LINHA AÉREA e outros voos - Travessia 5 - Breves biografias de Sacadura Cabral e Gago Coutinho

 













Breves biografias de

Sacadura Cabral e

Gago Coutinho























Artur de Sacadura Freire Cabral




Filho de Artur Sacadura Cabral e de Maria Augusta da Silva Esteves, nasceu no concelho de Celorico da Beira, freguesia de São Pedro, no dia 23 de Maio de 1881.

Paulo Portas   afirma que Arthur de Sacadura Freire Cabral era descendente direto do navegador que "descobriu" o Brasil, Pedro Álvares Cabral (Aspetos da Vida de Sacadura Cabral)

Muito novo ainda, por morte do seu pai, a mãe ficou com o encargo de o sustentar e educar, não só a ele mas também aos seus nove irmãos, todos menores.

Após os estudos primários e secundários assentou praça em 10 de Novembro de 1897, aos 16 anos, como aspirante de marinha e frequentou a Sala do Risco, antecessora da atual Escola Naval, onde foi o primeiro classificado do seu curso.

Concluído o curso em 1º lugar, embarcou no S. Gabriel (1901) para integrar a Divisão Naval de Moçambique.

No dia 27 de Abril de 1903 foi promovido a segundo-tenente e passou a comandar as lanchas-canhoeiras Sabre e Lacerda e o vapor General Silvério

Nesse país, (na altura uma Colónia portuguesa) coproduziu um rigoroso levantamento hidrográfico da bacia do rio Espírito Santo e afluentes para o melhoramento do porto de Lourenço Marques (Maputo)e na retificação da fronteira entre o Transval e Moçambique, em 1906 e em missões geográficas e geodésicas com Gago Coutinho, que foi seu chefe.




Já em Angola, assumiu o cargo de subdiretor dos serviços de Agrimensura (nomeação de 1911) e participou com Gago Coutinho na missão do Barotze, de delimitação das fronteiras leste do país.

Em Novembro de 1915 Sacadura Cabral foi para a França e deu entrada na Escola Militar de Chartres, para instrução de pilotagem.







Terminada a sua aprendizagem em França, regressou a Portugal em Agosto de 1916. Nesta altura estava a ser organizada a Escola de Aviação Militar em Vila Nova da Rainha e Sacadura Cabral foi aí incorporado como piloto instrutor no primeiro curso de pilotagem em Portugal (1916)

Sacadura Cabral foi consecutivamente promovido aos postos de segundo-tenente (1903), de primeiro-tenente (1911), de capitão-tenente (1918) e de capitão-de-fragata (1922).

Unanimemente considerado um aviador distintíssimo pelas suas qualidades de coragem e inteligência, notabilizou-se a nível mundial, ultrapassando as insuficiências técnicas e materiais que na época se faziam sentir. Quando conheceu Gago Coutinho em África, numa missão geodésica  em Moçambique, incentivou-o a dedicar-se ao problema da navegação aérea, o que levou ao desenvolvimento do sextante de bolha artificial. Juntos inventaram também um "corretor de rumos", para compensar o desvio causado, em voo, pelo vento.



Entretanto, tendo o governo resolvido enviar para Moçambique, em 1916, uma esquadrilha de aviação para cooperar com o exército, na região do Lago Niassa na defesa deste território em relação aos ataques alemães, Sacadura Cabral foi encarregado de adquirir em França o material necessário.















Aeroporto da Beira, Moçambique.

Homenagem a Sacadura Cabral



Esta foi a primeira unidade de aviação constituída em Portugal.


51 anos depois, coube-me a mim voar, em soberania, na Foça Aérea, nessa mesma área do Lago Niassa...










Em seguida Sacadura Cabral foi encarregado de organizar a aviação marítima em Portugal, tendo sido nomeado, em 1918, Director dos Serviços da Aeronáutica Naval e, a seguir, comandante da Esquadrilha Aérea da Base Naval de Lisboa.


Três dias depois de o "Lusitânia" ter amarado com enorme sucesso junto aos Penedos, feito celebrado em todo o Mundo, foi agraciado, juntamente com Gago Coutinho, com a Grã-Cruz da Antiga e Muito Nobre Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, a 21 de Abril de 1922.

Ainda em 1922, por proposta da Faculdade Técnica da Universidade do Porto (atual Faculdade de Engenharia) foi-lhe atribuído o título de Doutor Honoris Causa.

Em 1923 projetou uma viagem aérea de circunavegação e, em 1924, foi incumbido de fazer uma proposta para o estabelecimento de carreiras áreas comerciais.

A viagem de circunavegação queria fazê-la no sentido oposto á de Fernão de Magalhães, aproveitando a circulação geral dos ventos no Hemisfério Norte, de Oeste para Este. Nunca ninguém tinha atravessado em voo o Oceano Pacífico.

Para tal foram comprados na Holanda 5 hidroaviões Fokker T III comprados por Portugal, através de subscrições públicas em Portugal e no Brasil, para a realização dessa volta ao mundo a fazer pelos dois heróis da travessia do Atlântico em 1922.


      Fokker TIII - (Digital Hangar3D_Paulo Alegria)


O primeiro destes Fokker a fazer a viagem para integrar a Aviação Naval em Lisboa, foi pilotado por Sacadura Cabral.

Sacadura Cabral, na altura com 43 anos deslocou-se novamente a Amesterdão com cinco colegas da Marinha a fim de levantarem outros três Fokker.


Fokker TIII W - Ilustração de Miguel Amaral  -      
















Como todos os outros companheiros, o capitão de fragata Sacadura Freire Cabral, acompanhado pelo cabo artilheiro mecânico José Pinto Corrêa (nesta imagem de 1922 em Fernando de Noronha, na montagem do 3º Fairey, o F17 "Santa Cruz") descolou de Amesterdão num sábado, 15 de Novembro de 1924, num dia de intenso nevoeiro. Sacadura pilotava o Fokker 4146.



Logo após a descolagem, embrenhados num intenso nevoeiro, perderam-se uns dos outros.






O Fokker 4194 amarou em Brest e o 4197 em Cherburgo.

O hidroavião de Sacadura Cabral, o Fokker 4146 nunca chegou a lado nenhum.


Desapareceu algures no Mar do Norte,


Quatro dias depois foram encontrados no mar destroços de um flutuador.

Portugal, 30 dias depois, perdidas as esperanças de se encontrarem os corpos dos dois tripulantes do avião, considerou o dia 15 de Dezembro de 1924 dia de luto nacional, em memória dos dois militares desaparecidos.













Acerca da sua morte, um poeta escreveu:


"Encontrou a sepultura em pleno mar

Que a terra, donde andava foragido,

Era pequena demais para o sepultar".




A 1 de maio de 1922 foi-lhe outorgada a

Grã-Cruz da Antiga e Muito Nobre Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.


Sacadura Cabral é tio da economista

Helena Sacadura Cabral

e tio-avô dos políticos

Miguel (já falecido) e Paulo Portas.


"O meu tio-avô era um típico herói do amanhecer do século XX: altivo na confiança que tinha nele próprio, arrojado quanto aos feitos por fazer e arejado pelo mundo que conhecia. A ideia familiar que tenho dele e que não só não tinha medo como não tinha medo de ter medo, o que é uma qualidade pouco frequente. Era também de um patriotismo irrepreensível mas vivido a meias com a consciência da nossa exiguidade continental. Parece-me que morreu a fazer aquilo que adorava: voar e de preferência voar até mais além."

Paulo Portas

(Da Wikipédia e U. do Porto - Universidade Digital / Gestão de Informação, 2013)

























Carlos Viegas Gago Coutinho




Carlos Viegas Gago Coutinho nasceu em São Brás de Alportel, no distrito de Faro, no dia 17 de Fevereiro de  1869, mas foi registado em Belém, Lisboa 

Filho de José Viegas Gago Coutinho e de sua mulher e prima em segundo grau, Fortunata Maria Coutinho-

O avô paterno, Manuel Viegas Gago Coutinho também era natural de São Brás de Alportel. Foi livreiro em Faro e Cabo de Esquadra do Regimento de Artilharia de Faro.






















O pai, segundo Gago Coutinho, José Viegas Gago Coutinhoera um homem de reduzida educação literária. Só tinha a primária, mas conhecia escrita comercial, em que praticava (…) era homem alto, desempenado”, também oriundo de São Brás de Alportel.


Gago Coutinho, aluno da Escola Naval, com o pai em 1886.



O pai chegou a ser escrevente da Nau Vasco da Gama.

A sua mãe, Fortunata Maria Mendes Coutinho, era uma senhora pequena, morena, algarvia, filha de padeiros, e que devia ter ascendência moura". Morreu quando o jovem Gago Coutinho tinha 8 anos e pelas vicissitudes dos afazeres do pai, foi daí em diante criado por uma amiga da família, Maria Augusta Pereira.


A uma das principais e centrais ruas de S. Brás de Alportel foi dado o nome de "Almirante Gago Coutinho".

De família humilde, não pode frequentar, como desejava, o curso de Engenharia na Alemanha. Em 1885, depois de ter acabado o Liceu, ingressa na Escola Politécnica e no ano seguinte opta por entrar na Escola Naval, com 17 anos.

Terminado o curso em 1888, obtendo a melhor classificação do curso, entre 35 camaradas, inicia a sua carreira de oficial da Marinha, embarcando para Moçambique, promovido a Guarda Marinha.

Serviu em vários navios e participou nas operações militares de Tungue (Moçambique) em 1890 e em Timor em 1912.

Em 27 de Abril de 1903 é promovido a segundo-tenente.

Distinguiu-se como cartógrafo e geodeta, a partir de 1898, aquando de sua primeira comissão em Timor. Até 1920 levantou e cartografou não apenas aquele território, mas também o de Niassa (1900), Congo (1901), Zambézia (1904-1905),

Em 1905, com Bon de Sousa, fez o levantamento rigoroso da bacia do rio Espírito Santo e seus afluentes, para a modernização e rectificação do canal de acesso ao porto de Lourenço Marques (Maputo)

Esteve em Barotze (1912-1914), São Tomé e Príncipe (1916), estabelecendo vértices geodésicos e determinando coordenadas em missões científicas onde conseguia precisões notáveis, devido ao seu rigor e dedicação à missão que lhe fora confiada. Foi o responsável pela demarcação definitiva da fronteira norte entre Angola e Zaire.

Em 1906, fez a rectificação da fronteira entre o Transval e Lourenço Marques

Como aluno topógrafo que fui, em 1961, em Moçambique, junto a essa fronteira, limítrofe ao Kruger Park, na zona moçambicana da Moamba, 80km a noroeste de Maputo, conheci vários desses vértices geodésicos deixados por aquele distinto Geógrafo. (Ver a história sobre este assunto aqui )


















Toda a sua vida fez exercício fisico, em ginásio ou mesmo em casa


No decurso daqueles trabalhos, Gago Coutinho fez, a pé, a travessia da África, por duas vezes, entre Angola e Moçambique. Calcorreou mais de 5200km, chegando a fazer, durante dois meses, "42 km diários, sempre a pé!"

E era ele que transportava sempre as suas ferramentas de maior importância como a bússola, o teodolito e o sextante.




Sacadura Cabral aparece na sua vida em 1907 e a partir daí uma sólida amizade passou a uni-los.

Este incentivou-o a dedicar-se ao problema da navegação aérea, o que levou ao desenvolvimento do sextante de horizonte artificial.

Depois de inúmeros estudos e testes e da colaboração científica entre os dois geógrafos, aparecem os instrumentos que revolucionaram a aviação Mundial, o sextante de bolha de ar e o corrector de rumos.

Os dois aparelhos e os cálculos matemáticos que os acompanhavam foram dados a conhecer ao Mundo em Novembro de 1921, no I Congresso de Navegação Aérea de Paris.

O feito extraordinário da travessia do Atlântico Sul, ao encontro de umas rochas com 200m de comprido e 15 de altura, onde um pequeno barco de guerra os esperava, 908 milhas náuticas após uma descolagem feita 11h 21 minutos antes, levou ao reconhecimento de todo o Mundo como um feito único do rigor científico e no acreditar daqueles dois homens que tinham uma fé inabalável nas suas capacidades técnicas, dando origem á Aviação Comercial, como a conhecemos hoje.

Gago Coutinho recebeu largo reconhecimento devido a este feito, tendo sido promovido a contra-almirante e condecorado com as mais altas e prestigiosas distinções do Estado Português, 

Foi agraciado com a Grã-Cruz da Antiga e Muito Nobre Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito a 21 de Abril de 1922

A Grã-Cruz da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico a 1 de Maio do mesmo ano 

Elevado a Grã-Cruz da Ordem Militar de São Bento de Avis a 18 de Outubro de 1926

Além de ter recebido várias outras condecorações estrangeiras.

No dia 17 de Agosto de 1932 foi promovido ao posto de Vice-Almirante.

Retirou-se da vida militar em 1939.

Pouco depois (já tinha 70 anos de idade) foi convidado para um voo comemorativo entre o Rio de Janeiro e Porto Seguro, a “primeira terra a ser descoberta pelos portugueses”.

Deu-se então conta que o Brasil, menos de 20 anos após a sua Travessia, tinha já 500 aeroportos e que a “carta que enviava para Inglaterra a partir do Palace Hotel do Rio de Janeiro viajava por correio aéreo, na companhia de mais 50 passageiros, num avião super-rápido de passageiros” da companhia brasileira PanAir do Brasil – um Lockheed Constellation.

Foi a última das cartas que escreveu ao Capitão Tamlyn, enviada por ocasião do 24º aniversário do salvamento.

Correspondeu-se com grandes nomes da história da aviação da época como Alberto Santos Dumont, apoiou Sarmento de Beires e João Ribeiro de Barros.

Pertenceu ao Grande Oriente Lusitano da Maçonaria Portuguesa e foi sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa, onde foi responsável por uma das secções.

A 28 de Janeiro de 1943 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem do Império Colonial.

E a 28 de Junho de 1947 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo














Em 1955 a TAP convidou-o para um voo experimental ao Rio de Janeiro num DC-4, antecipando a futura linha regular que se estabeleceria em 1961.



     Durante esse voo


Em 1958 por resolução da Assembleia Nacional Gago Coutinho foi promovido ao posto de Almirante.





















Gago Coutinho morreu em 1959 no seu apartamento na rua da Esperança, em Lisboa no dia seguinte a completar 90 anos, 18 de Fevereiro de 1959.



Está sepultado no Cemitério da Ajuda em Lisboa.

 

Homem humilde que nunca esqueceu as suas origens doou tudo o que tinha a todos os mais próximos, amigos, criada, governanta, vizinhos, jardineiro, pobres da Madragoa, bibliotecas, academias, etc., etc.






No testamento registou um pedido, que demonstra quanto África deixa a quem a conhece bem, uma indelével marca de enorme apego ao chão daquele continente mágico onde eu nasci:









"O caixão de pinho será pobre (…)

 Vestir-me-ão os calções e casaco de caqui,

como atravessei África.


Tudo pobre, como nasci.


Aliás nunca fui almirante a valer,

mas autêntico geógrafo de campo".


Em 1958     



Infelizmente nem um nem outro sabiam jogar á bola.

Senão talvez merecessem estar, os dois, no Panteão Nacional...


(Com textos da Wikipédia)





As Ordens Militares atribuídas a Sacadura Cabral e a Gago Coutinho




Cerimónia de imposição das insígnias da Torre e Espada a Gago Coutinho e Sacadura Cabral, no Ministério da Marinha, depois do regresso a Lisboa





Da esquerda para a direita:

- Grã-Cruz da Antiga e Muito Nobre Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito

- Grã-Cruz da Antiga, Nobilíssima e Esclarecida Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, do Mérito Científico, Literário e Artístico

- Grã-Cruz da Ordem do Império Colonial.






- Grã-Cruz da Ordem Militar de São Bento de Avis

- Grã-Cruz da Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Cristo


Lembro que Sacadura Cabral morreu em 1924 e Gago Coutinho em 1959, 35 anos depois.








Índice da Travessia

 

          1 - Preâmbulo a toda a história

                       1a - Os Antecedentes, os Homens envolvidos e os Aviões utilizados. 

             1b - O voo do capitão-tenente Read

             1c - A Travessia feita pelo capitão Alcock e pelo tenente Brown

2 - Aviões empregues nestas travessias

              2a - A escolha do avião para a Travessia Lisboa . Rio de Janeiro

3 - Primeiro raid aéreo Lisboa - Funchal 

4 - O sextante modificado de Gago Coutinho 


          5 - Breves biografias de Sacadura Cabral e Gago Coutinho (Capítulo actual)

               5a - Artur de Sacadura Freire Cabral 

               5b - Carlos Viegas Gago Coutinho 

               5c - As Ordens Militares atribuídas

          

          6 - Preparativos para a viagem 

          7 - O voo de Sacadura Cabral e Gago Coutinho entre Lisboa e o Rio de Janeiro

          8 - As homenagens no Brasil e o regresso a Portugal










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