabe se esta falta se devera à incerteza quanto ao resultado da experiência ou fosse o resultado da falta de fundos. Por essa razão, apesar do êxito obtido na feira, nunca chegou a ser demonstrada a capacidade produtiva e o potencial comercial do aparelho do Padre Himalaia.

Terminada a feira, resolveu permanecer nos Estados Unidos na esperança de conseguir interessar investidores na sua máquina. Com o passar do tempo, não conseguindo interessar financiadores para a produção do seu forno solar, recorreu aos seus conhecimentos de naturopatia e dedicou-se ao fabrico de organic salts, pastilhas à base de cinza e sumo de limão, e de elixires para a calvície.

Neste período conhece Adele Marion Fielde, uma antiga missionária baptista que se tornara sufragista e defensora dos direitos cívicos das mulheres. Através dela tenta interessar na sua investigação solar a Carnegie Institution for Science, que em 1904 criara um observatório solar no Mount Wilson, Califórnia, mas apenas conseguiu um pedido para que escrevesse um livro sobre as suas investigações à cerca de energias renováveis. A obra, intitulado The forces of Nature, foi encontrada incompleta no seu espólio.

Depois de propor, sem encontrar financiador, a construção de uma pilha fotovoltaica uma fotopilha, como lhe chamou, um precursor dos actuais equipamentos fotovoltaicos, que transformaria de forma directa a luz solar em electricidade, passou a interessar-se por explosivos, dada a apetência do mercado por aqueles produtos. Recorrendo aos seus conhecimentos sobre os compostos azotados, desenvolveu uma pólvora sem fumo, a que deu o nome de himalaíte (ao tempo grafado himalayite). Era uma pólvora cloretada, muito estável ao choque e ao calor, de fácil obtenção e baixo custo, patenteada em Maio de 1907 e testada em pedreiras e em vários arsenais do exército norte-americano.

Após o sucesso da Exposição de St. Louis, que teve amplo eco na imprensa, Himalaya dedicou-se a outras áreas técnicas e imaginou métodos para fazer chover, inventou um novo explosivo (a himalayite), continuou a cultivar o seu interesse pelas medicinas naturais e a defender ideias precursoras da ecologia moderna.

Quando na hora de regresso quis reaver o seu invento verificou-se que tinha sido roubado, não obstante o peso e as dimensões que apresentava. Desanimado pela funesta ocorrência, ou porque o seu espírito se ocupava agora de novos inventos, nunca mais o Padre Himalaia se ocupou da energia solar nem do Pirelióforo.

 

O inventor rejeitou várias propostas ainda durante a exposição. Logo após a montagem, um “sindicato de capitalistas americanos” queria construir uma vedação, obrigando quem quisesse ver o pirelióforo a pagar bilhete. Ofereceram, para isso, a astronómica soma de 250 contos, que o padre Himalaia recusou, como também não aceitou a naturalização como norte-americano, que lhe sugeriram Os japoneses subiram a parada e propuseram cerca de 350 contos pelo aparelho, igualmente recusados.

É que, embora a participação de Manuel António Gomes só tivesse sido possível à custa de mecenas que ele próprio angariou, já que o Estado português apenas contribuiu com “apoio moral”, os escrúpulos do inventor, “obscuro e desprotegido obreiro da ciência”, como lhe chamou um jornalista, não lhe permitiram desviar de Portugal os louros obtidos pela sua máquina. 

O Padre Himalaia permaneceu nos Estados Unidos durante algum tempo em busca de apoio financeiro para desenvolver a sua bateria capaz de armazenar electricidade gerada por energia solar. Infelizmente, as suas tentativas foram em vão.




Pyrheliophero

 

1906

Em Setembro de 1906 regressou a Portuga, sendo então publicados na imprensa portuguesa alguns artigos sobre os seus trabalhos. A empresa da condessa de Penha Longa, a Pinto Leite & Brothers, interessou-se pela himalaíte, e o rei D. Carlos e o Ministro da Guerra, general Vasconcelos Porto, assistem a ensaios do poder explosivo do produto. Testes realizados na Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas, permitem comparar a himalaíte com a schneiderite, considerando-a interessante para a utilização em minas e granadas.

Nesse ano e no seguinte registou várias patentes de explosivos. Apesar desta nova faceta da sua investigação, mantinha o interesse pelas questões agrárias, postulando que a utilização do seu explosivo poderia ter um papel reactivador do húmus profundo.

 

1908

Em 1908 o Padre Himalaia foi feito sócio da novel Academia das Ciências de Portugal, apresentando uma comunicação à instituição, então sob a presidência de Teófilo Braga, em que defendia um plano de aproveitamento das energias renováveis para Portugal, com a construção de açudes, represas e albufeiras para irrigação e hidroeletricidade, apontava o lugar para a construção de grandes centrais hidroeléctricas, o uso futuro da energia das marés e da energia eólica e o aproveitamento da energia geotérmica dos geysers. Também incluía nas suas preocupações o ordenamento do território e a florestação dos incultos.

A partir desta época inicia uma fase de alguma estabilidade na sua vida quando, com o apoio financeiro da condessa de Penha Longa e de outros investidores, constituiu a Companhia Himalayite, a qual construiu uma fábrica de explosivos na Quinta da Caldeira, na Telha, Barreiro, onde passa a residir no edifício situado em frente ao moinho de maré do Seixal.





Passa então a contar com a presença em sua casa de Rosa Cerqueira, uma rapariga de Cendufe, com as funções de governanta, mas que para evitar suspeições era apresentada como sobrinha do padre.

Algum tempo depois adquiriu o palacete setecentista dos Condes da Lousã, na Damaia, onde passou a residir.

Em 1908, num Congresso realizado em Viseu, MAG Himalaya centrou a sua intervenção na fraca produtividade do país, um tema ainda hoje muitíssimo actual.

Visitou várias localidades numa campanha de promoção dos seus explosivos para uso em pedreiras, demolições e para fins agrícolas e silvícolas, sendo numa das viagens acompanhado por Adelaide Heaton, mãe de um importante homem de negócios norte-americano. Contudo, o funcionamento da Companhia Himalayite não era pacífico, surgindo suspeições que levaram a um arrastado processo judicial. O potencial económico da himalaíte nunca chegou a ser totalmente realizado e a empresa entrou em lento declínio.

Apesar da sua principal ocupação ser a fábrica de explosivos, manteve intensa presença pública, participando em múltiplos debates e propondo ideias que ao tempo eram revolucionárias.

No âmbito da Academia das Ciências de Portugal, apresentou comunicações sobre matérias muito diversificadas, desde a agricultura, a economia e a política energética até a questões de sismologia e construção anti-sísmica (a propósito dos sismos de Messina e Benavente de 1908 e 1909, respectivamente) e à reestruturação do Porto de Lisboa. Em 1913, quando Portugal estava assolado por uma longa estiagem, propôs o uso de canhões para provocar a chuva, num método que consistiria em assentar no chão um polígono com um canhão em cada vértice. Os tiros deveriam ser simultâneos e verticais, determinando o esmagamento dos vapores contidos nesse prisma.

Numa comunicação apresentada à Academia das Ciências de Portugal em 15 de Abril de 1913, volta a propor a utilização da energia das marés como fonte de energia para abastecer Lisboa.

A 5 de Outubro de 1910 é implantada a República. MAG Himalaya parece totalmente à vontade no novo regime. Vai apresentar uma proposta para a nova bandeira, de cores vermelha e verde, onde o emblema assenta sobre um sol radiante com quatro feixes de raios alongados, de forma a se assemelharem à cruz de Cristo, exprimindo simbolicamente a expansão da nacionalidade.

A sua sugestão para a criação da nova moeda portuguesa, dividida em parcelas decimais de um tostão, apresentada em Julho de 1909, é aceite pela República, através da implantação do escudo.

Entre os seus diversificados interesses conta-se a pesquisa de minérios, tendo prospectado para encontrar carvão e manganês na região de Rio Maior, acompanhado pelo geólogo Paul Choffat.

Também se dedicou ao fabrico de fertilizantes, assumindo as funções de director técnico da Empresa de Adubos Nacionais, Lda., uma fábrica de adubos químicos instalada em Rio Maior. Neste último campo também registou a patente, em colaboração com Castro Neves e Albino Aires de Carvalho, do fabrico de "adubos completos dotados de acção catalítica" derivados do aproveitamento de esgotos. Também desenvolve e patenteia um "motor directo" capaz de funcionar com gás pobre, uma forma de biogás.

Durante a Primeira Guerra Mundial fez parte de uma comissão destinada a estudar inventos que pudessem ajudar no esforço de guerra e foi membro da comissão hidrológica criada pela Câmara Municipal de Lisboa para estudar novas origens de água para a capital portuguesa e potenciais fontes de energia hídrica.

 

1913

A máquina que fazia chover


No Verão de 1913 uma seca enorme afligia o país, sendo o Alentejo a região mais afectada.


          Festas da Cidade de Lisboa em 1913


O padre Himalaya apresenta, em Julho desse ano, uma comunicação sobre o processo de fazer chover, baseando-se numa acção conjugada vertical e horizontal sobre um prisma de ar provocado pelo tiro sincronizado de vários canhões. O aparelho que criou para o efeito era um múltiplo canhão, orientável, que assentava num polígono especial e permitia o disparo em simultâneo de explosivos que criavam um embate vertical e horizontal entre as nuvens, provocando a chuva. Foram feitas experiências na zona da Serra da Estrela sobre as quais testemunhos credíveis afirmam terem caído umas gotas de chuva nesses dias quentes de Verão!

Sobre as experiências foi declarado oficiosamente que os resultados, embora concludentes, impunham muitos gastos em explosivos. O método foi por isso abandonado devido ao seu elevado custo.

Destas experiências, sobre o uso de canhões especiais para fazer chuva artificial, nasceu uma história rocambolesca, muito difundida logo após a Grande Guerra de 1914-1918. É mais um enigma sobre a vida e obra de M.A.G. Himalaya. Circularam boatos que diziam que o canhão, falsamente chamado de “Grosse Bertha” ou “Wilhelm Geschutz”, teria sido realizado pelos alemães a partir dos planos roubados ao Padre Himalaya

Diz-se que os alemães terão roubado as suas patentes dos explosivos e do canhão gigante para produzirem armamento utilizado na Primeira Guerra Mundial. O Padre Himalaia também registou patentes para a construção de um motor que utilizava biogás e para a transformação de crustáceos em alimentos para humanos e animais

Mais tarde, viajou para a Argentina, onde estudou a fauna e a flora locais, e possivelmente também visitou a China e o Japão. Ao regressar a Portugal, foi viver com o seu irmão em Viana do Castelo, onde exerceu o sacerdócio num asilo para idosos.

 






1920

A 6 de Junho de 1920 partiu novamente para os Estados Unidos, com o objectivo de estudar irrigação e barragens hidroeléctricas e de promover o uso do seu "motor directo". Apenas regressou em 1922, depois de ter assistido a aulas sobre agricultura e nutrição no Tuskegee Institute e estudado sob a égide de George Washington Carver. Também aproveitou a sua estadia para registar algumas patentes. Em Washington D.C. colaborou com José Francisco da Franca de Horta Teles Machado, o 2.º visconde de Alte, então embaixador português naquela capital, nas negociações para a renovação do armamento do Exército Português.

Após o seu regresso dos Estados Unidos afasta-se da vida pública e dedica-se à naturopatia e à tentativa de organização de uma escola ligada à Ordem Terceira Franciscana. Formou grupos de jovens, seus ajudantes nas tarefas agrícolas e laboratoriais na sua quinta da Damaia. Terá feito uma viagem pelo Extremo Oriente.

 

1925

Em 1925 vendeu a sua propriedade na Damaia e registou a sua última patente, em colaboração com José Epifânio Carvalho de Almeida, visando a transformação de crustáceos em alimentos completos para animais domésticos e humanos.

 

1927

Endividado pela filantropia e pelas viagens, em finais de 1927 partiu para Buenos Aires, a convite da viúva do cônsul da Argentina. O objectivo seria efectuar uma prospecção e demarcação de recursos nas propriedades da família Sagastume, na província de S. Juan, de que a viúva seria a herdeira. Na Argentina dedica-se ao estudo da flora local, mas as suas relações com os Sagastume são conturbadas, com acusações de apropriação indevida de bens entre membros da família. Acabará por ser nomeado director de um orfanato em Jauregui, onde adoeceu.

 

1933

Doente e sem meios financeiros, regressou a Portugal em finais de 1932, fixando-se no Minho, onde conta com o apoio do seu irmão Gaspar, também sacerdote. Acabará por aceitar o lugar de capelão do Asilo de Velhos e Entrevados da Caridade, em Viana do Castelo, cargo que exercia quando faleceu em Viana do Castelo, a 21 de Dezembro de 1933, com 65 anos de idade.

A fama já tinha passado e a sua morte foi apenas vagamente narrada na imprensa da época.

Foi sepultado no cemitério de Cendufe, a sua terra natal.

Ao longo dos anos apresentou numerosas comunicações, publicou numerosos escritos e desenvolveu uma filosofia ecológica, precursora de algum do ideário do actual ambientalismo, que perpassava muitas das suas intervenções na Academia das Ciências. Continuou também a cultivar o seu interesse pelas medicinas naturais, pela fitoterapia.

Também nas questões dietéticas se encontra nas opiniões do Padre Himalaia uma surpreendente actualidade: ao discutir o tema Alguns Problemas de Economia e Saúde Pública, afirmava que os defeitos da nossa alimentação e causa do estiolamento da raça eram os produtos de origem animal, os venenos ingeridos como alimento ou estimulante, das bebidas alcoólicas ao abuso de medicamentos.

Fazia campanha a favor do pão integral e de uma alimentação vegetariana e frugívora, estando ligado à Sociedade Vegetariana do Porto e aos círculos teosóficos daquela cidade.

Pode-se afirmar que estaria um século à frente do seu tempo.

De alguma forma, a invenção mais sonante do Padre Himalaya, a máquina para aproveitamento da energia termo solar, foi condicionada pela evolução da indústria que adoptou o paradigma dos motores de combustão alimentados a combustíveis fósseis. No grande duelo tecnológico do início do século XX, quando duas imensas avenidas se abriram para exploração das sociedades industriais, a aposta no carvão e no petróleo (mais fáceis de obter e mais baratos) teve repercussões esmagadoras sobre o Ambiente. O Padre Himalaya, que chegou a propor veículos alimentados a energia eléctrica, permaneceu no pólo dos vencidos da história e talvez essa seja a principal causa para o progressivo esquecimento do seu contributo.

O pirelióforo não foi a única invenção de Manuel António Gomes, que chegou a registar dezenas de patentes em diversos países. As suas pesquisas começaram com a observação da natureza e a tentativa de produzir um adubo universal com base unicamente nas trocas químicas que naturalmente produzem azoto na atmosfera. Com o apoio de mecenas, conseguiu ir sempre aprofundando os seus conhecimentos em química, mecânica, matemática e física, entre outras áreas, estudando e contactando com cientistas e outros entusiastas dos novos rumos do conhecimento científico, casos do físico Berthelot, ou de Sebastien Kneipp, também ele padre e estudioso. Interessava-o o uso das grandes forças como a luz solar, o vento ou as ondas e o aproveitamento de recursos - esgotos para adubar as terras ou a produção de biogás; a transformação de crustáceos em rações para animais ou humanos - técnicas para fazer chover ou medicina natural, só para dar alguns exemplos. Criou um explosivo, alegadamente muito mais poderoso do que a pólvora, que baptizou de himalaite e começou a comercializar para uso pacifista, em pedreiras, mas também na agricultura. Diga-se, no entanto, que se pensa que durante a I Grande Guerra, a himalaite terá sido produzida pelos alemães, com base em apontamentos roubados a Manuel António Gomes, e foi inclusivamente usada para bombardear Paris.

Ao longo da sua vida, frequentou cursos de matemática na Universidade de Coimbra e medicina em Paris. Durante as suas viagens, adquiriu conhecimentos sobre a importância da hidroterapia, naturopatia e tratamento de doenças com águas termais e plantas medicinais. Também defendia a prática de exercícios físicos e uma alimentação equilibrada, tendo adoptado o vegetarianismo. Além disso, escreveu artigos sobre os riscos do abuso de álcool e medicamentos.

Em Londres, o Padre Himalaia vendeu as suas patentes relacionadas com o uso da energia solar para a fusão de metais.

As suas descobertas foram aplicadas em várias indústrias inglesas. Ao regressar a Portugal, participou na fundação do Jardim Botânico de Coimbra e escreveu crónicas para um jornal, defendendo a doutrina social da Igreja, que preconizava a ajuda aos mais pobres e desfavorecidos.

Em Portugal, fundou uma empresa dedicada à produção de explosivos, que ele mesmo inventou, com usos agrícolas e em pedreiras. Também trabalhou na pesquisa de minérios no subsolo.

 





1933

Morre em Viana do Castelo a 21 de Dezembro de 1933, aos 65 anos, vítima de mielite

Na opinião do académico e investigador Jacinto Rodrigues, biógrafo do Padre Himalaya, “O enigma de M.A.G. Himalaya foi o facto de se ter preocupado com a energia solar e ser simultaneamente inventor de explosivos e ter vivido, muitas vezes, quase à margem da Igreja, sem nunca ter abandonado as suas convicções espirituais… O Padre Himalaya é um personagem que incomoda e fascina. É um enigma e um mito”, deixando para trás uma vida marcada pela pobreza e pelo esquecimento.

A sua visão e convicções estavam muito à frente do seu tempo, defendendo causas que só se tornariam populares 100 anos depois, como as energias renováveis, a preservação do meio ambiente e a consciencialização sobre o uso excessivo de medicamentos

 



Está sepultado na sua terra, Cendufe



























Mais de cem anos depois do grande êxito da carreira inventiva do Padre Himalaya, ainda há zonas sombrias na biografia deste homem?

Jacinto Rodrigues continua a maravilhar-se com as conferências proferidas pelo seu biografado sobre agricultura, represamento de rios, construções de betão armado e até uma participação ainda mal esclarecida no esforço de guerra português, durante a Primeira Grande Guerra, desenvolvendo técnicas de detecção de submarinos. Há igualmente ecos de um livro de memórias escrito mas perdido por Himalaya no final da vida.

 

O Padre Himalaya morreu em 1933. Nessa época, o sucesso que em tempos tinha conhecido encontrava-se esquecido, por isso os ecos dos seus sucessos e das suas invenções já se esfumavam nas brumas da história.

Durante quase quatro décadas, os seus feitos mantiveram-se esquecidos.

Contudo, em 1968, aconteceu uma pequena excepção.

Neste ano, celebrou-se o centenário do nascimento do Padre Himalaya e foi feita a publicação de uma pequena obra de exaltação ao padre inventor.

 

O investigador Jacinto Rodrigues

Este homem teve um papel importante na forma como deu ao Padre Himalaya o devido reconhecimento. Após fugir da ditadura portuguesa, Jacinto Rodrigues exilou-se em França na década de 1960.

Este investigador leccionara disciplinas de Sociologia Urbana e Organização do Território nesse país. Era um homem apaixonado por questões relacionadas com a energia e a ecologia.

Após a revolução de 1974, Jacinto Rodrigues regressou a Portugal. Quis o destino que Jacinto Rodrigues encontrasse num alfarrabista uma revista de 1905. O feliz acaso permitiu ao investigador encontrar um artigo que abordava o português pioneiro que deixara os norte-americanos em Saint Louis verdadeiramente espantados.

A investigação

Jacinto Rodrigues (actualmente catedrático aposentado da Universidade do Porto) fez primeiro uma sondagem do terreno, fruto de ser um arqueólogo do conhecimento.

Ficou surpreendido ao constatar que pouco ou nada se sabia do Padre Himalaya.

Jacinto Rodrigues reconhece que o Padre “não era totalmente desconhecido na academia”. O investigador frisou que “existiam alguns trabalhos fragmentados sobre as suas experiências, mas a sua biografia era quase desconhecida.”

Olá, coração, adeus religião

Segundo o investigador, o Padre Himalaya teve um problema grave na sua carreira eclesiástica, mais precisamente entre 1891 e 1892. Jacinto Rodrigues revelou o seguinte:

“Aparentemente, a paixoneta de uma senhora casada conduziu-o a uma reflexão sobre o seu vínculo à igreja. Era um homem muito sério, com uma postura muito interessante. Pediu para ser reduzido ao estado laical (pedido esse que seria recusado), mas essa documentação tem também o mérito de nos mostrar a sua obsessão com a ciência. Ele argumenta que, embora se mantivesse cristão, queria prosseguir as suas experiências científicas, intensificar contactos e aprofundar o conhecimento.”






NOTA:

Esta história está escrita com algum texto, não muito, de minha autoria. A maioria do texto, porém, é transcrição pura, ou retocada por mim, de vários autores que cito a seguir.

Por desleixo meu não consigo identificar, agora, o quê é de quem…

Está tudo nos links que indico a seguir.

As minhas desculpas aos autores.

Este texto é vosso. Obrigado.


SITES da NET

https://www.nationalgeographic.pt/historia/padre-himalaya-o-inventor-arcos-valdevez_2566

https://osaldahistoria.blogs.sapo.pt/quem-roubou-o-pirelioforo-41964

https://www.vortexmag.net/padre-himalaia-o-portugues-que-criou-a-energia-solar-e-uma-maquina-que-fazia-chover-2/

https://oponney.pt/nacional/pirelioforo/

https://www.visitarcos.pt/o-melhor/oficinas-de-criatividade-himalaya/padre-himalaya

https://www.terra.org/categorias/articulos/el-pirelioforo-del-padre-himalaya-y-receta-solar

https://pt.wikipedia.org/wiki/Padre_Himalaia

https://ncultura.pt/padre-himalaya-o-portugues-que-criou-a-maquina-que-fazia-chover/

https://revistacomunidades.pt/padre-himalaya-na-national-geographic/

https://diario560.pt/padre-himalaya-cidadao-e-inventor/

http://arquitectura.ufp.pt/a-vida-e-obra-do-padre-himalaya/

 

VIDEOS na NET

https://www.youtube.com/watch?v=bOzCLz2iWIs

https://ensina.rtp.pt/artigo/o-padre-himalaia-sacerdote-e-inventor/

https://www.bing.com/videos/riverview/relatedvideo?&q=Padre+Himalaya&qpvt=Padre+Himalaya&mid=98BFA174E77603C18A1098BFA174E77603C18A10&&FORM=VRDGAR

https://www.youtube.com/watch?v=ZIdi4I5y6J0

https://www.youtube.com/watch?v=RZTFtHp4BP0

https://www.facebook.com/ArcosdeValdevez/videos/vers%C3%A3o-colorida-homenagem-ao-padre-himalaia-a-4-de-dezembro-de-1969/526123264945330/

https://www.facebook.com/CmavArcosDeValdevez/videos/oficinas-da-criatividade-do-padre-himalaya-no-portugal-em-direto-da-rtp-parte-ii/875224349728041/

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/homenagem-ao-padre-himalaia/

https://iphimalaya.pt/wp-content/uploads/2023/12/Untitled_Project_V1.mp4



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