PEDAÇOS DE VIDA –Cor Mira God I - O que foi o 25 de Abril de 1974

 


O que foi o 25 de Abril de 1974

e o 11 de Março de 1975

 


Contado, muito resumidamente, em vários episódios, com foco principal na rocambolesca história de um

Capitão de Abril bastante maltratado pela História.


Acontece que somos amigos desde a Guerra do Ultramar, onde o conheci em 1967.
















Esta é uma perspectiva histórica, vista por um dos Capitães de Abril com acção preponderante, também, um ano depois, no desenlace dos acontecimentos do dia 

11 de Março de 1975.



Contam-se também aqui os preparativos para esse dia e tudo o que este Capitão de Abril protagonizou, antes, durante e depois, desde permitir o salvamento do General Spínola, numa rocambolesca fuga de helicóptero para Espanha.

A interminável viagem na Ibéria entre Espanha, o Brasil, a Argentina e volta ao Brasil.

O regresso a Espanha.

A clandestina entrada em Portugal.

A prisão durante vários meses, pelo Copcon de Otelo Saraiva de Carvalho, em Caxias e na Trafaria.

E também a expulsão das Forças Armadas e as suas consequências.


E a necessidade que teve de vender frangos, porta-a-porta, na região de Lisboa,

depois de tudo isto, para sobreviver e poder alimentar e educar os filhos.



Foto de 1975




É a história dos últimos 50 anos do meu Amigo Tó Mira Godinho. 

Mais propriamente do Coronel Piloto Aviador António Mira Godinho.

Na Reforma 



Contada mais ou menos a meias… 


Foi amnistiado, como todos os intervenientes no 11 de Março.

Mas recusou e quis antes ser julgado, para que todos se confrontassem com a Verdade.

Não foi possível.

Inconformado, decidiu passar à Reforma...



O Tó, hoje, cria cabras. Numa pequena quintinha que tem.

“As minhas cabrinhas”, como ele diz.



O 25 de Abril foi despoletado pelo Movimento dos Capitães.




Cansados da guerra andávamos todos nós, os portugueses.

Imaginem o que seria estarmos, daqui a 12 anos, a falar dos últimos desenvolvimentos da guerra na Ucrânia, em 2035…

Tornei-me amigo de um dos mais activos intervenientes no Movimento em 1967, era eu um orgulhoso Falcão (sou e serei sempre, até à ressurreição do último dos dinossauros que por aqui andaram, junto à casa onde vivo - Falcões são os pilotos de uma das duas Esquadras que hoje voam os F16 na Base Aérea de Monte Real. Na altura, eu voava o F86 e dei até instrução de vôo, para comandante de Parelha, a um dos Conselheiros da Revolução do 25 de Abril).


Nos finais de 1966, inesperadamente, as contingências da guerra do Ultramar levaram-me a oferecer-me como piloto, voluntário, para a guerra, em Moçambique. A terra que considero minha, onde vivi, em Quelimane, aos pés do histórico Rio dos Bons Sinais, que dá o nome a este blog. É histórico porque foi Vasco da Gama que lhe deu o nome em Fevereiro de 1498. E até hoje nunca houve ninguém que tivesse a estupidez de lhe mudar o nome.

Pois foi nessa altura, em 1967 (e não em 1498…) que conheci o Tó Mira Godinho. Era só o Tó, amigo do Caracol.

Tinha eu deixado a Base Aérea Nº5, em Monte Real, Leiria, rumo ao AM52, em Nampula, no Norte de

 Moçambique.


     Nampula, nos anos 60



O Tó era nessa altura tenente. O Caracol era sargento, Como eu. Todos pilotos na guerra, no Norte de Moçambique.

O Tó e o Caracol eram grandes amigos, de sempre, da Ericeira.

E por isso resolveram viver juntos, com as famílias, numa mesma casa em Nampula.

Os homens que mandavam na guerra, aquartelados na famosa ZAC, em Nampula, não gostaram.

Um oficial piloto a viver em concubinato com um sargento? Pode lá ser??!!

Mas podia… os senhores da ZAC não tiveram outro remédio.

Começava ali o 25 de Abril…


     Outra imagem de Nampula


A tal ZAC, que refiro, eram os confortáveis escritórios onde aqueles oficiais superiores congeminavam as acções de guerra que nós tínhamos de executar. A ZAC era a zona do ar-condicionado da ZiN, a Zona de Intervenção Norte…

Havia vários pilotos que viviam na guerra com as mulheres e os filhos, tal como Tó, o Caracol, o tenente Malaquias e eu, entre tantos outros.

Eu, por exemplo, vivi, durante quase um ano, com a minha mulher e uma filha de meses, numa vivenda muito isolada, em Vila Cabral (hoje chamada Lichinga) junto à “Base Aérea”, mas bastante afastada da segurança da Base. Era a casa oficial do Director do Aeroporto.



     Imagem actual do Aeroporto de Lichinga (Vila Cabral, na altura. Imaginem como seria em 1968...


O Director era um amigo meu desde os 12 anos, em Quelimane. Às tantas, comecei a desconfiar que ele fosse simpatizante da Frelimo, coisa que se veio a confirmar, após a Independência, por ter ficado como Diretor-geral da Aviação Civil de Moçambique.

Quando eu saía de casa para alguma missão, que podia durar alguns dias, ficava sempre na incerteza de, ao voltar, poder, ou não, encontrar a família, não fosse ela raptada, com a maior das facilidades, já que a vivenda era muito isolada, sem iluminação na rua. E a guerra começava a 10 minutos de vôo dali…(este receio não tem nada a ver com o Director do Aeroporto!)

Tinha um criado preto, um jovem, com quem nos dávamos muito bem. A melhor prenda que lhe dei, a que ele mais apreciou, foi, quando nos fomos embora, ter lhe dado uma foto dele com a minha filha ao colo. Sorriso de orelha a orelha…

Depois da guerra, 1969, juntei-me ao Caracol como pilotos da TAP e lá fui convivendo, volta e meia, com a malta da Ericeira.

Um dia de Verão dos finais dos anos 70, andava eu pelo areal de uma das praias da Caparica, quando vejo um helicóptero andar às voltinhas, muito baixo, junto às dunas.

Percebi que o aviador, militar, estava a arriscar uma queixa do povo a banhos, talvez incomodado no seu remanso com aquele piloto que muito provavelmente teria salvo a vida a algum seu familiar, numa evacuação na guerra, no Ultramar...

O pior é que o aviador ensandeceu de vez! A pavonear-se pelo areal fora (não estava muita gente) pôs-se a voar a 1 m de altura da fina areia da Caparica, voando exactamente na minha direcção…

Não queria acreditar, mas o helicóptero tomara-me como alvo e preparava-se para me abater às murraças. Só podia!














Parei de andar e ele também parou de voar, as rodas assentes no chão, mas a 10 cm da minha cara, afinal pouco agressivo e eu a ver, aos comandos do heli, o Tó a rir-se e a olhar para mim, ele ali, sentado, a um metro de mim, no meio do areal!

Ali estivemos os 2 à conversa uns bons e divertidos momentos…

Está apresentado o senhor Coronel Piloto Aviador António Mira Godinho.

O homem que no dia 11 de Março de 1975 levou o General Spínola, em fuga, para Espanha. Após o desfecho dos acontecimentos daquele histórico e conturbado dia.

É de sua autoria o texto "O Movimento dos Capitães" onde ele teve lugar preponderante, que poderão ler no link que publico no Índice desta história, no final desta página.

O texto foi escrito a pedido da Escola Secundária Poeta Al Berto na cidade de Sines, após a entrevista que deu a uma aluna num trabalho escolar e que a professora muito apreciou. Este mesmo documento foi lido por ele naquela escola numa sessão solene no dia 26 de Abril de 2023, aos alunos do 12º Ano.




Alberto Raposo Pidwell Tavares - Poeta Al Berto     







É uma Escola que por acaso naquele dia não esteve em greve, coisa que

o 25 de Abril permitiu hoje ser possível, felizmente.




Logo a seguir ao texto que ele apresentou na Escola Secundária de Sines, que aqui publico depois destas linhas, podereis aceder, noutros links, ao que aconteceu a este Capitão de Abril, antes, durante e após o dia 11 de Março de 1975.

É uma grande parte desconhecida dos turbulentos tempos que vivemos para instalar a Democracia plena que devemos ao Movimento dos Capitães, construída palmo a palmo.

Como qualquer obra que se ergue do nada, ou, como neste caso, que se reconstrói sobre muita coisa que houve que demolir antes para que o edifício ficasse habitável.

Com todos os defeitos das obras feitas com muito entusiasmo, mas ás vezes acabadas por maus executantes, como é o caso em que vivemos neste início do Sec XXI…Da Esquerda á Direita, diga-se.

Mas vamos ao 25 de Abril de 1974 e ao 11 de Março de 1975.

50 anos quase passados…

Grande parte dos que hoje me leem tinha acabado de nascer…

Nessa altura estava eu a fazer, na TAP, o Curso teórico do Avião Boeing B747, a caminho de ir completá-lo em Seattle, a cidade no Pacífico, nos Simuladores de voo, na fábrica.

Estudava eu os Manuais da Boeing, em casa e ouvi, atónito, no Radio Clube Português, isto, dito pelo jornalista Joaquim Furtado, que se encontrava de serviço nessa noite e viu os estúdios invadidos por oito militares:








“Aqui Posto de Comando do Movimento das Forças Armadas. As Forças Armadas Portuguesas apelam para todos os habitantes da cidade de Lisboa no sentido de recolherem a suas casas nas quais se devem conservar com a máxima calma.

Esperamos sinceramente que a gravidade da hora que vivemos não seja tristemente assinalada por qualquer acidente pessoal para o que apelamos para o bom senso dos comandos das forças militarizadas no sentido de serem evitados quaisquer confrontos com as Forças Armadas. Tal confronto, além de desnecessário, só poderá conduzir a sérios prejuízos individuais que enlutariam e criariam divisões entre os portugueses, o que há que evitar a todo o custo.

Não obstante a expressa preocupação de não fazer correr a mínima gota de sangue de qualquer português, apelamos para o espírito cívico e profissional da classe médica esperando a sua ocorrência aos hospitais, a fim de prestar a sua eventual colaboração que se deseja, sinceramente, desnecessária.”



Começou assim o 25 de Abril.







mm



Mas o que foi este Movimento?


Leiam agora o texto: "Movimento dos Capitães, pelo Cor Pil Av António Mira Godinho" que o Coronel escreveu e leu, a respeito deste dia, na Escola Secundária de Sines.


O link de acesso está no Nº 2 do Índice que se segue.

O texto vai abrir numa nova página, mantendo-se esta aberta.

Em qualquer altura podem continuar a ler a história nos outros items do Índice. 

É só clicarem para ficarem a saber coisas que poucos sabem...


Sumário dos capítulos desta história: 

1.      O que foi o 25 de Abril de 1974. (Esta história)

2.      O Movimento dos Capitães

3.      Preparativos para o 11 de Março

4.      11 de Março de1975

5.      Fuga para Espanha e Brasil

6.      Preso num Seminário, em Braga

7.      Da prisão à liberdade

8.      Programa do MFA







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